Paraibano Tércio Arnaud estaria por trás da live de argentino contra urnas, aponta PF

Alvo de busca e apreensão em fevereiro, ex-assessor de Bolsonaro deixou digitais na campanha de desinformação contra as urnas eletrônicas na nuvem

PF revela qual núcleo paraibano integrava no plano golpista de Bolsonaro
(Foto: Reprodução)

O paraibano Tércio Arnaud, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria por trás da live do extremista de direita argentino e consultor político Fernando Cerimedo que propagou informações falsas sobre as eleições brasileiras em 2022. A Polícia Federal encontrou provas na nuvem que relacionam a articulação para o discurso contra a democracia no Brasil.

Informação foi publicada nesta segunda-feira (18) pelo ICL Notícias.

De acordo com a publicação, alvo de busca e apreensão da PF em fevereiro, Arnaud deixou digitais na campanha de desinformação contra as urnas eletrônicas. Em interrogatório realizado em 22 de fevereiro, a PF indica que Arnaud foi um dos articuladores da live do consultor político Fernando Cerimedo, expoente da extrema-direita argentina, que divulgou informações falsas contra o sistema eleitoral.

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Uma pasta de armazenamento de arquivos na nuvem fez a Polícia Federal investigar a relação entre uma live de um extremista de direita argentino com informações falsas sobre as eleições brasileiras, uma auditoria contratada pelo PL para o mesmo fim e um documento endereçado ao então ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira. A digital em comum nos três trabalhos de desinformação é de um dos integrantes do “Gabinete do ódio”. A linha de investigação é perceptível tanto no relatório da PF ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), como nos depoimentos dos investigados.

Alvo de busca e apreensão da PF em fevereiro, Arnaud deixou digitais na campanha de desinformação contra as urnas eletrônicas. Em interrogatório realizado em 22 de fevereiro, a PF indica que Arnaud foi um dos articuladores da live do consultor político Fernando Cerimedo, expoente da extrema-direita argentina, que divulgou informações falsas contra o sistema eleitoral.

Para as autoridades, a escolha do argentino para atacar a credibilidade da eleição presidencial tinha como objetivo driblar as decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que determinou a retirada de diversas notícias falsas contra as urnas.

A live de Cerimedo, realizada em 4 de novembro de 2022, durou 1 hora e 1 minuto e chegou a alcançar mais de 415 mil espectadores simultâneos. De acordo com registros obtidos pela PF, no mesmo dia Tercio Arnaud Tomaz, apontado como chefe do chamado Gabinete do Ódio, enviou dois arquivos de vídeo para Mauro Cid: a íntegra da transmissão ao vivo e uma versão editada, com apenas 8 minutos e 59 segundos.

Na visão dos investigadores, o corte tinha como objetivo facilitar a circulação das falsas alegações por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram.

Cerimedo e o ‘Gabinete do ódio’

Dados sobre uma pasta mantida por Arnaud em um serviço de armazenamento na nuvem trouxeram um novo personagem para o plano. Os arquivos da live de Cerimedo foram salvos por Jean Hernani Guimarães Vilela, então assessor parlamentar na Liderança do Governo no Congresso Nacional. A partir de maio deste ano, ele foi nomeado em um cargo no gabinete da deputada federal Carla Zambelli (PL–SP), outra figura já implicada em articulações para desacreditar o sistema de votação.

A tese falsa difundida pelo argentino passou a embasar outros ataques de bolsonaristas contra o sistema eleitoral, como um relatório encomendado pelo PL, partido de Jair Bolsonaro, contra o resultado do segundo turno.

A empresa contratada foi o Instituto Voto Legal (IVL), que envolveu também a empresa Gaia.io no documento, que repetia a versão de Cerimedo de que urnas produzidas antes de 2020 tinham sido fraudadas para aumentar a votação de Lula. A suposta auditoria custou R$ 1 milhão ao PL, pagos com dinheiro público.

O dono da Gaia.io, Eder Balbino, também fez upload de arquivos na pasta de Arnaud, segundo apurou a PF. O relatório do IVL e da Gaia.io embasou uma ação movida pelo PL na Justiça Eleitoral. Considerando que o partido agia de má-fé, o ministro Alexandre de Moraes, então presidente do TSE, descartou a ação e aplicou uma multa de R$ 22,9 milhões ao PL, que teve também as contas bloqueadas.

Além do relatório do PL, a live também serviu de subsídio para um documento enviado ao então ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira, com ataques ao sistema eleitoral. Segundo a PF, o texto parece ser uma minuta de manifestação a ser assinada por líderes partidários. A tese sustentada é a mesma da live de Cerimedo — de manipulação dos dados das urnas anteriores a 2020. “Fato novo surgiu ao apagar das luzes da construção do relatório castrense e que obriga seja examinado”, diz trecho, em referência ao argentino.

“A investigação obteve elementos de prova que demonstram a ação coordenada pelo grupo para utilizar influenciadores digitais, militares e o Partido Liberal para potencializar os ataques ao sistema eletrônico de votação, com o fim de criar o ambiente propício para a execução do Golpe de Estado”, resume a PF.