Análise: Que onda é essa que vem chegando?

*Por Ednaldo Costa

Ao longo de diversas campanhas eleitorais em que trabalhei ao lado de importantes nomes do marketing, da estatística, das ciências sociais e da criação, eu aprendi a ler pesquisas quantitativas para além dos números e, muito embora ainda não tenha o detalhamento dos dados desta última pesquisa eleitoral realizada pela Record/Real Big Data para o Governo da Paraíba e Senado, divulgada nesta segunda-feira (19), já dá para tecer uma análise básica sobre o que ela projeta e perceber que não será nada estranho se o atual governador, João Azevêdo (PSB), candidato à reeleição, vier a vencer no primeiro turno e levar a candidata ao Senado, Pollyanna Dutra (também do PSB) a ultrapassar o candidato do centrão, Efraim Morais (União Brasil), com folga.

Em um cenário apresentado pela pesquisa, que exclui a candidatura barrada pela Justiça   Eleitoral do ex-governador Ricardo Coutinho (PT), considerado inelegível por condenação colegiada, a candidatura de Pollyanna ao Senado (que até agosto sequer era candidata), avançou entre as últimas aferições, de 3 para 8%, e agora saltou de 8% para 16%, estando em empate técnico – dentro da margem de erro de 3% – com o candidato Efraim, que vem em campanha desde 2019 e só soma 20% das intenções de voto.

É só olhar o gráfico de crescimento para deduzir que, mantido esse ritmo acelerado de crescimento da aceitação do nome de Pollyana entre o eleitorado paraibano (principalmente entre as mulheres), ela deve ultrapassar seu adversário logo, como que em uma onda que, ao contrário de sair do mar para a terra, parece vir lá do Sertão (de one ela veio), contagiando a Paraíba, sem nenhum dique que a contenha.

E essa minha impressão não é só baseada na pesquisa. Saber ouvir o que se fala nas ruas é também um importante termômetro e não foram poucas as pessoas que se dirigiram a mim para perguntar quem é essa “Pollyanna” e, depois de alguns minutos de conversa, declararem, despretensiosamente, que pensavam em votar nela.

Eu viajo muito pela Paraíba nos fins de semana, tenho familiares e amigos espalhados por vários municípios do interior, frequento diversos ambientes (desde a feira de Oitozeiro até o salão nobre do Altiplanos), tenho contatos telefônicos diários com diversos candidatos e candidatas, e escuto com atenção as vozes de jornalistas políticos, amigos que trabalham com marketing eleitoral e, para não ser levado a erro, faço a contraprova de minhas deduções nas ruas, conversando com cidadãos comuns na fila do supermercado, com o flanelinha da praça, no balcão da peixaria, na ante-sala de uma audiência…e os sinais apontam para um afunilamento entre João x oposição, como se o segundo turno que está sendo antecipado para presidente logo no primeiro turno (o voto útil contra o inútil) também estivesse se reproduzindo na média do eleitorado nesta eleição estadual paraibana.

A análise realizada por alguns comentaristas políticos de que os 25 a 30% do voto Bolsonarista na Paraíba iria por gravidade para o também bolsonarista Nilvan Ferreira (PL) não bate. Tem voto bolsonarista espalhado em todas as candidaturas, com o cassismo sugando dessa veia em Campina Grande para Pedro Cunha Lima (PSDB); o suplente de senador, Ney Suassuna, garimpando seu mandato com o voto de alguns pastores para Veneziano Vital do Rêgo (MDB); e parcela menos radical votando também com João Azevêdo, em quem enxergam um quadro técnico e não um político.

Da mesma forma, o apoio de Lula a Veneziano não teve o efeito de catapultar o ‘cabeludo’ para a primeira fila, como era esperado pelo seu staff de campanha do emedebista. Claro que somou para ele não derreter no início da campanha, mas agora dá sinais de que bateu no teto, semelhante ao que já ocorreu em outras eleições paraibanas, como quando o Antônio Lavareda, marqueteiro do saudoso José Maranhão (PMDB), fez Lula de cabo eleitoral 24 horas por dia e deu com os burros n’água na abertura das urnas daquele ano.

Há também o ingrediente de que o não crescimento de Veneziano, acompanhando os quase 70% de eleitores lulistas na Paraíba, deriva em parte do efeito do voto de Veneziano favorável ao impeachement da presidenta Dilma Roussef (o que não agrada o PT militante), enquanto parte do eleitor lulista também enxerga em João um aliado do petista e não um adversário.

Se João fosse um anti-lula, seria fácil para o ‘cabeludo’ – como era conhecido o Veneziano – grudar na onda nacional e voar alto, mas como João vota e declara publicamente esse voto em Lula/Alckimin (semelhante ao que acontece com Marília Arraes no vizinho Pernambuco), esse palanque paraibano tem duas passarelas e o eleitor enxerga as duas sem nenhum atrito nacional.

Além dessa aceitação natural de João pelo eleitorado lulista, ele segue para reeleição com um governo bem avaliado, tem o apoio do prefeito da Capital, Cícero Lucena (PP) – que é um plus que outros candidatos ao governo estadual não tinham em eleições passadas -, a adesão de mais de 150 dos 223 municípios, de grande parte de deputados e vereadores, e as seguidas pesquisas retratam um crescimento lento e gradual de sua votação desde que começou a campanha, sem nenhum retrocesso.

Pollyanna, que foi a primeira prefeita eleita pelo PT na Paraíba, com uma longa convivência com Lula, pioneira em implantar vários projetos dos governos petistas em sua cidade e em defendê-los até perante a ONU, também navega bem nestas águas.

Resultado: o vento que está soprando nacionalmente nas velas do barco de Lula (para liquidar a fatura no primeiro turno) parece ser o mesmo vento que sopra na Paraíba às velas do barco de João… e Pollyanna está singrando este mares no mesmo barco.

Claro que só o vento não garante a travessia segura, é preciso remar com força neste últimos 13 dias e aproveitar que a correnteza está boa para navegar.

É o que eu enxergo de meu cantinho do mundo.

*Jornalista