Com alta dos preços das carnes, frangos e gêneros alimentícios, a população está buscando formas de substituir os itens que estão pesando cada vez mais na cesta básica. O motorista Misael Monteiro, morador de João Pessoa, em entrevista ao Paraíba Já, nesta terça-feira (19), relatou as dificuldades para manter a família e disse: “estamos sobrevivendo e não vivendo”.

Misael precisou fazer mudanças “radicais” nas compras do mês. Um dos itens que não faz mais parte do cardápio da família é a carne, de acordo com Misael o produto foi substituído por frango, linguiça e ovos.

“Carne? Já faz tempo que não compro, estou comprando muito frango e linguiça, troquei presunto por mortadela. Queijo, não sinto nem o cheiro. Ovos, estou comprando três bandejas por mês”.

Misael é morador de João Pessoa e culpou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelas dificuldades que as famílias vêm enfrentando para se alimentar. “Esse capitão de m…[o presidente] está lascando só nós, os pequenos”. 

A engenheira de dados Virgínia Nobrega, também vem sentindo o impacto nos preços dos produtos na hora das compras. Virgínia descreveu como tem sido as escolhas das mercadorias no supermercado: “mudamos, optando pela diminuição dos itens e trocando por marcas centavos mais em conta”. As proteínas utilizadas para as refeições da família são carne moída “para render mais”, frango e ovos.

Para Alfredo Cantalice, 35 anos, que é professor e músico, o cenário não é muito diferente. ele disse que aumentou o consumo de embutidos e adotou a “estratégia de comprar sempre a carne promocional e mandar moer para tentar aumentar seu rendimento e industrializados congelados, quando em promoção”. O músico também riscou da lista de compras a cervejinha e outras bebidas alcoólicas.

“Carne? só por foto”, disse Leila de Oliveira que contou que vem usando a criatividade na hora de cozinhar, inserido “omelete, torta, tudo recheado com verduras, sardinha e enlatados” no cardápio da família.

Antes do aumento das carnes, Leila disse que o prato preferido da família era cupim. “Eu adorava fazer cupim assada na panela de pressão, hoje está em R$ 39,00”. Leila usou o bom humor para descrever a situação atual: “acho que vou catar os cupins na madeira”.

João Wanderley adotou um cardápio com picado de bode e miúdo de galinha, mas reclamou que os itens também têm subido de preço. “Picado de bode era R$ 11,00, agora e R$ 18,00”. João também falou sobre sua insatisfação com o preço do fígado: “antes era R$ 7,00, agora é R$ 15,16”.

Mudanças de hábitos alimentares

Refletindo o cenário relatado por Misael, o internauta Fernando Domingos compartilhou em seu Instagram uma foto de promoção de ‘pés de galinha’ em um supermercado de João Pessoa, nesta segunda-feira (18). A postagem foi repercutida por seus seguidores, que disseram que a venda do item é reflexo da crise que muitos paraibanos vem enfrentando nos últimos meses. 

O produto, antes dispensado por muitos na hora de separar as partes do frango, agora está à venda em um supermercado de um bairro de classe média da Capital. Um dos internautas respondeu na postagem, afirmando que pouco tempo depois da divulgação da promoção, a bandeja com os pés de galinha estava vazia.

Em reflexão a postagem, outro internauta fez uma observação sobre o quanto a “promoção” reflete “o descaso, desrespeito e construção de uma sociedade que tem como tônica a falta, a injustiça e a desumanização”.

Outras pessoas relataram que “tem sido cada dia mais difícil ir ao supermercado” e se compadeceram com a situação de muitos, que nem o mínimo para se manter conseguem comprar. 

Veja postagem

Valor da cesta básica em João Pessoa

Conforme informações do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a cesta básica em João Pessoa teve um aumento de 2,91% em setembro. A pesquisa é realizada mensalmente pelo órgão e constatou que entre as capitais do Norte e Nordeste, João Pessoa apresentou o segundo menor curso (R$ 476,63).

Os dados apontam também que para ter o valor para comprar uma cesta básica em João Pessoa, é preciso trabalhar 95 horas e 20 minutos.

Ainda de acordo com Dieese, os itens que mais tiveram aumento na Capital em setembro, em relação a agosto, foram: café (6,55%); leite (2,55%); óleo (1,92%); pão (1,45%); manteiga (1,03%); feijão (0,87%); açúcar (0,81%); banana (0,64%) e carne (0,21%).