Wellington Farias, o ‘Língua de Tesoura’ do imenso coração de ouro

Não há dúvidas de que Wellington Farias tinha um temperamento difícil, mas também não se pode negar que o seu coração era maior do que ele mesmo. Escolho essas palavras para iniciar este artigo, porque Wellington e eu compartilhamos uma amizade sincera, baseada na compreensão mútua e no debate sobre o futuro do jornalismo.

Quando eu estava começando na profissão, tive a sorte de estagiar no jornal Já e, ocasionalmente, também escrever algumas matérias para o Correio da Paraíba. Os dois jornais funcionavam na mesma redação. Foi lá que conheci Wellington Farias, que brilhava no Correio Debate com sua voz marcante e suas opiniões contundentes. Posso afirmar que ele foi um dos poucos que teve compaixão com a estagiária. Sempre que tinha tempo, lia as minhas tentativas de textos jornalísticos e me dava feedbacks construtivos.

Ele foi um mestre para mim. Desde aquela época, sou eternamente grata por sua generosidade. Ele percebia que eu estava ali para aprender. Me ensinava como me portar no meio, como buscar a verdade, como desenvolver o tal “faro” jornalístico.

Mas o que mais me encantava em Wellington era a forma como ele falava da sua família e das suas origens. Em nossas conversas, Eloíse era uma espécie de deusa. Ele a amava com devoção. Me contou inúmeras vezes como foi que a encontrou e como os dois decidiram caminhar juntos pela vida. Falava dos filhos Pablo e Vanine, do enteado Djair, que ele considerava como filho.

Uma vez fui à Serraria a convite dele. Fiquei maravilhada com a sua biblioteca. Confesso, não gosto de interior, muito mato, muita natureza ao meu redor. Lugares sem sinal de wi-fi. Mas ali era o refúgio de Wellington. Diante daquelas estantes, ele me mostrava edições de Cem Anos de Solidão, Dom Quixote. Ele queria aprender espanhol, tinha vontade de ler essas obras no original.

Tocava violão como ninguém. Eu queria aprender, pedia para que me ensinasse como ele ensinava aos meninos de Serraria com seu projeto social. Comigo ele nunca teve paciência. Mas com aquelas crianças, ele tinha mais do que isso: orgulho. E ainda tocava sax… Era um artista. Wellington tinha um gosto musical tão singular que não consigo pensar em outra pessoa que tivesse um vinil do Sociedade dos Poetas Putos, obra do Carlos Aranha. E ele tinha lá no acervo dele.

Apesar de termos perdido o contato diário com o passar dos anos, sempre mantive o respeito e a gratidão por tudo. Nas nossas últimas interações, nos últimos meses, sempre me dava os conselhos mais apocalípticos. Eu sei que todos eram para o meu bem.

Mas, Wellington, meu amigo, ainda é muito cedo para dizer adeus.