Medo do medo que dá quando o amanhã é hoje e ontem já deixou de perturbar

A gente cansa. Por mais que busquemos ser positivos, a gente cansa. Levantar diariamente e seguir com os problemas de ontem, os de anteontem e os que ainda surgirão hoje, cansa e muito. Mas, talvez, canse mais porque somos adultos… ou por esperarem de nós a segurança das emoções.

Quando criança, temos um jeitinho bem especial de pedir ajuda: o choro. Sabe aquele medo de nos perdermos dos nossos pais no supermercado? Daí vem o grito, o choro, o berro de ajuda e alguém aparece; quem quer que seja… aparece.

+ Quando a gente se percebe acordado, dormir é apenas mais uma obrigação

Pois bem, demonstrar fraqueza e instabilidade emocional não faz parte do combo ser adulto. Isso significa não colocar em prática tudo que aprendemos, quando crianças, ao berrarmos por ajuda. Com a idade e as responsabilidades, vamos nos guardando em nós mesmos e fingindo que tudo está indo bem.

Bom, bem até chegar em casa e as lágrimas se confundirem com a água do chuveiro, pois é mais fácil chorar escondido do que abrir a ferida das emoções. Como diria Caetano Veloso “eu uso óculos escuros, para as minhas lágrimas esconder” e tenho certeza, caro leitor, que você se identificou completamente com isso. Principalmente, naqueles dias que a janela do ônibus é seu travesseiro e o fone de ouvido é teu martírio tocando as famosas músicas fim-de-feira.

Mas a vida tem disso. Nós crescemos e ninguém durante a infância disse como deveríamos lidar com tanta responsabilidade emocional quando a velhice chegasse. Entretanto, nos informaram o que deveríamos fazer: esconder nossos sentimentos.

Espere lá, não pense que isso é só mais um texto de desabafo meu, não; o problema é tão grande que o Brasil se tornou, o país mais depressivo e ansioso da América-Latina, segundo dados da OMS. O relatório global lançado pela Organização Mundial da Saúde apontou que, no Brasil, a depressão atinge 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população), enquanto distúrbios relacionados à ansiedade afetam mais de 18,6 milhões de brasileiros, o que representa 9,3% da população.

Por vezes, é preciso desabar na própria dor, chorar rios a ponto de soluçar e deixar à mostra a fragilidade que encontra a alma para poder se curar. Não dá para viver em uma luta eterna consigo, engolindo a seco para demonstrar o quão fortes e equilibrados somos. Há situações em que a alma grita e a única forma de conseguirmos a cura é desabando para remontar.

Queremos tanto deixar de sentir, que sentimos demais e não sabemos lidar com tanto. E, digo isso, com minhas cartelinhas de remédio aqui do lado, porque sei o quão difícil é viver um dia de cada vez sem pensar no que será daqui oito dias. Fazer terapia faz parte do processo. E, entenda, cuidar da mente é tipo fazer exame de vista, só que enxergando por dentro.