Vacina, cura da Covid-19 e fraude: Bolsonaro mente ao sair do hospital

Depois de quatro dias internado para tratar uma obstrução intestinal, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deixou na manhã de hoje o Hospital Vila Nova Star, na zonal sul de São Paulo, após receber alta médica. Na saída, Bolsonaro conversou com a imprensa, quando criticou Cuba e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e mentiu sobre assuntos diversos que vão da CPI da Covid à fraude eleitoral.

UOL Confere verificou a veracidade de algumas frases:

Covaxin: “Não paguei, não comprei” – Verdadeiro

“A CPI daqui fica o tempo todo me acusando de corrupto. Eu não comprei, eu não paguei. E quem paga é alguém lá do ministério, é todo dia uma narrativa”, disse Bolsonaro.

Ele afirmou que o governo não gastou “um centavo” com a Covaxin, o que é verdade. O que ele não contou é o Ministério da Saúde já havia reservado R$ 1,6 bilhão para a compra da vacina, negócio que só foi cancelado depois que o escândalo ganhou o noticiário.

Adélio é “ex-psolista” – Verdadeiro

“Comecei a passar mal depois de uma cirurgia de implante, e obviamente a origem disso é complicado descobrir o que é. Alguns dias depois agravou a crise de soluço, parecia que tava pegando fogo no estômago. Bem. Causa disso: era obstrução intestinal, porque a aderência é comum para quem já sofreu cirurgias como eu sofri vivendo aquela facada do ex-psolista Adélio lá em Juiz de Fora”.

Como disse Bolsonaro, Adelio Bispo não era mais filiado ao PSOL quando o esfaqueou durante um ato de campanha em Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais, em 6 de setembro de 2018. As investigações da PF constataram que ele agiu sozinho, sem nenhuma interferência de partidos políticos. Quando atacou Bolsonaro, Adélio já tinha se desligado da legenda há quatro anos. Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ele foi filiado ao PSOL em Uberaba entre 2007 e 2014 e pediu desfiliação por conta própria.

Voto não é auditável – Falso

“Eu não entendo, por exemplo, não querem voto auditável. Não entendo por quê. Será que esse voto eletrônico que é usado no mundo todo é tão confiável assim? Por que essa briga? Nós queremos transparência nas eleições. Não existe [sic] eleições sem transparência, isso é fraude “.

Ao contrário do que afirma Bolsonaro, a votação por meio das urnas eletrônicas já é auditável, permite recontagem de votos e garante segurança, segundo especialistas. Nunca houve nenhuma denúncia comprovada de fraudes nas eleições no Brasil desde a implantação do sistema eletrônico.

Fraude na eleição – Falso

“A apuração tem que ser, também, pública. Tem que afastar essa história de quem ganha a eleição não é quem vota, e sim quem conta o voto”, afirmou o presidente.

Em diversos momentos, Bolsonaro disse que houve fraudes na contagem dos votos nas eleições presidenciais de 2018 —quando ele venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno— e de 2014, quando Dilma Rousseff (PT) se reelegeu após disputa acirrada com Aécio Neves (PSDB). Não há provas disso.

Após a vitória de Dilma, uma auditoria solicitada pelo PSDB constatou que não houve fraude na eleição de 2014. Sobre 2018, Bolsonaro repetidas vezes disse ter provas de que houve irregularidades no pleito, mas nunca apresentou as evidências. O governo federal também se recusou a entregar os documentos que provam a suposta fraude por meio de pedidos de Lei de Acesso à Informação.

Vacina aprovada é experimental? – Falso

“Quando se aponta determinado nome de vacina, o povo não quer tomar. Faça um trabalho no tocante a isso. Agora, a vacina ainda em fase experimental ou não é? É. É uma autorização emergencial por parte da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária”, afirmou.

