Gauche lança primeiro CD, com download gratuito

Com quase 10 anos de estrada, a banda paraibana Gauche (pronuncia-se ‘gôchi’, em francês) acaba de estrear em disco. Teatro de Serafins, produção independente patrocinada pelo FIC Augusto dos Anjos, veio a público ontem através do site www.bandagauche.com.br, onde o álbum pode ser baixado gratuitamente. Até o final do mês, o álbum também vai sair em CD.

Bruno Guimarães, vocalista, tecladista e guitarrista da banda, sonhava com um pouquinho mais: uma tiragem em vinil – o que elevaria o orçamento de R$ 18 mil à estratosfera. Lançar Teatro de Serafins em LP teria algo de simbólico para o quarteto formado em João Pessoa em 2005, já que a sonoridade que Bruno, Diego “Koddie” Carvalho (baixo, atualmente substituído por Berg Ferreira), Luís Venceslau (guitarra solo) e Paulo Alvez (bateria) perseguem foi calcada no mundo analógico do rock.

O Gauche faz um rock psicodélico com inspirações que começam nos The Birds e vão até os Stones Roses, nos anos 1990, década que os músicos paraibanos viveram intensamente, passando por Pink Floyd (fase Syd Barrett), Echo & The Bunnyman, Secos & Molhados e Os Mutantes.

“A gente gosta muito dessa coisa sombria do Echo & The Bunnyman”, pontua Bruno. “Eu sempre tive uma certa dificuldade para escrever letras. Um dia, ouvindo os Mutantes, eu pensei: eles compõem tão bem e as letras são boas, então eu tenho que tentar”, acrescenta o autor das 11 faixas do repertório, uma delas, ‘Mar de Atlântida’, em parceria com Pablo Giorgio.

O nome Gauche surgiu depois que o vocalista viu o termo aplicado ao músico Little Richards – um dos pais do rock ‘n’ roll.

Foi pesquisar e descobriu que a palavra francesa era usada para designar ‘esquerda’. Mas também alguém deslocado, desconfortável ou “torto”, como o “anjo torto” sugerido por Carlos Drummond de Andrade em seu célebre ‘Poema de sete faces’.

E embora haja referências a anjos nas letras, na capa (em belo trabalho assinado por Thiago Trapo) e até no título do trabalho, Teatro de Serafins não é um disco místico como muitos do gênero. “As letras trazem metáforas”, confessa Bruno. “Isso vem do meu gosto pelos poetas simbolistas, como Augusto dos Anjos, Baudelaire e Rimbaud”.

Essa escola dá sustentação às letras (todas em português) que falam sobre o tempo, as estrelas, reis e rainhas, envolvidas em um rock progressivo e experimental, executado com muito vigor e uma habilidade impressionante, vide ‘Mágica’, um dos momentos mais empolgantes do disco. ‘Céus circulares’ e ‘Reminiscências’ são outros bons momentos do repertório.

Gravado no estúdio Mutuca, em João Pessoa, entre junho de 2013 e julho deste ano sob a produção caprichada de Nildo Gonzales – baterista do Seu Pereira e Rieg –, o disco prima pela qualidade, com solos bem elaborados de guitarra e teclado e uma cozinha (baixo e bateria) bastante firme.

“A banda é muito melódica e faltava pra gente uma precisão rítmica. Nildo foi fundamental nisso. Ele disse pro baixista e pro baterista simplificarem. ‘Quem tem que aparecer é a melodia’, falou. Além disso, trabalhou o psicológico de toda a banda”, acrescenta Bruno, referindo-se à extenuante busca pelo melhor take.

No dia 21 de novembro, Gauche apresenta o disco em show na Usina Cultural Energisa, dividindo o palco com a recém-criada banda-fôrra.

Jornal da Paraíba