Área cultural se manifesta após entrevista de Regina Duarte à CNN; confira publicações

Artistas questionaram ações positivas diante da situação provocada pela quarentena e a falta de retorno governamental

No final da tarde de quinta-feira (7) a secretária especial de Cultura, Regina Duarte, concedeu entrevista, exclusiva e ao vivo, à CNN Brasil. Sempre sorridente, buscando insinuar um clima de tranquilidade, ela pretendia falar de seus projetos para a área da cultura. Ao repórter Daniel Adjuto, porém, ela minimizou as torturas na época da ditadura, ao mesmo tempo em que cantarolou a música Pra Frente, Brasil, de Miguel Gustavo, jingle conhecido como um hino da seleção brasileira de 1970, mas que marcou a época de truculência no Brasil.

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Durante e após a entrevista, o meio cultural se manifestou, criticando a secretária e questionando ações positivas para a área, que pena com a situação provocada pela quarentena e sem um retorno governamental a seu favor. Além disso, Regina foi ainda questionada sobre não se manifestar publicamente sobre as recentes mortes de artistas, músicos, intelectuais: “Será que a secretaria vai virar um obituário?”.

E encerrou, abruptamente, a entrevista, ao ser questionada, por um vídeo enviado no mesmo dia, pela atriz Maitê Proença. A secretária se descontrolou, se dizendo traída, pois isso não “estava combinado”. A conversa terminou quando um auxiliar de Regina entrou em cena, obrigando a emissora a tirar a cena do ar.

As repercussões nas redes sociais foram inúmeras, veja algumas abaixo.

Anitta, cantora

“Vejo que a senhora me segue aqui no Instagram e gostaria de dizer algo como cidadã. Assisti sua entrevista na CNN e já vi em alguns lugares que nao foi combinado uma entrevista ao vivo etc e etc, mas, falando como artista que já passou por isso algumas vezes (se é que realmente foi isso), acho que haveria mil outras formas de se pronunciar sem ser grosseira com os demais. Uma pessoa que aceita assumir a secretaria de cultura está aceitando trabalhar para o povo, isso significaria escutar TAMBÉM os lados que pensam diferente da senhora e colocar sua posição sobre a questão. Se recusar a ouvir uma opinião contrária logo depois de enaltecer os tempos de ditadura me causa muito medo. Até porque eu e muitos dos meus amigos seríamos os primeiros censurados caso esse regime voltasse ao Brasil e nós continuássemos no exercício do nosso trabalho. Gostaria de dizer que a cultura no Brasil vai muito além do ballet clássico, das orquestras sinfônicas e dos livros de poesia (que também são incríveis e tem seu imenso valor). Governar apenas para os que te causam afeição não é governar para o povo. Nao seria mais inteligente responder com calma e sabedoria o que tem sido feito pela classe cultural em virtude dos acontecimentos do covid 19? Aliás, o que tem sido feito? Todas as prefeituras do Brasil possuem verbas de entretenimento para o povo. Agora, que não estão sendo utilizadas, pra onde está indo esse dinheiro? A senhora não poderia tentar fazer com que ele estivesse indo para os trabalhadores da indústria que estão sofrendo com o momento? Por mais que a senhora não tenha medo do vírus, não deveria trabalhar também para os que têm e estão levando a situação a sério? Seu cargo só governa para quem pensa semelhante à senhora? E as famílias que perderam parentes com a doença? Como se sentiriam ouvindo um depoimento de quem faz pouco caso do momento? Onde está a empatia? Meu intuito aqui não é insultar e sim questionar.”

Walcyr Carrasco, dramaturgo

Bruno Gagliasso, ator

João Vicente, apresentador

Hildegard Angel, jornalista e irmã de Stuart Angel, morto pela ditadura militar

Antonio Prata, escritor

Tatiana Salem Levy, escritora

Eduardo Lacerda, editor

Luiza Jorge, produtora

Renato Janine Ribeiro, cientista político

Do Estadão