Como em outras vezes em que falou a esse respeito, o presidente mentiu. As vacinas contra a covid-19 não estão em fase experimental porque, no Brasil, diferentes imunizantes receberam o aval da Anvisa depois de passar por análises de segurança, qualidade e eficácia. Mesmo aquelas com autorização para aplicação emergencial passaram por esse tipo de teste.

Falar em cura da covid nos faz criminosos – Falso

“O que me surpreende é de ver o mundo, alguns países investindo em remédio para curar o covid, e aqui quando você fala de cura pra covid parece que você é criminoso. Não pode falar em cloroquina, ivermectina”, afirmou.

Não há qualquer substância que tenha eficácia comprovada para prevenção ou tratamento precoce da covid-19. Estudos sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina já constataram que os medicamentos não reduzem a mortalidade, as internações ou mesmo a infecção pela covid-19. Além disso, apontam que a hidroxicloroquina “provavelmente aumenta o risco de efeitos adversos”.

Já a ivermectina, Bolsonaro tem distorcido uma pesquisa para defender o uso do medicamento. O estudo, no entanto, é criticado por usar em uma revisão de literatura artigos que não foram revisados por outros cientistas ou nem sequer foram publicados. A Anvisa diz que não há estudos conclusivos sobre a eficácia do remédio contra a covid-19.

Proxalutamida é eficaz – Falso

“E tem uma coisa que já acompanho há algum tempo e que temos que estudar aqui no Brasil: chama-se proxalutamida já tem uns 3 meses que isso não tá no mercado, é uma droga ainda sendo estudada, parece que alguns países já têm mostrado melhora”, disse.

Ao contrário do que Bolsonaro afirma, ainda não há comprovação científica de que a proxalutamida é eficaz contra a covid-19. O medicamento é usado normalmente no tratamento de tumores que têm relação com a testosterona, como o câncer de próstata. Ele vem sendo testado para o novo coronavírus pelo grupo hospitalar brasileiro Samel em parceria com a Applied Biology, empresa americana de biotecnologia especializada no desenvolvimento de medicamentos para doenças capilares.

Apesar de os primeiros resultados divulgados pelos realizadores indicarem efeito positivo no tratamento da covid-19, cientistas ponderam que o estudo ainda não foi publicado e revisado pelos pares. Também apontam que não é possível saber de que forma o medicamento é administrado —sozinho ou em combinação com outras drogas, por exemplo.

O medicamento ainda não é sequer comercializado e não foi aprovado por nenhuma agência sanitária, como a Anvisa ou a americana FDA.

Coronavírus contamina mais quem tem medo – Falso

“O que mais mata de covid em primeiro lugar é quem ta com obesidade, segundo lugar quem esta tomado pelo pavor ou pelo pânico”, afirmou.

Embora sem fundamentação, Bolsonaro diz que o coronavírus contamina quem está tomado pelo medo. Desde o início da pandemia, o presidente defende a divulgação de notícias positivas sobre a crise sanitária e critica a imprensa, afirmando que o noticiário causa pânico na população, embora mais de meio milhão de pessoas já tenham morrido por covid-19.

Processados por defender Artigo 142 da Constituição – Falso

“Tem gente sendo processado porque levantou uma faixinha de artigo 142. É ou não é? É”, afirmou Bolsonaro.

O presidente se refere ao inquérito dos atos antidemocráticos, arquivado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. A investigação teve início para apurar o ato que aconteceu em Brasília em 19 de abril de 2020 em frente ao quartel-general do Exército no qual os manifestantes pediam intervenção militar e fechamento do Congresso e do Supremo. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou e discursou no evento.

O artigo 142 mencionado por ele é o artigo da Constituição que trata das Forças Armadas, “sob a autoridade suprema do Presidente da República”.

Na mesma sentença em que arquivou o inquérito sobre os atos antidemocráticos, Moraes determinou a abertura de uma nova investigação, da qual ele também será o relator, que visa apurar o uso de dinheiro público para financiar uma organização criminosa de disseminação de notícias falsas, baseado em indícios obtidos pela Polícia Federal.

Do Uol.