Ataque a teatro em Mariupol matou ao menos 600, diz agência

Uma investigação comandada pela agência de notícias americana ‘Associated Press’ apontou para a morte de, pelo menos, 600 pessoas no ataque russo a um teatro em Mariupol, na Ucrânia, que servia como refúgio para diversas famílias.

Oksana Syomina, ucraniana entrevistada, contou que para sair da construção teve que pisar sobre corpos.

“Os feridos gritavam, assim como aqueles que tentavam encontrar seus entes queridos”, contou.

Syomina, seu marido e cerca de 30 outros correram cegamente em direção ao mar e pela costa por quase cinco milhas (oito quilômetros) sem parar, o teatro em ruínas atrás deles.

“Todos os corpos ainda estão sob os escombros, porque os escombros ainda estão lá – ninguém os desenterrou. Essa se tornou uma grande vala comum”, disse Syomina.

Em meio a todos os horrores que se desenrolaram na guerra contra a Ucrânia, o bombardeio russo ao Teatro Acadêmico Regional de Drama de Donetsk, em Mariupol, em 16 de março, destaca-se como o ataque mais mortal conhecido contra civis até hoje.

Segundo o levantamento da agência, o bombardeio matou cerca de 600 pessoas dentro e fora do prédio. Isso é quase o dobro do número de mortos citado até agora, e muitos sobreviventes colocam o número ainda maior.

A investigação da AP recriou o que aconteceu dentro do teatro naquele dia a partir dos relatos de 23 sobreviventes, socorristas e pessoas intimamente familiarizadas com sua nova vida como abrigo antiaéreo. A AP também se baseou em dois conjuntos de plantas baixas do teatro, fotos e vídeos feitos antes, durante e depois daquele dia e feedback de especialistas que revisaram a metodologia.

Imagem de satélite do teatro Mariupol antes do bombardeio mostra a palavra 'crianças' — Foto: Reprodução
Imagem de satélite do teatro Mariupol antes do bombardeio mostra a palavra ‘crianças’ — Foto: Reprodução

Todas as testemunhas disseram que pelo menos 100 pessoas estavam em uma cozinha de campo do lado de fora, e nenhuma sobreviveu. Eles também disseram que os quartos e corredores dentro do prédio estavam lotados, com cerca de uma pessoa para cada 3 metros quadrados de espaço livre.

A investigação da AP também refuta as alegações russas de que o teatro foi demolido por forças ucranianas ou serviu como base militar ucraniana. Nenhuma das testemunhas viu soldados ucranianos operando dentro do prédio. E ninguém duvidou que o teatro foi destruído em um ataque aéreo russo direcionado com precisão a um alvo civil que todos sabiam ser o maior abrigo antiaéreo da cidade, com crianças nele.

Mariupol assumiu enorme importância como símbolo da devastação infligida pelas forças russas e da resistência da Ucrânia. O destino da cidade agora está em jogo, e as autoridades dizem que cerca de 20.000 civis morreram durante o cerco russo. Com Mariupol sem acesso, muitos temem que o bombardeio do teatro pressagia mais crimes de guerra que ainda não foram descobertos.

O elegante teatro ficava em uma praça no coração de Mariupol há mais de 60 anos, um edifício de pedra com pilares brancos, um friso clássico e um telhado vermelho distinto. Já foi chamado de Teatro Dramático Russo, mas as autoridades locais removeram a palavra “russo” do nome em 2015. Em julho passado, eles ordenaram que todas as apresentações fossem realizadas em ucraniano.

Do g1