“Guedes teve uma miopia da dimensão da crise”, diz Efraim Filho ao comentar impactos da pandemia

O deputado federal Efraim Filho (DEM) afirmou, nesta sexta-feira (17), que o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve uma “miopia da dimensão da crise” causada pelo novo coronavírus. Líder do partido na Câmara e aliado do presidente da casa legislativa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de quem é colega de bancada, o parlamentar avalia que o governo subestimou, em um primeiro momento, os impactos que a pandemia causaria no país.

Em entrevista às Páginas Amarelas de Veja desta edição, Maia afirmou que a postura do presidente Jair Bolsonaro “de minimizar a pandemia levou a equipe econômica a demorar muito tempo para se convencer de que o impacto seria grande”. A avaliação do presidente da Câmara é endossada por Efraim Filho.

“O ministro Paulo Guedes chegou a dizer que com 5 bilhões de reais conseguiria resolver a crise. No entanto, vimos que, na verdade, ele teve uma miopia sobre a dimensão da crise, teve uma visão de curto alcance, quando o mundo todo já encarava o problema e sabia que ele teria uma outra dimensão. A primeira reação do Ministério da Economia, inclusive, foi fiscalista: foi de reagir à crise com cortes, quando, na verdade, esta crise tem um diferencial e tem que ser enfrentada com investimentos, para manter a economia ativa. Se a economia vier a sucumbir, o custo de reativá-la lá na frente é muito maior. É importante que o governo mantenha o grau de investimento alto”, disse o líder do DEM a VEJA.

A atuação de Guedes à frente do Ministério da Economia é mais um componente da relação conturbada entre Executivo e Legislativo. Na segunda-feira 13, a Câmara dos Deputados aprovou um auxílio fiscal de 89 bilhões de reais a estados e municípios para o enfrentamento da pandemia de coronavírus. A medida gerou reação entre bolsonaristas, que acusam o Congresso de aprovar uma “bomba fiscal” para o governo federal. Nos bastidores, o ministro afirma que pedirá ao presidente que vete o projeto.

Na noite desta quinta-feira 16, em entrevista à emissora CNN Brasil, Bolsonaro disse que Rodrigo Maia não tem se dedicado a “amenizar os problemas”, mas, sim, a “atacar o governo federal”. “Ele quer atacar o governo federal. Parece que a intenção é me tirar do governo”, disse.

Para Efraim Filho, as declarações de Bolsonaro atrapalham a relação entre Legislativo e Executivo. No entanto, o parlamentar ressalta o compromisso do Congresso em aprovar medidas necessárias para conter a crise causada pelo coronavírus. “Temos que ser radicais na necessidade do diálogo, fazer com que os três Poderes sentem na mesma mesa. Estamos muito consumidos pelos extremos, prevalece o nós contra eles, a direita contra a esquerda. A postura de Rodrigo Maia de não jogar gasolina no fogo e de não responder ataques com novos ataques é o clima que precisa existir. Já temos crise econômica, crise na saúde. Se quisermos superar esse momento, é obrigação do Parlamento dizer ‘vieram ataques de lá [do governo], mas vamos deixar isso de lado’”, disse a VEJA.

A crise causada pelo auxílio aprovado a estados e municípios deve-se ao atrito entre Bolsonaro e os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). Para o presidente da República e seus aliados, os chefes do Executivo estadual adotaram medidas drásticas de isolamento social e, diante da queda na arredação, querem transferir o ônus para o governo federal. Segundo Efraim Filho, a politização da crise preocupa o Parlamento.

“A politização da crise preocupa, é a personificação do nós contra eles, indo e vindo. A saída para pacificar o país é entender que ninguém se salva sozinho. É hora de um por todos e todos por um. É preciso abandonar a bandeira do partido e da política. Vamos subir o tom na linha de buscar o diálogo, juntar os cacos, quebrar o retrovisor e parar de olhar para o passado”, avalia.

Da Veja