Uma refinaria de imagens sobre Piancó.
Áurea Cristina Barros é uma paraibana da gema. Uma alma sertaneja cheia de sensibilidade. Inteligente, culta, perspicaz. Nasceu em Piancó e mora em Piancó. Uma cidade que é, na verdade, um resumo do Sertão nordestino. Um laboratório de experiência históricas, como a Coluna Prestes. Cidade onde predomina um povo lindo, mas historicamente oprimido, dominado por uma mórbida classe política. Espírito crítico e alma abarrotada de espantos, Áurea sabe o chão que pisa. Rasga e costura suas próprias tempestades. Reconhece e quantifica as mazelas e as belezas imperativas do Vale do Piancó. Mesmo nas maiores estiagens, ela nos faz perceber o quanto de delicadeza há na aridez da terra e na resistência dos pássaros.
Intelectual refinada, Áurea é leitora do que há de mais denso na literatura universal. Portanto, está apta a observar sua aldeia. Conhece e reconhece a grandeza e a pequenez da existência humana. Por isso mesmo, mistura sua existência no que há de mais denso. Captura imagens com a sensibilidade das almas povoadas por imensidões. Traduz o Sertão com o talento dos mais raros observadores. Nas suas filigranas. Nos seus imperceptíveis cangaços. Vai buscar a beleza onde a beleza se esconde. No mandacaru que floresce. Nas aves que rareiam a cada voo. Nas pessoas que caminham ou cavalgam apressadas no sol causticante do Vale.
Quando aponta sua lente, alimenta o disparo do click com a refinaria das suas emoções. Atenta às invisibilidades, não revela nem esconde. Apenas define o horizonte da sua mirada. Feito gavião que atravessa o mirante de Santo Antônio em busca do dia seguinte. É certeira. Não erra o bote. Não perde a caça. Quando a imagem escapa, a certeza muda o foco. Assim, foi colecionando preciosidades. Ousada. Experimental. Exata. Colhe os frutos de uma técnica apurada, claro. Mas, sobretudo, de um mergulho nas oceanias da sua própria inquietude.
A sua exposição, “Sertão Perene” é uma provocação. Um tapa na venta do marasmo. Seja dos que condenam o semiárido ao descaso. Seja dos que buscam extrair dividendos da miséria humana. Mais que isso, a exposição de Áurea é um soco no estômago da mediocridade. Para que os canalhas se sintam canalhas. Para que as criaturas preciosas que existem, não se sintam tão solitárias. Áurea subiu a ladeira, como diria o amigo João Leite, atravessou a Serra de Santa Luzia, cruzou a Praça do Meio do Mundo e chegou no espaço expositivo Alice Vinagre. Um universo criado pelo artista visual Edilson Parra para as artes emergentes da Paraíba. Sua exposição está lá, no mezanino 2 do Espaço Cultural José Lins do Rego. Não espere. A generosidade de Áurea Barros está exposta. É pura arte. Sim, é arte. É Piancó na veia, nego. O sertão vai vir amar.