Teatro Santa Roza com Z

Ontem a comunidade artística da Paraíba estava em festa. As portas do Teatro Santa Roza, com Z, conforme me alerta o amigo, poeta e jornalista Carlos Aranha, foram reabertas. Depois de quase 27 anos sem reformas, já em estado de profundo abandono, o Teatro finalmente foi reformado, modernizado e entregue aos artistas e à população. Uma decisão corajosa e coerente do Governador Ricardo Coutinho. A reforma começou em 2013. Um pouco mais de três anos, pois. Um trabalho difícil, uma vez que o prédio é tombado. Era necessário e urgente, mexer um tudo sem mudar nada. Em alguns momentos, infelizmente, tive a impressão que a reforma incomodou mais que a degradação. Tem sido assim. Difícil constatar que queremos trabalhar um plano estadual de patrimônio e memória, sabendo que boa parte do segmento não se importa muito com isso. É como se reforma e modernização de equipamentos culturais não fosse um tipo de fomento e estímulo à produção. Enfim, chegamos ao fim da estrada. O Santa Roza está de volta.

Mais um capítulo na história do nosso grande teatro. Segundo o ator e diretor Luiz Carlos Vasconcelos, o mais belo do Brasil. Estou de pleno acordo, aliás. Inaugurado em 1889, teve sua pedra fundamental lançada 16 anos antes, em 1873. De lá para cá se passaram 127 anos, completados neste dia 5 de novembro de 2016. Em todo esse tempo algo chama a atenção. Apenas 5 governadores se preocuparam com este precioso equipamento. Foram eles, Camilo de Holanda, José Américo de Almeida, Ernani Sátiro, Tarcísio Burity e Ricardo Coutinho. Burity foi governador por duas vezes e nas duas ocasiões fez intervenção no teatro. O Santa Roza chegou a ficar 38 anos no abandono. Nos últimos 27 anos passaram diversos governos de políticos que ainda estão na ativa. No entanto, a despreocupação com o patrimônio cultural do Estado foi uma marca das gestões que antecederam Ricardo Coutinho. Houve um sucateamento generalizado e toda a classe artística pagou um preço alto por isso. Pois ficamos um bom tempo sem espaços de cultura, devido às necessárias reformas.

Algumas personalidades foram homenageadas ontem. José Enoch, um ícone da dança brasileira. Zezita Matos que, na novela Velho Chico, mostrou ao Brasil o seu incontestável talento. Maria Valéria Resende, uma escritora que coleciona prêmios Jabuti e é uma das mais lidas pelos jovens, atualmente. Também teve troféu para o artista plástico Flávio Tavares, um nome de ponta das artes no país e, finalmente, o bruxo da contracultura, das transgressões, das vanguardas e do engajamento com as lutas do povo: o guerrilheiro cultural Pedro Osmar. A homenagem prestada pelo Governo do Estado foi o troféu Pedra Bonita. Elaborado pelo artista plástico paraibano José Crisólogo. Crisólogo soube captar de forma genial o sentido proposto pela homenagem. Pedra Bonita foi o primeiro romance de José Lins do Rego e fala do messianismo e do cangaço. Ele fez uma peça que retrata exatamente essas duas fortes representações da formação cultural nordestina.

Enfim, o Teatro Santa Roza tem uma história de alegrias, tristezas e até mesmo tragédias. Sobretudo, muita arte. Mas, não apenas arte. Foi palco também de fatos históricos. Por exemplo, a Assembleia Legislativa estava funcionando no teatro quando decidiu mudar a bandeira e o nome da capital, de Parahyba para João Pessoa. Em 1900, mais exatamente no dia 12 de junho, o mágico sueco Jau Balabrega morreu no palco, juntamente como seu assistente, Lui Bartelle, após a explosão de um projetor movido à querosene. O Santa Roza ecebeu companhias vindas do país e do mundo. Espetáculos, operetas, saraus, reuniões. Artistas renomados como Paulo Autran, Procópio Ferreira, Maria Dela Costa e tantos outros. Um palco para a consagração de artistas paraibanos como Elba Ramalho, Zé Ramalho, Fernando Teixeira, Anunciada Fernandes, Ednaldo do Egypto e muitos e muitas expressões das artes cênicas da Paraíba. Ontem na sua reabertura deu uma pane elétrica ainda não esclarecida. Parece que as surpresas também fazem parte da história do Teatro Santa Roza. Uma oscilação inesperada na energia interrompeu o espetáculo “Como Nasce Um Cabra da Peste”. Nada que não possa ser corrigido porque daqui pra frente é a arte que importa.