Baixa adesão e inconsistências: o depoimento da líder bolsonarista sobre atos em João Pessoa

Paraíba Já teve acesso, com exclusividade, ao depoimento de líder do movimento Direita Paraibana, que promoveu atos antidemocráticos e pró-Bolsonaro durante a pandemia

Líderes de movimentos de direita com viés bolsonarista foram intimados a depor na Delegacia Especializada de Repressão ao Crime Organizado, da Polícia Civil. No centro dos depoimentos as manifestações antidemocráticas e em apoio ao presidente Jair Bolsonaro em meio aos decretos estaduais e municipais que proíbem aglomerações, e até mesmo passeatas e carreatas. No dia 14 de maio, quem compareceu foi a líder do Direita Paraibana, Michele Assis para prestar esclarecimentos sobre alguns atos ao delegado Állan Murilo Terruél. Ao que parece, em seu depoimento, que o Paraíba Já teve acesso com exclusividade, teriam inconsistências.

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Inicialmente, ela declara que não sabe dizer quantos integrantes possui o movimento, e confirma a participação do Direita Paraibana numa manifestação do dia 15 de março, que aconteceu com uma carreata terminando com um evento no Busto de Tamandaré e que o evento do dia 24 de abril não ocorreu.

“Independente da publicidade nas redes sociais, há um movimento espontâneo de pessoas que simpatizam com a direita e com o presidente Bolsonaro, de modo que apesar de registrar os eventos nas redes sociais é natural a participação ou não dos integrantes”, versa trecho do depoimento.

“Não há mais de 30 pessoas”

Michele disse à polícia que no dia 3 de maio o movimento participou de um evento em frente ao Grupamento de Engenharia do Exército, em João Pessoa, no qual acredita que cerca de 30 pessoas tenham participado.

Porém, em uma publicação do próprio Direita Paraibana no Instagram é nítido que há mais de 30 pessoas. Inclusive, Michele Assis posa com – visivelmente – mais de 30 pessoas ao fundo em uma foto para publicizar o ato. Além da foto, há um vídeo, também publicado no perfil do movimento, que deixa claro que há mais de 30 pessoas no ato do dia citado.

Confira a publicação (o vídeo está na mesma publicação, basta passar para o lado clicando na seta no centro direito):

https://www.instagram.com/p/B_voiMAJEpZ/?igshid=azgw0hdreljs

Conforme a bolsonarista, durante os eventos “tinha os equipamentos de proteção individual e apenas durante as gravações de áudios e vídeos deixava de utilizá-los”.

“Espontaneamente compareceram aos eventos”

Michele ainda contou em depoimento que nos dias 20, 21 e 22 de abril, acompanhada de mais uma ou duas pessoas esteve novamente em frente ao Grupamento de Engenharia do Exército, e que apesar de ser indicada como líder do movimento, os simpáticos às ideias do Direita Paraibana espontaneamente compareceram aos eventos, de modo que não haveria efetivamente um comando da liderança.

Pode ter existido mais uma vez uma contradição neste trecho depoimento. Já que as redes sociais do Direita Paraibana divulgaram os atos para os dias de 21, 22, 23 e 24 de abril, chegando a classificá-lo como “Encontro de patriotas”. Inclusive, nos comentários da publicação que divulga os atos, há a seguinte interação do perfil do movimento: “Agora às 17h [quando] acabar nosso encontro aqui em frente ao Grupamento de Engenharia, faremos um buzinaço aqui na Avenida Epitácio Pessoa. Venham”.

https://www.instagram.com/p/B_OTk4_JV_D/?igshid=etmjp1m2oivj

Por mais que promova, instigue e publicize, Michele relatou que é “particular e pessoal a preocupação dos participantes com as questões de proteção individual em relação à pandemia”. Além disso, disse que não há aglomerações, somente no momento de registros fotográficos.

A líder do Direita Paraibana já foi atendida pelo serviço de saúde e realizou o teste para Covid-19. O resultado foi negativo, de acordo com ela.

Michele afirmou que sua detenção no dia 1º de maio, quando foi levada à delegacia por descumprir o decreto estadual e municipal que prevê isolamento social, além de estar transitando com veículo irregular, foi “abuso de autoridade”. Ela diz ainda que se sentiu constrangida com a detenção, que durou aproximadamente quatro horas.

Movimento promoveria ação social, mas não tem como provar

Indagada por um de seus advogados, a bolsonarista ainda comentou que o movimento promove assistência social, porém não tem registros formais que comprovem essas ações em prol da população.

Em outra indagação, feita por outro advogado de defesa, ela revela que é a primeira vez, desde 2014 quando surgiu o Direita Paraibana, que é intimada para prestar esclarecimentos sobre as atividades ligadas ao movimento.

Sem relação política, mas nem tanto

Por fim, Michele Assis esclareceu no depoimento que “o movimento Direita Paraibana é independente de políticos, inclusive nunca foi comissionada em alguma assessoria ou gabinete de políticos”.

Apesar da declaração, Michele participou do evento de lançamento do partido Aliança pelo Brasil, sigla criada pelo presidente Jair Bolsonaro, no começo deste ano. Além de ter feito o movimento que lidera apoiar o deputado estadual Wallber Virgulino (Patriota) nas eleições 2018, e já ter realizado convocação para filiação ao Patriota.

Ela também já se declarou pré-candidata a vereadora de João Pessoa nas eleições 2020, pelo Patriota, partido de Wallber.