União entre PPS e PSB deve fazer história em João Pessoa mais uma vez

A chegada do PPS ao arco de alianças do PSB para disputar a Prefeitura de João Pessoa este ano é uma lição de lógica clássica.

Como a gente se lembra, Aristóteles foi quem melhor formulou os princípios ou leis fundamentais dessa ferramenta indispensável para a razão, o entendimento e o pensar. Muita coisa mudou no campo da lógica desde que ele formulou as três leis: da identidade, da não contradição e o terceiro excluído.

Se houve mudanças, elas habitam o núcleo duro das abstrações matemáticas. Mas o essencial permaneceu ao mesmo tempo como forma adequada à indagação sobre as consequências dos atos constitutivos da realidade e como conteúdo histórico de orientação para as problematizações em torno de conceitos como liberdade, individualidade, subjetividade e comunidade.

Vejam se não é o caso da aliança que marcou a semana como destaque da agenda eleitoral deste ano.

O princípio da identidade é a convergência de campos ideológicos à esquerda do espectro das tradições nessa área. O PPS – Partido Popular Socialista e o PSB – Partido Socialista Brasileiro convergem numa tradição: a de construir consensos ideológicos de orientação popular para uma ação revolucionária não violenta. Uma “revolução” quanto à participação crítica na condução das coisas do poder das forças populares, trabalhadores organizados, movimentos sociais, agentes econômicos, públicos e políticos que interagem no mesmo campo democrático

A lei, ou princípio, da não contradição está representada pela qualidade ideológica da candidatura em discussão. O nome de Cida Ramos correspondente a expectativas quanto à representação relevante de anseios populares coletivos, simboliza uma trajetória de inserção pessoal orgânica nos agrupamentos, setores e movimentos que dinamizam o evoluir da prática política entre nós e é adequada à busca da opinião pública por nomes capazes de exibir uma vivência política sem a mácula da corrupção. Uma candidatura que não contradiz a necessidade de mudança anunciada pela população quando das marchas que eclodiram em 2013.

A lei do terceiro excluído é confirmação de que só um nome do campo democrático-popular interessaria aos partidos em aliança. O PPS e o PSB retomam uma parceria nesse campo da promoção do socialismo. Socialismo que é capaz, mais uma vez, de fazer história em João Pessoa e no Estado surpreendendo a partir do resultado do pleito deste ano.

Honra na palavra

Cida tem palavra. A frase minimalista, com jeitão de slogan, sobre a personalidade da pré-candidata (PSB) a prefeita de João Pessoa Cida Ramos, é do vice-prefeito de João Pessoa Nonato Bandeira. Aconteceu durante o evento que formalizou publicamente na quinta-feira a aliança PSB-PPS para a disputa eleitoral deste ano.

Ela faz, para além da conjuntura política, e do processo eleitoral que se desenha, um sumário da trajetória conceitual do exercício do poder sob esta denominação: política. E em vários cenários.

Os cenários das realidades históricas cujos valores se interpenetram quando da ação política, o da evolução conceitual em que construções históricas como direitos humanos, justiça social e estado democrático convergem. Também o da processualística que materializa as escolhas a partir das eleições, e o dos conflitos ideológicos que demarcam atitudes diante de aspectos específicos da realidade a exemplo da propriedade, das classes sociais, da produção de riquezas e do acesso aos núcleos de controle de poder.

A frase de Nonato para mim funcionou como a Madeleine proustiana. Uma sonda penetrando camadas de memória até um arquivo em que roda uma conversa que tive há alguns anos com o ex-vereador de João Pessoa Júlio Rafael, hoje não mais entre nós.

A discussão era sobre ética, ética na política, pragmática e verdade. Júlio, que em tom de ironia se definia um marxista weberiano, me disse na oportunidade ter aprendido com Weber que a contradição é o modus operandi da política.

Nesse sentido, tanto a política se refere a um mundo que se apresenta como totalidade hierarquizada, e em cada nível hierárquico há um circuito ético específico às suas necessidades, quanto se obriga a acolher o imperativo da modernidade que define para a ética uma lógica própria de amplitude universal conduzindo os procedimentos gerais da cotidianidade prática, concreta.

A frase de Nonato, ”Cida tem palavra”, ao nível da totalidade hierarquizada do mundo do poder, subverte a lógica descrita por Weber, na qual o “estatuto especial do dever político” inibe as pretensões universalizantes da ética, em favorecimento de um princípio geral de honra. A palavra tem o sentido de perspectivar a honra. E essa perspectiva, a da honradez, dará o contraste necessário a que a população eleitora tenha condições de avaliar qual realmente é o melhor nome para assumir a Prefeitura de João Pessoa no ano que vem.

(Reproduzido de o jornal A União, 22/05/2016)