Sem apoio dos jornais, tirinhas ainda procuram espaço para publicação

Ao perceber uma carência do mercado editoral brasileiro a respeito das tirinhas, o professor, pesquisador e quadrinista paraibano Henrique Magalhães criou a Maria Magazine, estampando sua principal e mais antiga criação, além de abrir espaço para que outros artistas locais e nacionais publicassem suas tirinhas. Agora, através de sua editora independente, a Marca de Fantasia, o sexto volume da publicação está disponível para venda.

O modelo de revistas como Patota, Eureka, Grilo, O Bicho, Fradim e Chiclete com Banana serviu de inspiração para Maria Magazine. “É uma revista coletiva de humor. Um espaço que estou garimpando para nós quadrinistas que gostamos de tirinhas”, conta Henrique. Além das tiras de Maria, os trabalhos de Anita Costa Prado e Ronaldo Mendes (Katita) e de Ricardo Jaime (Espedito), também há espaço para a turma de Macambira e Sua Gente.

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Retratando situações do universo LGBT, Henrique afirma que sentiu vontade de fazer uma tirinha com a temática por perceber que havia uma lacuna a ser preenchida. “As primeiras tirinhas foram criadas no fim da década de 1990, quando a figura do gay nos quadrinhos ou em outros produtos midiáticos era praticamente inexistente. Queria fazer um quadrinho sobre essa realidade, a qual eu vivo, e boa parte do que está nas tirinhas é fruto da minha vivência ou observação dos círculos de amigos”, explica.

Esse desaparecimento das coletâneas e compilações preocupa o pesquisador, que analisa esse fenômeno como um sinal de decadência do mercado de quadrinhos no país e em outros países. “Com o sumiço, há uma tendência, a meu ver prejudicial, desse tipo de arte migrar para um suporte elitista e menos acessível, como os álbuns”, argumenta Henrique Magalhães.

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A situação se agrava ainda mais em relação às tiras humorísticas, que não encontram espaço. “Os jornais impressos estão com cada vez menos tiras e quadrinhos. Era o principal suporte para a divulgação desse tipo de arte, mas não há mais interesse. Como conseqüência, a gente vê um esvaziamento de público, dificultando o contato com novos leitores, que não têm mais acesso às tiras. Com isso, menos autores se sentem estimulados a fazer suas artes em formato de tira. É um círculo vicioso”, explica o professor.

Para ele, assim como a charge, a tirinha também faz uma reflexão crítica a respeito da sociedade. “Infelizmente, elas não são valorizadas como deveriam, tanto por sua história quanto por sua relevância artística até hoje”. Na perspectiva da Paraíba, as tirinhas foram, na visão de Henrique, primordiais para o surgimento de uma produção de quadrinhos consistente, com artistas de reconhecimento nacional e até mesmo internacional.

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Nomes como Mike Deodato Jr., Jack Herbert e Shiko são reconhecidos por seu trabalho, ilustrando trabalhos de estúdios nacionais e internacionais. “Além disso, o estúdio Made in PB vem fazendo um trabalho de descoberta de artistas importante”, completa Henrique, citando ainda nomes em destaque da cena paraibana, como Thaïs Gualberto, Luyse Costa e o próprio Ricardo Jaime.

Thaïs, por sinal, está com sua produção de tiras humorísticas em plena atividade, a Kisuki, através das redes sociais e de um blog. Na visão do professor, é uma alternativa que quadrinistas estão encontrando para fazer com que sua obra alcance o público.

Por André Luiz Maia