Suspeito de ter diploma falso, professor da UFPB deu aula em 8 faculdades

Ele trabalhava como professor na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) havia dez anos. Era descrito como um”ótimo profissional” e “altamente preparado” por seus alunos, com “muito conhecimento dos assuntos”. Era um professor focado, com aulas dinâmicas e que prendiam a atenção dos estudantes. Antes de chegar à UFPB, passou por pelo menos oito faculdades em Estados como Pernambuco e Maranhão.

Até que em fevereiro, o professor universitário Deyve Redyson Melo dos Santos foi afastado do trabalho. A suspeita é que ele tenha apresentado diplomas falsos, motivo também que gerou um inquérito na PF (Polícia Federal).

Redyson foi chamado a depor no dia 31 de março, mas preferiu ficar calado –direito previsto na Constituição Federal.  Sua advogada, Kátia Farias, justificou que a situação causou um “impacto tremendo” na vida dele. “Um dia a pessoa tem uma vida pessoal e profissional totalmente organizada, no outro tudo está desconstruído”, afirmou.

O afastamento, segundo Farias, pegou o professor de surpresa. “Nessa época, em fevereiro, ocorreu tanto o afastamento da instituição, sem remuneração, quanto a busca e a apreensão dos diplomas e documentos pela Polícia Federal. Foram atos conjuntos. Tudo ocorreu no mesmo dia e ele não tinha qualquer conhecimento sobre nenhum procedimento administrativo ou policial envolvendo seu nome”.

Uma denúncia anônima apontou a suspeita de o professor usar diplomas falsos em seu currículo.

Ao cumprir o mandado de busca, a PF recolheu todos os diplomas de Redyson, inclusive um de doutorado. O mandado foi cumprido no apartamento do professor. No site da Justiça Federal é possível ter acesso ao pedido de busca e apreensão criminal.

No mesmo dia, foi afastado preventivamente pela universidade, enquanto os diplomas foram levados para a perícia. A investigação criminal permanece em segredo de Justiça. A PF afirmou que, como regra, não se pronuncia sobre inquéritos em andamento.

Se confirmado que os diplomas são falsos, o professor pode responder por estelionato e falsidade ideológica.

Nos corredores da UFPB, onde ele dava aulas, os alunos dizem ter ficado surpresos com o que aconteceu e que torcem para que tudo não passe de um engano.

Lenilson Guedes, do curso de ciências das religiões, disse que a desenvoltura do professor na sala de aula nunca levantou nenhuma suspeita. “Ele era uma pessoa altamente preparada, dominava bem a matéria que ensinava. Jamais passou pela cabeça dos alunos que tivesse utilizado esse artifício para ingressar na universidade como professor. Preparo, ele tem. É bem preparado intelectualmente”, disse.

O inquérito está em fase de conclusão e, em seguida, será encaminhado para o Ministério Público. A partir daí, cabe ao Ministério Público apresentar ou não denúncia contra o professor, após analisar se há provas suficientes. Se a Justiça aceitar a denúncia, o professor se torna réu e passa a responder a processo judicial.

Conforme seu currículo no sistema Lattes, ele é doutor em filosofia e pesquisador na área de pensamento oriental com ênfase no budismo, filosofia da religião, ateísmo em Schopenhauer, Feurbach e educação e religião.

Também aparece como autor de livros e artigos sobre esses temas. A obra mais recente é “Os Caminhos do Dharma no Brasil: História e Desenvolvimento do Budismo no Brasil”, publicado em 2016 pela editora CRV. Outro livro de sua autoria é “Budismo Tibetano: História, Filosofia e Religião”, pela editora UFPB.

Entre os livros como autor e coautor, Redyson tem 24 obras, conforme informações de seu currículo. Participou de 42 bancas de mestrado, duas de doutorado e 39 de graduação, o que sugere que ele tinha carisma entre os estudantes.

Redyson também participou de comissões em concursos para professor em várias instituições. Das nove seleções, sete foram realizadas pela UFPB.

Na página do curso, seu nome não consta na aba de docentes da graduação, mas figura na página da pós-graduação em ciências das religiões.

A instituição informou, por meio da assessoria de imprensa, que, logo que o professor Deyve Redyson foi afastado, a UFPB tomou as medidas determinadas pela Justiça Federal, suspendendo, sem vencimentos, o professor, até a conclusão da ação que tramita na Polícia Federal.

Ainda segundo a assessoria, os alunos do professor afastado não sofreram prejuízo no período acadêmico porque as aulas estão sendo ministradas por professor substituto.

A UFPB informou também que os próximos passos do processo dependem da Justiça, “uma vez que as denúncias não foram dirigidas à UFPB e sim à PF”.

Para a advogada, Redyson continuará a colaborar com as autoridades e comparecerá às audiências sempre que for chamado, “mas com respeito a seus direitos como cidadão, apresentando sua defesa em momento oportuno”. As informações são do Uol.