Tiroteio, explosão em laboratório e alunos bancando materiais: o descaso no Campus I da UFPB que gera greve estudantil

Alunos de Gastronomia, do Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Regional (CTDR) do Campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), localizado no bairro Mangabeira, em João Pessoa, entraram em greve por indeterminado a partir desta quarta-feira (11). Os principais motivos são problemas estruturais, falta de insumo – os alunos custeiam materiais para terem aulas práticas – e falta de segurança no local. Apesar de não paralisarem as atividades, alunos dos cursos de Tecnologia da Produção Sucroalcooleira e Tecnologia dos Alimentos, que integram o CTDR, apoiam o movimento e também focam no problema da segurança.

“Nossa paralisação se deu por conta do nosso departamento e da UFPB, devido a muito descaso. Tem descaso do departamento, que não consegue negociar com os fornecedores. Tem descaso da reitoria, porque Margareth [Diniz, a reitora] sabe do problema, inclusive, ela foi no CTDR na semana passada, e se comprometeu em resolver nossos problemas pela quinta vez. Tomamos essa medida drástica, que ninguém tinha feito, que é paralisar as aulas. Estamos paralisados pela segurança, tanto patrimonial quanto nos laboratórios, pelos recursos e problemas estruturais”, afirmou Arthur Filho, representante dos alunos.

Alunos divulgam os problemas e a greve por tempo indeterminado (Foto: Reprodução/Instagram)

Falta de segurança

Na última sexta-feira (6), um tiroteio aconteceu nas imediações do CTDR e alunos relataram que bandidos tentaram invadir a instituição de ensino. De acordo com o representante dos alunos, essa não é a primeira ação criminosa que acontece nas imediações do campus e coloca a integridade dos alunos em risco.

No mesmo dia, a coordenação de um dos cursos enviou um e-mail para os estudantes suspendendo as aulas e destacando que a decisão foi motivada para “preservar a integridade dos servidores e alunos”.

E-mail enviado por coordenador para os alunos que confirma o incidente na sexta-feira (Foto: Reprodução/Gmail)

A falta de segurança também é uma das pautas que os alunos reivindicam. A quantidade de guardas armados no local parece não ser suficiente para garantir a segurança. “O assalto foi em frente ao CTDR. Em outra oportunidade chegaram a roubar a arma do segurança. Tem muita insegurança no trajeto que fazemos até o campus. A segurança que reivindicamos envolve nossa segurança física e também na questão estrutural”, disse o representante dos alunos.

Explosão

Em novembro do ano passado, uma explosão aconteceu em um dos laboratórios de Gastronomia (cozinha) que serve como local de aulas práticas para alunos do curso de Gastronomia. Conforme relatos de discentes, um vazamento num botijão de gás teria ocasionado um princípio de incêndio. Uma aluna do terceiro período teria queimado a região das mãos – ela já está bem de saúde. O problema teria acontecido por conta da falta de instalação apropriada para o gás na cozinha.

Alunos relatando o incidente com a explosão e destacando a falta de aulas práticas (Foto: Reprodução/WhatsApp)

 

“Em novembro a gente tinha um forno com vazamento de gás, a menina foi ligar o forno e explodiu. Ela queimou a ponta dos dedos, e outro aluno queimou os cabelos”, relatou Arthur.

Para continuar com as aulas na cozinha, foi sugerido por setores da instituição que fosse feito um furo na parede por onde passasse a mangueira do botijão de gás, que ficaria do lado de fora do laboratório. Com isso, ao fim de cada aula, teria que ser desinstalado este sistema temporário.

Falta de insumos e alunos bancando materiais

A falta de insumos para proporcionar as aulas práticas é outro ponto importante da paralisação dos estudantes. Alimentos e insumos (óleo, azeita, temperos, etc) são custeados por alunos desde que iniciaram a graduação. “Somos estudantes e muitos não têm renda fixa, o que complica tudo. Estamos no ensino público, que deveria ser de qualidade. A UFPB recebe milhões e é como o CTDR não existisse”, afirmou um dos alunos, que preferiu não se identificar. Somente uniforme e utensílios pessoais deveriam ser custeados pelos alunos, os outros itens seria dever da UFPB fornecer.

“Além das debilidades estruturais, existem os descasos por parte da UFPB sobre recursos. Estamos numa universidade pública, mas os insumos são bancados por nós. Isso é um problema bancado pela universidade. Abriram dois pregões, mas ninguém [empresa] se candidatou, e mesmo assim os técnicos responsáveis não foram em busca de adquirir os produtos, eles não se movem nem por isso”, disse Arthur Filho.

Aulas já foram canceladas pela falta de insumos, já que por uma opção democrática, se todos os alunos ou grupos não puderem arcar com as despesas a aula prática é cancelada, para dar o direito de todos aprenderem e não defasar o ensino de nenhum graduando. Inclusive, os professores não colocam faltas nos alunos nesses casos.

Rifa para bancar aulas

Conforme informações de alunos, no ano passado chegou a ser sugerido para eles que criassem uma rifa para capitalizar recursos que seriam revertidos para compra de materiais como torneiras, utensílios, além de bancar reformas de bancadas.

Os professores, temendo a falta de aulas para os alunos, chegam a consultá-los para saber o que pode ser feito, já que os problemas são ocasionados pelo descaso da UFPB. Há a promessa de autorização de compras, que nunca chegam.

Abaixo, segue na íntegra a mensagem de um docente para uma turma do curso:

“Oi gente, boa tarde! Eu gostaria de saber de vcs [sic] como iremos fazer com nossa aula semana que vem. Se a autorização de compras ou os insumos chegarem, acredito que não chegam a tempo da nossa aula na segunda. Quero saber como vcs [sic] querem fazer: se arcam com os insumos, se vcs [sic] adquirem insumos para fazer aula demo, se temos aula teórica, enfim, gostaria de uma posição de vcs [sic]”.

Reunião do Consepe

Alguns alunos estiveram no Campus I no bairro Castelo Branco, no Centro de Vivência protestando e reunidos para anunciar a greve. Houve uma reunião do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) nesta tarde.

Reunião do Consepe nesta quarta-feira, onde alunos de Gastronomia pautaram os problemas no CTDR

“Pautamos os problemas no CTDR. Alguns conselheiros conversaram com alunos, mas disseram que o Conselho não tem autonomia para decidir sobre verbas para sanar os problemas”, informou Arthur Filho.

Conforme o representante dos alunos, foi definido em assembleia que caso o descaso continue, os discentes vão entrar com uma representação no Ministério Público.

Com a palavra, a UFPB

A reportagem do Paraíba Já entrou em contato com a assessoria da Reitoria da UFPB, e foi informado sobre a resolução para os problemas com insumos, gás e extintores.

“Insumos para aulas: sexta-feira (13) será entregue o primeiro lote. Extintores: os extintores do CTDR estão sendo recarregados por uma empresa contratada. Esperamos a devolução em uma semana. Gás: Superintendência de Infraestrutura fez um pré-projeto. Será feita uma reforma. Esperamos iniciar o serviço na sexta-feira (13)”, diz nota da UFPB.