“Se você der o valor, eu pego com o caba”, disse Diego Tavares, secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura de João Pessoa, ao secretário de Saúde da PMJP, Adalberto Fulgêncio, em uma em que ambos falam sobre possíveis formas de arrecadar recursos públicos para a campanha eleitoral. A questão que estaria discutida, no momento, era de quem seria a pessoa ‘exposta’ para facilitar a operação.

Adalberto se diz muito ‘exposto’ na prefeitura, por conta de sua posição. “Quem vai para imprensa? Quem briga com o Ministério Público? Quem vai pro TCE? Então, eu tô muito exposto!”, declara o secretário de Saúde.

Após uma certa discussão, Diego Tavares resolve: “se for só pra pegar, eu resolvo. Qual o dia que o caba vem? Eu venho tal dia, meu amigo, nesse dia aqui, certo, cada um com uma estratégia, você não pode fazer a mesma estratégia, cada um tem que ter uma estratégia, concorda? Eu não posso chegar, entregar todo mundo no mesmo local e tal”, continua.

A conversa continua com o acerto de detalhes da estratégia e, também, de quais empresas seriam as mais indicadas para participar do esquema.

Entenda o caso

A gravação é de uma reunião entre os secretários de Saúde de João Pessoa, Adalberto Fulgêncio, e o de Desenvolvimento Social, Diego Tavares, em que combinam como arrecadar recursos públicos para a campanha eleitoral do ano passado. A Polícia Federal já estaria de posse áudio, seria a partir de escutas provenientes da Operação Irerês, que investiga o desvio de R$ 10 milhões da gestão do prefeito Luciano Cartaxo (PV).

O diálogo ocorreu no final de março de 2018, em que Diego, à época, ainda ocupava a superintendência do Instituto de Previdência de João Pessoa (IPM). Outras escutas envolvendo ‘figuras de proa’ da PMJP teriam sido feitas, mas o portal ainda não obteve para posterior publicação.

Adalberto sugere, ao longo da conversa, que o prefeito Luciano Cartaxo (PV) estaria sabendo das ‘operações’ e que até mesmo teria pedido para que o fizessem. “Vamos tentar resolver aqui para não ter que conversar com o prefeito. Por mim, dar até pra ir pra lá, mas acho que… Porque ele é igual a você. Num é isso?”, diz Fulgêncio. “Agora, se o prefeito chegasse aqui e dissesse ‘Adalberto, mande ele operar’, mas eu acho que é melhor ficar entre eu e você do que ficar com outras pessoas”, acrescenta o secretário de Saúde.

Durante a conversa, são citadas algumas empresas que poderiam servir aos propósitos, como é o caso da Mercúrio e da Kairós. falando sobre a Mercúrio, Adalberto diz, por exemplo, que criou uma relação com a empresa. “Aí eu criei uma relação de todo mês, um negócio aqui, outro aqui… então, eu criei uma relação de intimidade com ele. ‘Tu agora vai ajudar aqui’ e ele ajudou. Ele ajudou, eu não tiro a razão dele, que ele, que ele desvia, tá certo?”.

O outro lado 

Em nota conjunta, os secretários da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), Adalberto Fulgêncio e Diego Tavares, explicaram que os áudios divulgados com exclusividade pelo Paraíba Já, que indicam a operacionalização de Caixa 2 na campanha eleitoral do ano passado, não revelavam nada além de “conjecturas e análises genéricas” sobre a campanha e que não havia nada de irregular.

Os secretários municipais Adalberto Fulgêncio e Diego Tavares, Saúde e Desenvolvimento Social, respectivamente, a respeito de gravação de uma conversa entre ambos, divulgada por um portal de notícias da Capital, esclarecem o seguinte:

– o diálogo, segundo a própria notícia divulgada, teria ocorrido no início de março de 2018, soando estranho o fato de que somente agora, quase um ano depois, a gravação tenha sido divulgada;

– a conversa, na verdade, se trata apenas de conjecturas e análises genéricas sobre como ocorreria à futura campanha, além de preocupações a cautelas a serem observadas, não contendo nada que indique ação irregular.

João Pessoa (PB), 11 de fevereiro de 2019.