Wilson Witzel desbanca Eduardo Paes e é eleito governador do Rio de Janeiro

Um ex-juiz federal, considerado um outsider na política, é o novo governador do Rio de Janeiro. Filiado ao pouco expressivo PSC (Partido Social Cristão), Wilson Witzel derrotou o ex-prefeito carioca Eduardo Paes (DEM) com um discurso atrelado ao de Jair Bolsonaro (PSL) e propostas de endurecimento no combate ao crime organizado em favelas e à corrupção.

Aos 50 anos, casado e pai de quatro filhos, Wilson Witzel assumirá um Rio com altos índices de crimes contra a vida e recém-saído de uma intervenção federal na segurança pública comandada pelas Forças Armadas, que não foi capaz de reduzir a criminalidade de forma significativa.

No front da economia, o desafio de Witzel será gerir um estado sob regime de recuperação fiscal, com previsão de rombo nas contas de R$ 8 bilhões em 2019, pouco espaço para investimentos e ainda sob o trauma dos atrasos de salários de servidores ocorridos na gestão de Luiz Fernando Pezão (MDB) por mais de dois anos.

Sem nunca ter exercido um cargo eletivo, Witzel surpreendeu ao terminar o primeiro turno à frente de Paes –o ex-juiz associou sua candidatura às propostas de Bolsonaro, que, por sua vez, permaneceu neutro na disputa eleitoral fluminense.

A eleição de Witzel, que acontece após crise política desencadeada pela prisão da cúpula do MDB fluminense no contexto da Lava Jato, põe fim à sucessão de três mandatos do partido à frente do Rio –Pezão e Cabral, detido desde novembro de 2016 e condenado a mais de 180 anos de prisão, foram os últimos a ocupar o Palácio Guanabara.

O MDB apoiou a candidatura de Paes. E foi justamente à relação de Paes com políticos presos por envolvimento em esquemas de corrupção que Witzel se apegou nos debates e propaganda eleitorais. “Você representa a política que o povo do Rio de Janeiro não quer mais”, reiterava o adversário de Paes, ao mesmo tempo em que exaltava seus 17 anos de magistratura em varas criminais e fiscais no Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Desconhecido do eleitorado, Witzel, que também foi defensor público e fuzileiro naval, enfrentou denúncias e teve de explicar condutas no segundo turno, quando abriu margem de mais de 1,6 milhão de votos em relação a Paes.

Ele apareceu em um vídeo orientando juízes sobre uma “engenharia” para acumular gratificações e também foi questionado pelo fato de ter imóvel próprio, mas receber auxílio-moradia do Judiciário. Paes também apontou dívida de IPTU da casa de Witzel, na zona norte carioca –segundo o governador eleito, ela foi renegociada após problemas financeiros.

O democrata também lembrou reiteradas vezes a participação do ex-juiz em ato de primeiro turno em que os então candidatos a deputado Rodrigo Amorim e Daniel Silveira (ambos do PSL) exibiram uma placa destruída em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL). Witzel disse que “não comemorou a morte de ninguém”.

Alianças e supostos apoios ao governador eleito do Rio também foram questionados. No primeiro turno, Romário (Podemos) afirmou que o empresário Mário Peixoto, que é fornecedor do governo, havia escrito o seu plano de campanha –o que Witzel nega.

Na segunda etapa, Paes também afirmou diversas vezes que o advogado Luiz Carlos Azenha –flagrado transportando o traficante Nem da Rocinha em tentativa de fuga da comunidade em 2011– era amigo pessoal e conselheiro da sua campanha. Witzel também negou a acusação. Com UOL.