Treze e Central preparam ofensiva para que CBF reconheça Série B de 1986

Ser campeão brasileiro não é uma tarefa fácil. Ainda mais para o futebol nordestino. Apenas dez times têm o privilégio de levantar uma taça nacional por uma das quatro divisões, começando pelo Bahia em 1959, na antiga Taça Brasil. Mas esse número pode aumentar caso Treze e Central de Caruaru consigam o que pleiteiam há 33 anos: o reconhecimento do Torneio Paralelo de 1986 como Série B daquele ano.

O novo capítulo dessa história aconteceu na semana passada. O Central levou para o Estádio Lacerdão uma réplica da taça da Série B para fazer a festa antes da partida contra o Jacuipense, pelo mata-mata da Série D. Mesmo sem ser reconhecido pela CBF, o simples ato do time pernambucano reacendeu a esperança de um desfecho nos outros três clubes campeões do Torneio Paralelo de 1986 – além do Treze, também estão na mesma situação Inter de Limeira e Criciúma.

Michelle Ramalho vai levar pessoalmente ao presidente da CBF, Rogério Caboclo, o pedido do Treze para reconhecimento da Série B de 1986 — Foto: Divulgação/FPF

Michelle Ramalho vai levar pessoalmente ao presidente da CBF, Rogério Caboclo, o pedido do Treze para reconhecimento da Série B de 1986 — Foto: Divulgação/FPF

O primeiro passo desse movimento é aumentar a pressão na CBF. Essa missão parece ficar com as federações paraibana e pernambucana. Com relacionamento franco com a nova direção da entidade nacional, a presidenta Michelle Ramalho, da Paraíba, já avisou que levará o tema à mesa de Rogério Caboclo nos próximos dias.

“Eu recebi um ofício do Treze pleiteando que levasse à CBF o pedido do reconhecimento do título da Série B de 1986. Com certeza vamos reivindicar pessoalmente esse título junto à CBF para dar mais esse título para a Paraíba”, disse Michelle Ramalho, que está na França como chefe da delegação brasileira na Copa do Mundo Feminina.

Título da Série B de 1986 está pintado no muro do Presidente Vargas, estádio do Treze. O mesmo acontece no Lacerdão, em Caruaru — Foto: Reprodução /TV Paraíba

Título da Série B de 1986 está pintado no muro do Presidente Vargas, estádio do Treze. O mesmo acontece no Lacerdão, em Caruaru — Foto: Reprodução /TV Paraíba

O reconhecimento do título seria uma importante vitória nos bastidores para o Treze, num ano que o clube vai mal no futebol – brigou contra o rebaixamento no Campeonato Paraibano e está na penúltima colocação do Grupo A da Série C. Na onda do movimento feito pelo Central, o Treze também planeja ações no sentido de sensibilizar a CBF e a opinião pública.

“Com certeza vamos em busca desse reconhecimento para o futebol paraibano”, disse Walter Júnior, presidente do Treze.

Comemorando o seu centenário em 2019, o Central de Caruaru é o clube mais inquieto para que a situação se resolva rapidamente. O presidente Márcio Porto conta com o apoio da Federação Pernambucana e comemorou a repercussão da entrega da taça simbólica no último sábado no Lacerdão.

“Decidimos fazer uma réplica do troféu da Série B de 1986 como parte das comemorações do centenário do Central. É pensamento nosso levar o assunto de volta para a CBF. Queremos que ela reconheça os quatro times campeões daquele ano”, disse.

Marcio Porto também sugere a união de todos os envolvidos para sensibilizar a CBF nessa empreitada.

“Vamos atrás de Treze, Inter de Limeira e Criciúma. Se os quatro estiverem unidos, podemos conseguir esse reconhecimento na CBF. Juntos, vamos ver o direito legal para isso”, concluiu o presidente centralino.

Clubes têm razão?

O fato é que a CBF evita tocar no assunto. E como o site oficial não traz referências a títulos nacionais, o campeonato de 1986 acaba esquecido. De qualquer forma, os clubes têm alguns bons argumentos para sensibilizar a entidade a reconhecer o título da Série B.

Oficialmente, o Torneio Paralelo fazia parte da primeira divisão do Campeonato Brasileiro de 1986. Mas suas estatísticas, como artilharia, renda, público – jamais contaram para os números da primeira divisão. Em tese, eram 36 times – quatro grupos de nove – brigando por quatro vagas na segunda fase daquele campeonato. Apenas o campeão de cada um deles avançava.

Time do Central que venceu um dos grupos do Torneio Paralelo de 1986: Patativa espera que título seja reconhecido pela CBF — Foto: Assessoria Central

Time do Central que venceu um dos grupos do Torneio Paralelo de 1986: Patativa espera que título seja reconhecido pela CBF — Foto: Assessoria Central

Era um acesso dentro do mesmo ano. Na história, já tivemos situações parecidas cujos times também foram reconhecidos como campeões nacionais pela CBF. Em 1984, o Uberlândia ganhou a Taça de Prata e foi alçado à primeira divisão no mesmo ano. Ou seja, poderia ter sido campeão das séries A e B. O fato se repetiria no ano 2000, com a Copa João Havelange – Paraná e Malutrom foram ao mata-mata, mas não perderam o status de campeões das séries B e C, respectivamente.

