O ano de 2016 foi bastante sombrio sob vários aspectos. Foi um ano com suas perspectivas catastróficas anunciadas já em 2015. Não será tarefa das mais fáceis desvendar os destaques para uma retrospectiva do ano que finda. Morreu Ferreira Gullar. Morreu Fidel Castro. Um desastre matou a delegação da Chapecoense abalou o mundo. Um milionário ensandecido ganhou a presidência dos Estados Unidos. No Brasil, dia a dia, a democracia sangra ferida de morte. Devemos estar cientes,pois, que as perspectivas para 2017 não são nada animadoras. O golpe foi dado. Derrubaram o governo Dilma por um motivo que foi descartado numa simples canetada. As tais pedaladas fiscais deixaram de ser crime em menos de uma semana após o impeachment. A hipocrisia tomou conta do debate brasileiro. A lama é tamanha que a Operação Lava-Jato passou a representar a única esperança. Todavia, estamos vivendo um clima de populismo judiciário. Inclusive com direito a cenas de afagos deprimentes entre o Juiz Sergio Moro e o tucano Aécio Neves, citado inúmeras vezes na mesma Lava Jato. As máscaras caíram, mas a farsa continua. As leis que pouco eram cumpridas, agora dependem da interpretação pessoal de um juiz de Primeira Instância. Claramente estamos vivendo tempos absurdos. A proposta de congelar gastos públicos paralisa o país por duas décadas. Tudo com muito alarde nas grandes redes midiáticas. Mas, a verdade é que depois de tanto tempo após a farsa impeachment, a economia não dá o menor sinal de recuperação. Para piorar o que já está ruim, a intolerância toma conta das ruas. A cultura e a arte, aos poucos, vão sendo criminalizadas num país que se acostumou com o jabá e com o toco sustentando popularidades.
Quem trabalha com cultura na Paraíba ou em qualquer lugar deste país, não pode desdenhar do que está posto. Muito menos se render à realidade. Precisamos avaliar as condições objetivas para esse enfrentamento. Da mesma forma os trabalhadores organizados, os movimentos populares e os intelectuais engajados. Um cenário de tsunami comportamental está posto. O caos, ao que parece, está sendo aprimorado cotidianamente. O racha que provocaram no país destacou até mesmo a voz de um direitismo cultural até então oculto pelo charme dos ambientes artísticos. Alguns passaram a se manifestar politicamente exigindo o retorno da política de balcão, onde quem pode mais chora menos. Alguns, mais radicais, levantam sem temor a bandeira da intolerância contra segmentos progressistas. Os interesses setoriais e pessoais, ainda que desorganizados, passaram a berrar nas redes sociais como se fossem coletivos. O resultado está posto. A situação que nunca foi uma maravilha, piorou bastante e a tendência é piorar ainda mais. Temos convivido com a resistência política, a exemplo das ocupações do MinC, após a sua extinção e o silêncio após o esvaziamento da pasta. É como se estivéssemos sem pauta definida e sem forças para uma mobilização que ultrapasse as barreiras da reivindicação pessoal ou corporativa.
Em última análise, devemos perceber que o primeiro passo para uma reação é organizar uma ampla resistência democrática envolvendo os mais diversos setores da sociedade. Afirmar os valores culturais como vetores estratégicos de superação da crise. Aprofundar o alinhamento com setores que permitam o engajamento da cultura no desenvolvimento econômico. Os planos estaduais e municipais do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas precisam afinar o compasso entre a cultura e a educação para que se efetivem enquanto política pedagógica capaz de sedimentar a formação cidadã a partir da leitura literária. Sobretudo, precisamos alimentar uma visão de classe e não uma visão segmentada. Claro que isso precisa ser feito com a certeza do cenário desfavorável que está posto. Tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista político. Precisamos alinhar o discurso na defesa das políticas públicas e não apenas das estruturas institucionais ou mesmo das produções localizadas. Há que se ter um olhar mais afinado para o que se coloca como política estruturante. No caso, os planos setoriais, os planos estaduais e municipais de cultura. A garantia da descentralização dos investimentos, tendo como foco as políticas públicas de cultura, o povo e não os agentes culturais. Afinal, somos o meio e não o fim para a consolidação de uma política de cultura. O geral precisa superar o específico. Precisamos estar ombro a ombro na luta pela diversidade cultural. Principalmente num momento em que instituições poderosas como a Fundação Cultural de João Pessoa – FUNJOPE, reservam espaços generosos em seus orçamentos para a chamada Cultura Gospel. Enfim, a melhor perspectiva para a cultura paraibana e brasileira é o enfrentamento aos seus gargalos históricos e a abertura de perspectivas, não apenas para o crescimento da produção artística, ou a preservação da memória e o respeito à atividade intelectual, etc. Mas, sobretudo para a consciência que é na cultura que podemos alterar os contratos de uma sociedade machista, homofóbica, racista e concentradora de riquezas. Não tenho dúvidas que a democracia na cultura começa pelo engajamento nas lutas populares por direitos sociais. Afinal, a cultura é, sobretudo, um direito social. Precisa ser incluída na pauta da política como necessidade do povo e não apenas dos seus beneficiários diretos.