O pré-candidato a vereador de Curral de Cima, Guilherminho Soares, foi preso recentemente pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) por estar dirigindo um carro roubado apontado como pertencente a uma empresa fornecedora da gestão do prefeito Totó Ribeiro na Prefeitura de Curral de Cima. O caso foi registrado em março deste ano, e o Paraíba Já teve acesso a documentos comprobatórios com exclusividade. Guilherme Soares Filho já havia sido preso em 2016 por ser mentor de um sequestro contra um empresário em Lagoa de Dentro, inclusive, com ordens para torturá-lo.
Guilherminho Soares, que é pré-candidato com apoio do prefeito Totó Ribeiro, foi abordado no dia 8 de março deste ano, nas imediações do km 50 da BR-101, no município de Capim. O veículo, uma Saveiro RB, estava com restrição de furto proveniente de Minas Gerais, conforme narrativa oficial da PRF. “Conduzia o veículo o sr. Guilherme do Nascimento Soares Filho. […] Após consulta de estilo, foi identificada uma ocorrência de furto sobre o veículo, lavrada diante da Polícia Judiciária do Estado de Minas Gerais, em 11/01/2024″, diz trecho do documento da PRF.
Ainda de acordo com a PRF, Guilherme do Nascimento Soares Filho relatou que o “veículo seria da empresa Viegas Autopeças e que o estava utilizando para transportar pneus a serem utilizados na Prefeitura de Curral de Cima, por orientação do Milton Viegas, proprietário daquele estabelecimento”. Ele foi conduzido para a delegacia de Polícia Civil de Mamanguape.
Depoimento enganoso
À polícia, Guilherminho informou que seria servidor comissionado da Prefeitura de Curral de Cima. Entretanto, ele não consta na folha de pessoal da edilidade. O prefeito Totó Ribeiro paga pelos serviços de motorista dele, realizados junto à Secretaria de Saúde, através de empenhos. O salário dele é de R$ 1,6 mil, conforme o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB). Neste ano, ele já recebeu R$ 6,4 mil.
De acordo com advogado consultado pelo Paraíba Já, pagamento de pessoa física de forma recorrente através de empenho é entendido como forma de driblar os órgãos de controle.
O veículo foi recuperado pelo proprietário mineiro em abril deste ano, segundo documentos da Polícia Civil.
Denúncia do MP e audiência marcada
O Ministério Público da Paraíba (MPPB), através da Promotoria de Mamanguape, denunciou Guilherme do Nascimento Soares Filho por receptação culposa. A ação foi movida pela promotora Artemise Leal Silva.
Uma audiência sobre o caso está marcada para o dia 4 de setembro deste ano, a partir das 8h30.
Em sendo candidato a vereador nas Eleições 2024, Guilherminho Soares terá que comparecer na audiência em meio à campanha eleitoral.
Fornecedora milionária
A Viegas Autopeças, citada por Guilherminho como dona do veículo roubado que ele conduzia, é fornecedora da gestão de Totó Ribeiro em Curral de Cima, e já recebeu mais de R$ 1,2 milhão em pagamentos da Prefeitura.
Somente neste ano, a marca já recebeu mais de R$ 22 mil. Em 2023, a empresa embolsou mais de R$ 182,2 mil; enquanto no ano de 2022 o estabelecimento, sob descrição do nome do proprietário, colocou no bolso mais de R$ 336,6 mil. Em 2021, a Viegas Autopeças, antes inscrita como Milton Viegas – também identificado no depoimento do pré-candidato -, recebeu mais de 205,1 mil, e mais R$ 153 mil no ano de 2020.
Mais de R$ 162,4 mil foi o valor pago pela gestão de Totó Ribeiro para Milton Viegas no ano de 2019. Já no ano anterior, em 2018, a empresa embolsou mais de R$ 146,5 mil. Os dados são do TCE-PB.
Mentor de sequestro com ordem de tortura
Guilherminho Soares, filho do ex-prefeito de Mamanguape Guilherme Soares, foi preso por ser mentor de um sequestro a um empresário em Lagoa de Dentro no ano de 2016. De acordo com as investigações policiais, o grupo de nove pessoas foi preso com armas – entre elas uma submetralhadora -, munições, cordas e uma bíblia, que seria usada no disfarce de um dos criminosos que se passaria por um pastor para entrar na casa da vítima.
“Esse sequestro com cárcere privado e assalto estava planejado para uma terça a noite, e como existia apenas uma arma de fogo o mentor [Guilherme] queria fazer de todas as formas e sugeriu que eles usassem de tortura para convencer a vítima a dizer onde se encontrava os valores a serem roubados”, afirmou delegado Walter Brandão à época.
Conforme o delegado Wender Borges, o atual pré-candidato chegou a garantir para membros do grupo criminoso que com sua influência iria livrá-los de serem presos pelo crime.
“Pelo fato de se achar uma pessoa bem posicionada na sociedade, achava que tinha alguma forma de manipulação até na polícia, e mecanismos de isenção para outros membros do grupo. Ele chegou a assegurar que não se preocupassem, que os membros não seriam pegos pela polícia”, disse o delegado Wender Borges.
De acordo com os delegados, os presos responderam pelos crimes de associação criminosa, tentativa de sequestro e cárcere privado, além de roubo. O grupo foi encaminhado para presídios do estado.