Treze e Central se apegam a isso e se consideram campeões da Série B de 1986. Ambos têm a façanha pintada nos muros de seus estádios e agora esperam pelo reconhecimento oficial três décadas depois. Para os dois, isso teria um simbolismo ainda maior, pois faria de ambos os primeiros campeões nacionais de seus respectivos estados.

As campanhas

Treze, Central, Inter de Limeira e Criciúma precisaram disputar oito jogos cada um no Torneio Paralelo de 1986 para vencerem seus respectivos grupos. Pelo regulamento, só havia jogos de ida, em tabela dirigida – quatro jogos em casa e quatro fora.

O reduzido número de jogos, que poderia minimizar o feito de campeão nacional, não é uma justificativa baseado nos regulamentos da época. Isso porque, normalmente, as divisões de acesso na década de 80 tinham fórmulas parecidas. O Guarani foi campeão da Taça de Prata de 1981 com 15 jogos. Na sequência, vieram Campo Grande (1982, 10 jogos), Juventus (1983, 9 jogos), Uberlândia (1984, 10 jogos) e Tuna Luso (1985, 10 jogos).

Jorge Hipólito, durante homenagem em Campina Grande: ele era o goleiro do Treze no Torneio Paralelo de 1986 — Foto: Divulgação / Treze

Jorge Hipólito, durante homenagem em Campina Grande: ele era o goleiro do Treze no Torneio Paralelo de 1986 — Foto: Divulgação / Treze

Veja a campanha de cada um no Torneio Paralelo de 1986:

Treze
7/setembro/1986 – Treze 1 x 0 Ferroviário
10/setembro/1986 – Treze 1 x 0 Guarany-CE
13/setembro/1986 – América-RN 0 x 0 Treze
18/setembro/1986 – Sport Belém 1 x 2 Treze
21/setembro/1986 – Treze 2 x 0 River-PI
25/setembro/1986 – Rio Negro 0 x 0 Treze
28/setembro/1986 – Treze 2 x 0 Moto Club
2/outubro/1986 – Maranhão 1 x 0 Treze

Central
7/setembro/1986 – Central 2 x 1 Desportiva
14/setembro/1986 – Central 2 x 0 CRB
18/setembro/1986 – Taguatinga 2 x 1 Central
21/setembro/1986 – Goytacaz 1 x 0 Central
25/setembro/1986 – Central 1 x 0 Catuense
28/setembro/1986 – Confiança 0 x 1 Central
2/outubro/1986 – Central 2 x 0 Americano
5/outubro/1986 – Fluminense de Feira 2 x 2 Central

Inter de Limeira
14/setembro/1986 – Inter de Limeira 3 x 1 Santo André
16/setembro/1986 – Inter de Limeira 2 x 0 Uberlândia
18/setembro/1986 – Juventus 1 x 0 Inter de Limeira
24/setembro/1986 – Inter de Limeira 2 x 0 América-MG
28/setembro/1986 – Ubiratan-MS 2 x 2 Inter de Limeira
30/setembro/1986 – Mixto 0 x WO Inter de Limeira
2/outubro/1986 – Inter de Limeira 4 x 0 Anápolis
5/outubro/1986 – Itumbiara 0 x 2 Inter de Limeira

Criciúma
7/setembro/1986 – Criciúma 2 x 0 Novo Hamburgo
14/setembro/1986 – Criciúma 1 x 0 Avaí
18/setembro/1986 – Marcílio Dias 1 x 1 Criciúma
21/setembro/1986 – Brasil de Pelotas 1 x 2 Criciúma
24/setembro/1986 – Criciúma 3 x 1 Londrina
28/setembro/1986 – Pinheiros 1 x 2 Criciúma
1/outubro/1986 – Criciúma 1 x 0 Juventude
5/outubro/1986 – Cascavel 0 x 0 Criciúma

Nordestinos campeões

A lista de nordestinos campeões brasileiros tem dez times, começando pelo Bahia, na Taça Brasil em 1959. Sport ganhou as séries A e B e ainda tem um título da Copa do Brasil. E o Sampaio Corrêa é o único time do país a vencer três divisões – séries B, C e D.

Campeão da Taça Brasil de 1959, o Bahia foi o primeiro time nordestino campeão nacional — Foto: Divulgação/EC Bahia

Campeão da Taça Brasil de 1959, o Bahia foi o primeiro time nordestino campeão nacional — Foto: Divulgação/EC Bahia

Confira a lista de todos os nordestinos campeões nacionais.

Taça Brasil
1959 – Bahia

Campeonato Brasileiro
1987 – Sport
1988 – Bahia

Copa do Brasil
2008 – Sport

Campeonato Brasileiro da Série B
1972 – Sampaio Corrêa
1990 – Sport
2018 – Fortaleza

Campeonato Brasileiro da Série C
1997 – Sampaio Corrêa
2010 – ABC
2013 – Santa Cruz
2017 – CSA

Campeonato Brasileiro da Série D
2010 – Guarany-CE
2012 – Sampaio Corrêa
2013 – Botafogo-PB
2018 – Ferroviário

Autor: Expedito Madruga, do GloboEsporte/PB