Na política, é lenda quando se fala que existem acordos para se conquistar objetivos. Mas, os vereadores de Imaculada, cidade do Sertão paraibano, levaram essas tratativas para outro patamar. O Paraíba Já teve acesso, com exclusividade, a documentos e áudios que mostram indícios de suposta negociação de vantagem indevida, no valor de R$ 84 mil, para a eleição da Mesa Diretora daquela cidade, algo que já é alvo de investigações do Ministério Público e pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor).

Em 2017, no início da legislatura atual, vereadores de Imaculada começaram a se articular para eleger aqueles que iriam assumir a presidência da Câmara Municipal. No dia da eleição, foram eleitos os presidentes para o primeiro biênio, o vereador Oliveira Vieira Filho, mais conhecido como Vieirinha, e para o segundo biênio, o vereador Gilberto do Nascimento, conhecido como Gilberto de Santo Aleixo.

Porém, outro vereador, Charles Pereira, percebeu que a eleição do segundo biênio não poderia ser feita no mesmo dia para o outro biênio, além de ter faltado quórum suficiente. Apesar de terem acontecido no mesmo dia e na mesma sessão, Vieirinha foi eleito por unanimidade. Já Gilberto só recebeu cinco votos, além de não ter todos os vereadores, ao todo são nove, presentes.

A eleição de Gilberto foi anulada, após Charles acionar o Ministério Público e a Justiça com uma ação popular e ficou determinada que seria feita em 2018, às vésperas do início do segundo biênio.

No final de 2018, Gilberto começou a se movimentar entre seus colegas de parlamento para angariar votos. O acordo no início de 2017, que garantiu unanimidade a Vieirinha, era de que Gilberto teria apoio massivo de seus pares. Ao procurar Vieirinha, que ainda ocupava a presidência da Câmara, Gilberto recebeu uma condicionante para receber o voto de seu colega: seria preciso manter a locação de um veículo modelo GM/Ônix, da empresa Lokarros, sediada em Patos.

Gilberto e o seu candidato a vice-presidente da Câmara, Alan da Palmeira, aceitaram a exigência de Vieirinha, mas este queria garantias para fechar o acordo. Ele pediu para que os dois vereadores assinassem 24 promissórias, no valor de R$ 3,5 mil cada uma, em que 12 foram assinadas por Gilberto e as outras 12, por Alan.

As promissórias foram registradas em um cartório, do município Santa Teresinha, em Pernambuco, e ficaram de posse de Vieirinha. Elas garantiriam que, caso Gilberto e Alan fossem eleitos e não mantivessem a locação do veículo, eles pagariam do próprio bolso o acordo.

Em depoimento ao delegado titular da Deccor, Állan Terruel, no dia 2 de setembro, e anteriormente ao Ministério Público, Gilberto alega que não sabe o motivo dessa exigência de Vieirinha e que acredita que não houve ilegalidade, já que a locação do veículo já existia.

Acontece que às vésperas da eleição da Mesa Diretora, Vieirinha os comunicou que não iria mais votar neles e que resolveu apoiar outro vereador, José Ribamar Firmino Silva, mais conhecido como Ribinha, filho do ex-prefeito da cidade, José Ribamar. No dia da eleição, este foi eleito.

Porém, no dia seguinte o pai do novo presidente da Câmara começou a espalhar pela cidade fotos das notas promissórias assinadas por Gilberto e Alan. Para se explicar sobre o que houve, Gilberto fez pronunciamento na Câmara, admitindo que, de fato, o acordo existiu.

“Eu assinei, para locar o carro daqui da Câmara, como foi o combinado. O ex-presidente estava exigindo a gente e disse que só votava em mim se eu locasse o carro dele por R$ 3.500 mil. Assinei as promissórias, eu não tenho rabo preso. Sei que o município inteiro está me ouvindo, pode vir que eu digo o porque assinei as promissórias. Lógico que eu queria ser presidente e estava atendendo um pedido dele, que disse que só votava se eu assinasse e eu assinei. Agora me diga uma coisa, esse carro que está locado, será que a locadora baixou o preço dele? Quer dizer, eu não fiz nada de errado, já que o carro continua locado e com certeza estão pagando o mesmo valor. Quer dizer, não tenho certeza mas o carro continua locado. Mas sabe a questão que eu quero pedir a ele, é que ele está mostrando essas promissórias que estão gravadas no celular dele, me diga uma coisa, o que ele queria não já conseguiu, que era um filho presidente? O que ele tem contra mim? Isso é uma coisa pessoal, para estar mostrando as promissórias. Se quiser eu mostro a quem quiser, a quem me procurar. Mas e aí? Se eu errei, por que continuar no erro locando o carro?”, desabafou Gilberto, no pronunciamento durante sessão da Câmara de Imaculada.

Gilberto também comentou o caso com outras pessoas, que, em depoimento ao delegado Állan Terruel, não se recorda a quem, também explicou o caso em áudio, que foi vazado.

“Ficou certo. Houve uma votação. Ele votou em mim e eu nele. Só que agora Charles entrou com um processo anulando a eleição. Como anulou, vai ter outra amanhã (06/12/18). Só que é o seguinte, nós sentamos com Vierinha e Alan, na semana passada, e aí ele colocou o ‘pé no bucho’ disse que só votava em mim, sendo que ele já tinha aceitado o compromisso de antes, se nós locássemos o carro dele, aquela carro da Câmara. Aí eu perguntei quanto era, ele disse R$3.500 mil. Eu respondi que tudo bem, a gente loca seu carro e ficaria disponível para nós. Aí assinamos umas promissórias, registradas em cartório e tudo. Eu pensei que não tinha mais como ele não aceitar uma coisa dessa, em dois anos dá quase R$ 80 mil. Ficamos confiantes, não era nem por ele mas pelas promissórias assinadas. Eu assinei 12 e Alan também. 24 de R$ 3.500. Aí quando chegamos ontem, que íamos registrar as candidaturas, aí Vierinha disse a Alan que o barco estava furado e que Ribinha ia ser candidato a presidente e disse que não vou votar no pessoal não. Nós procuramos eles e eles se esconderam, essas fotos dizem que é em Triunfo, desde ontem que estão por lá, só querem vir no dia da eleição. Outra coisa, tem uma casa em jogo em Santa Terezinha, que foi colocado os documentos, que estão com Alan. O documento da casa dele está como garantia. Por isso eu dizia que estava certo. Confiei. Mas aí houve essa trairagem de Ribamar e juntou-se com Vieirinha, outro traíra. Então, vou continuar sendo vereador na minha batalha, pedir força a Deus e aos amigos”, explicou Gilberto

O caso é alvo de investigação após denúncia de um suplente de vereador, Cebinha Tomé, ao Ministério Público, na comarca de Água Branca. Mesmo tendo feito a denúncia inicialmente, em 11 de agosto deste ano, em depoimento à Deccor, negou que teria denunciado. Caso Gilberto fosse afastado do cargo, Cebinha assumiria a vaga.

Em depoimento à Deccor, Vieirinha nega as acusações.