Brasil tem média de 183 casos de desaparecimento por dia; veja histórias

O Brasil teve mais de 200 mil desaparecidos de 2019 a 2021, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em média, a cada dia, 183 pessoas desaparecem no país. É como se um avião sumisse do radar diariamente. Na outra ponta dessas estatísticas, 112 mil pessoas foram encontradas neste período. Mas e as outras?

Em reportagem veiculada pelo Fantástico, no último domingo (21), as histórias das famílias que aguardam por uma notícia foram mostrados. Leia relatos abaixo.

Thainá Russo

Grávida de dois meses, foi vista pela última vez na casa do namorado.

Ele disse que ela pegou um carro por aplicativo e sumiu para “dar um susto na família”, nas suas palavras, segundo contou a delegada que investiga o caso ao Fantástico.

A placa do carro do namorado foi identificada na região da Serra da Cantareira, onde é comum criminosos ocultarem corpos. A casa do suspeito foi encontrada limpa e sem lixo. O namorado de Thayná foi preso temporariamente. Ao Fantástico, o advogado do suspeito nega que o cliente tenha envolvimento com o desaparecimento da jovem.

Luiz Felipe dos Santos Machado

O pequeno despareceu enquanto brincava na porta de casa, em junho de 2017. O pai havia saído por 15 minutos e a mãe estava em casa fazendo serviços domésticos. A família vivia em Têlemaco Borba, uma cidade 80 mil habitantes no interior do Paraná.

No dia seguinte ao desaparecimento de Luiz Felipe, a polícia da capital fez buscas com cães farejadores. O Paraná tem a única delegacia do país especializada na busca de crianças desaparecidas. Seis anos depois, a polícia trabalha com uma imagem projetada de como a criança deve ser hoje, aos oito anos, para continuar procurando.

“É um pedaço da gente. E esse pedacinho está faltando. Quando morre, você vai lá e enterra, a pessoa descansou, você sabe que nunca mais vai ver ela”, disse Lucimara, a mãe. “E a gente não tem pista, não tem notícia, não tem nada.”

Jerônimo Amorim Oliveira

Em 2019, quando o pai descobriu que o filho estava usando drogas, pediu para que ele saísse para andar de bicicleta para espairecer. “Era fim de tarde. A gente teve uma longa conversa, eu, ele e o irmão dele”, lembra Tenisson, o pai. “Passou cinco horas, seis horas e ele não retornou. Aí, acendeu uma luz vermelha.”

O filho de Tenisson tem depressão. A bicicleta de Jerônimo foi localizada por um ciclista. A polícia procurou pelo jovem por três dias em uma área de mata próxima da casa da família. O pai recebeu uma mensagem de que o filho havia sido visto na rodoviária de Brasília. Uma senhora que o reconheceu relatou para a família ter visto a tatuagem de coração que Jerônimo tem no peito.

Angustiado, Tenisson viajou o Brasil em busca do filho.

“Fui em São Paulo, na cracolândia. Tocantins, Bahia, eu fui. Fui em Goiânia e apresentei a foto do meu filho e a ocorrência. Puxaram no sistema, mas não tinha nada, não constava [como desaparecido].”

A busca por Jerônimo foi encerrada sem sucesso há dois anos.

Layse Silva da Silva

A jovem desapareceu no portão de casa. Lucilene, a mãe, acredita que a filha esteja em uma comunidade controlada pelo tráfico.

“Onde é que ela está? No frio desses, eu não sei. Incerteza de você achar, incerteza de você procurar, incerteza de pedir ajuda. É um ponto de interrogação”, disse Lucilene.
Lucilene tem conflitos com a filha, que fugiu de casa em novembro do ano passado. Em março, ela apareceu. “Fui buscar. Chegamos em casa e ela toda suja, toda ralada. Entrei no banheiro com ela, mandei ela tomar banho, chorei junto com ela. [Disse] ‘eu nunca vou te abandonar’.”

Segundo a mãe, há uma suspeita de onde a menina esteja. “Já tem mais ou menos a noção do local onde ela está, é um local perigoso”. Ao Fantástico, a polícia disse que o setor de paradeiros está investigando o caso.

Do G1