Secretário de Defesa Social de PE deixa cargo após violência da PM em protesto

Antônio de Pádua deixou o cargo de secretário de Defesa Social, nesta sexta-feira (4), seis dias depois de uma repressão violenta da Polícia Militar que deixou pessoas feridas durante um protesto pacífico contra Bolsonaro (sem partido), ocorrido no sábado (29), no Centro do Recife.

Após repercussão negativa da conduta violenta da tropa, Pádua colocou o cargo à disposição no início da tarde desta sexta-feira (4), seis dias após a ação truculenta dos policias na manifestação, com disparos de bala de borracha e gás lacrimogêneo.

O governador Paulo Câmara (PSB) aceitou e nomeou o então secretário executivo, Humberto Freire, para assumir a secretaria. Na nota, o governador também disse que os protocolos precisam ser revistos “para que um comando de tropa na rua não possa se sentir autônomo a ponto de agir da maneira que agiu”.

Na terça-feira (1º), o então comandante da Polícia Militar, coronel Vanildo Maranhão, pediu exoneração. Ele foi substituído pelo coronel Roberto Santana, empossado nesta sexta-feira (4).

Antes de sair do governo, Pádua esteve, na terça-feira (1º), na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) para participar de uma reunião na Comissão de Direitos Humanos, mas saiu sem falar com a imprensa.

A primeira entrevista dele após a repressão da PM ao ato ocorreu na quinta-feira (3). Ao NE1, Pádua falou sobre “a possibilidade, uma hipótese levantada pelo próprio comandante operacional, de que essa ordem teria partido diretamente do campo”.

O Ministério Público do estado disse que alertou o secretário para que orientasse a PM a “evitar eventuais excessos” no protesto, dois dias antes da realização da manifestação.

Por meio de nota, o governador agradeceu Antônio de Pádua pelo seu trabalho em defesa do Pacto pela Vida nesses quatro anos. Ele também ressaltou que a determinação dada ao novo secretário e ao novo comandante da PM é que o episódio do sábado (29) “nunca se repita”.

Delegado da Polícia Federal, Antônio de Pádua estava à frente da Secretaria de Defesa Social desde 1º de julho de 2017. O novo secretário, Humberto Freire, também é delegado federal e fazia parte da equipe de Pádua desde o início da gestão.

Resposta de Pádua

Por meio de nota, Pádua afirmou que “os fatos ocorridos no último sábado foram graves e precisam ser investigados de forma ampla e irrestrita”. Também declarou que sua “formação profissional e humanística repudia, de forma veemente, a maneira como aquela ação foi executada”.

PMs atiraram balas de borracha e gás lacrimogêneo contra participantes de protesto contra Bolsonaro no Recife — Foto: Agência JCMazella/Sintepe/Divulgação

PMs atiraram balas de borracha e gás lacrimogêneo contra participantes de protesto contra Bolsonaro no Recife — Foto: Agência JCMazella/Sintepe/Divulgação

No texto, ele contou que entregou o cargo ao governador “com a certeza do dever cumprido e mantendo nosso compromisso com a transparência e o devido processo legal”. Além disso, agradeceu “a toda a equipe da SDS e dos órgãos operativos que compõem a secretaria, aos colegas do governo e, principalmente, ao governador pelo apoio no trabalho desenvolvido ao longo desses quatro anos”.

Também no comunicado, afirmou que teve a “gestão mais duradoura na trajetória desta secretaria” e que colaborou “com a expansão e qualificação de unidades e serviços de segurança, a ampliação dos recursos humanos e, principalmente, com a redução da violência em Pernambuco, que chegou em maio ao 5º mês consecutivo de retração dos crimes contra a vida”.

Pádua declarou, ainda, que o seu “ciclo à frente da SDS está completo”. “Jamais deixei de assumir minhas responsabilidades, enquanto coordenador das forças de segurança, mas também, como gestor e servidor público, tenho a plena consciência de que as instituições são mais importantes que as pessoas. E devem seguir, cada vez mais fortes e sintonizadas com os anseios de todos”, falou.

No fim da nota, ele disse que encerra os “trabalhos neste cargo com a tranquilidade do dever cumprido e com a certeza de que a política pública de segurança do Estado seguirá vitoriosa, sendo uma prioridade da gestão. Mais uma vez, obrigado a todos pela inestimável colaboração que tive”.

Repressão violenta e repercussão

A ação truculenta da PM resultou na perda da visão de dois homens que não participam do protesto pacífico. O adesivador de táxis Daniel Campelo, de 51 anos, perdeu o olho esquerdo após ser atingido por uma bala de borracha. Policiais negaram o pedido de socorro feito por ele. O outro ferido foi o arrumador de contêineres Jonas Correia, de 29 anos.

Durante a manifestação, a vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida por spray de pimenta no rosto. O cantor Afroito foi preso durante o ato e disse que temeu ser sufocado. Um advogado foi atingido por quatro balas de borracha disparadas pelos policiais.

Governo e investigação

No sábado (29), o governador afastou o comandante da ação e policiais envolvidos na agressão à vereadora. Inquéritos foram abertos para apurar a conduta dos policiais. São investigados, até o momento, um major, um capitão, um tenente, dois sargentos e três soldados.

A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social investiga a omissão de socorro a Daniel Campelo. Além disso, o Ministério Público de Pernambuco abriu um inquérito civil sobre a ação truculenta da PM. O policial responsável pelo tiro que atingiu Jonas Correia foi afastado disciplinarmente pela Corregedoria.

Na segunda-feira (31), o secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, disse que “não há uma Polícia Militar paralela em Pernambuco”.

Na quarta-feira (2), Paulo Câmara deu a primeira entrevista após a repressão policial ao protesto pacífico. Ao vivo no NE1, ele afirmou que a ordem para atirar em manifestantes não partiu da cúpula do governo.

Integrantes de movimentos sociais assinaram um documento conjunto que comunica a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a violenta repressão policial ao protesto pacífico, com o pedido de que a investigação do caso seja monitorada internacionalmente.

Do G1.