PF revela qual núcleo paraibano integrava no plano golpista de Bolsonaro

Segundo relatório de investigação, grupos tinham funções distintas na preparação para organizar a tentativa de um golpe de Estado

Relatório da Polícia Federal que embasou a operação desta quinta-feira (8) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ex-ministros do governo dele, ex-assessores e militares, afirma que o grupo agia em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado. É que o revela reportagem publicada pelo G1.

Com base no relatório da PF, a reportagem revela que o paraibano Tércio Arnaud Tomaz, que teve o aparelho celular apreendido na operação desta quinta, integrava o núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral.

Além de Tércio, integravam esse núcleo Mauro César Barbosa Cid, Anderson Torres, Angelo Martins Denicoli, Fernando Cerimedo, Eder Lindsay Magalhães Balbino, Hélio Ferreira Lima, Guilherme Marques Almeida e Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros.

A Polícia Federal afirma no relatório que o objetivo do núcleo ao qual Tércio Arnaud integrava era estimular seguidores a permanecerem na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o Golpe de Estado.

Além de ser um dos principais assessores do então presidente Jair Bolsonaro, Tércio Arnaud disputou as eleições de 2022 na Paraíba na condição de primeiro suplente de senador de Bruno Roberto (PL).

Clique aqui ou leia abaixo a reportagem completa no G1.

PF diz que Bolsonaro, ex-ministros e militares se dividiram em seis núcleos para tentar golpe de Estado; entenda

O relatório da Polícia Federal que embasou a operação desta quinta-feira (8) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ex-ministros do governo dele e militares, afirma que o grupo agia em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado (veja detalhes abaixo).

Ao todo, foram expedidos 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva. Há ainda medidas cautelares, como proibição de contatos entre os investigados, retenção de passaportes e destituição de cargos públicos.

Segundo a investigação, o grupo se dividia da seguinte forma:

  • Núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral;
  • Núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado;
  • Núcleo jurídico;
  • Núcleo operacional de apoio às ações golpistas;
  • Núcleo de inteligência paralela
  • Núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos.

Entenda os núcleos

Núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral:

A investigação afirma que o grupo seria responsável pela produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto à lisura das eleições presidenciais de 2022.

A PF afirma que o objetivo era estimular seguidores a permanecerem na frente de quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o Golpe de Estado.

Integrantes, segundo a PF: Mauro César Barbosa Cid, Anderson Torres, Angelo Martins Denicoli, Fernando Cerimedo, Eder Lindsay Magalhães Balbino, Hélio Ferreira Lima, Guilherme Marques Almeida, Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros e Tércio Arnaud Tomaz.

Núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado:

De acordo com a PF, o grupo escolhia alvos para amplificar ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investigadas golpistas.

O relatório afirma que os ataques eram realizados a partir da difusão em múltiplos canais, e através de influenciadores em posição de autoridade perante a “audiência” militar.

Integrantes, segundo a PF: Walter Souza Braga Netto, Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, Ailton Gonçalves Moraes Barros, Bernardo Romão Corrêa Netto e Mauro Cesar Barbosa Cid.

Núcleo jurídico:

As investigações afirmam que o grupo era responsável por fundamentar juridicamente e elaborar minutas de decretos que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado.

Integrantes, segundo a PF: Filipe Garcia Martins Pereira, Anderson Gustavo Torres, Amauri Feres Saad, José Eduardo de Oliveira e Silva e Mauro César Barbosa Cid.

Núcleo operacional de apoio às ações golpistas:

Segundo a PF, a partir da coordenação e interlocução com o então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro Mauro Cid, esse núcleo atuava em reuniões de planejamento e execução de medidas para manter as manifestações em frente aos quarteis, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das Forças Especiais em Brasília.

Integrantes, segundo a PF: Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, Bernardo Romão Corrêa Netto, Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Alex de Araújo Rodrigues e Cleverson Ney Magalhães.

Núcleo de inteligência paralela:

A PF diz que esse núcleo coletava dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões do então presidente Jair Bolsonaro na consumação do Golpe de Estado.

Entre as medidas realizadas, segundo a investigação, estava o monitoramento do itinerário, deslocamento e localização do ministro do STF Alexandre de Moraes, e de possíveis outras autoridades da República, com objetivo de capturá-los e prendê-los quando da assinatura do decreto de golpe de Estado.

Integrantes, segundo a PF: Augusto Heleno, Marcelo Costa Câmara e Mauro César Barbosa Cid.

Núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos:

O relatório da PF afirma que o grupo usava da alta patente militar de seus integrantes para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação, endossando medidas para consumação do golpe de Estado.

Integrantes, segundo a PF: Walter Souza Braga Netto, Almir Garnier Santos, Mario Fernandes, Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, Laércio Vergílio e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Operação da PF

A operação desta quinta foi chamada pela Polícia Federal de “Tempus Veritatis” – “hora da verdade”, em latim.

A ação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Na decisão, ele determinou a entrega do passaporte de Bolsonaro e o proibiu de manter contato com outros investigados.

Foram presos nesta manhã:

  • Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro;
  • Marcelo Câmara, coronel da reserva do Exército citado em investigações como a dos presentes oficiais vendidos pela gestão Bolsonaro e a das supostas fraudes nos cartões de vacina da família Bolsonaro;
  • Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército.

O coronel do Exército Bernardo Romão Corrêa Netto, alvo do quarto mandado, não foi detido porque está nos Estados Unidos. O mandado de prisão será enviado ao Exército para que notifique o militar.

Os mandados de busca e apreensão atingem:

  • Valdemar Costa Neto, presidente do PL – partido pelo qual Bolsonaro disputou a reeleição;
  • Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro em 2022;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública;
  • general Paulo Sérgio Nogueira, ex-comandante do Exército;
  • almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha;
  • general Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército;
  • Tércio Arnaud Thomaz, ex-assessor de Bolsonaro e considerado um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”;
  • Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro;
  • Marcelo Câmara, coronel do Exército citado em investigações como a dos presentes oficiais vendidos pela gestão Bolsonaro e a das supostas fraudes nos cartões de vacina da família Bolsonaro;
  • Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército.
  • Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do Exército;
  • Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão reformado do Exército expulso após punições disciplinares;
  • Amauri Feres Saad, advogado citado na CPI dos Atos Golpistas como “mentor intelectual” da minuta do golpe encontrada com Anderson Torres;
  • Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército que chegou a ocupar cargo de direção no Ministério da Saúde na gestão Eduardo Pazuello;
  • Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres;
  • Eder Lindsay Magalhães Balbino, empresário que teria ajudado a montar falso dossiê apontando fraude nas urnas eletrônicas;
  • Guilherme Marques Almeida, coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres;
  • Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército identificado em trocas de mensagens com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Barbosa Cid;
  • José Eduardo de Oliveira e Silva, padre da diocese de Osasco;
  • Laércio Virgílio;
  • Mario Fernandes, comandante que ocupou cargos na Secretaria-Geral e era tido como homem de confiança de Bolsonaro;
  • Ronald Ferreira de Araújo Júnior, oficial do Exército;
  • Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, major do Exército.

Segundo a PF, mandados foram cumpridos em Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e Distrito Federal.