“Saiu hoje?”: Teich é pego de surpresa com novos serviços essenciais incluídos por Bolsonaro

Aparentando desconforto, o ministro ensaiou uma resposta falando sobre a criação de fluxos que "impeçam que as pessoas se contaminem"

O ministro da Saúde, Nelson Teich, foi pego de surpresa hoje durante entrevista coletiva da pasta, ao saber por um jornalista que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) havia incluído academias de ginástica, salões de beleza e barbearias entre os serviços considerados essenciais para funcionar a pandemia do novo coronavírus.

“Saiu hoje?”, reagiu ao ser questionado por um repórter, que queria saber se o Ministério da Saúde concordava com isso e se houve alguma orientação da pasta para a tomada dessa decisão. A entrevista acontecia no momento em que o decreto de Bolsonaro era publicado no Diário Oficial da União.

Aparentando desconforto, o ministro ensaiou uma resposta falando sobre a criação de fluxos que “impeçam que as pessoas se contaminem” desde que sejam atendidos pré-requisitos para que não se exponham a riscos.

“Você pode trabalhar o retorno de algumas coisas. Agora, tratar isso como essencial é um passo inicial”, disse a princípio. “Saiu hoje?”, afirmou interrompendo seu raciocínio. “Não é atribuição nossa, isso aí é uma decisão do presidente”, prosseguiu.

Na sequência, consultou seu secretário-executivo, o general Eduardo Pazuello, e minimizou o fato de não ter sido consultado dizendo que a pasta não opinará sobre a inclusão das áreas como atividades essenciais.

“O que eu acredito é que qualquer decisão que envolva a definição como essencial ou não, ela passa pela capacidade de fazer isso de uma forma que proteja as pessoas. Mas só pra deixar claro: é uma decisão do ministério da economia, não é nossa”, afirmou.

“Qualquer coisa que é decidida pode ser revista. Existe um diálogo que permite que a gente se posicione se for necessário”, concluiu.

“Fazer o cabelo é questão de higiene”, disse presidente
Ao deixar o Palácio da Alvorada na tarde de hoje, o presidente justificou o decreto publicado em edição extra do Diário Oficial da União afirmando que “saúde é vida”.

“Academia é vida. As pessoas vão aumentando o colesterol, tem problemas de estresse. [Com as academias] vão ter uma vida mais saudável”, disse. “A questão do cabeleireiro também. Fazer cabelo e unhas é questão de higiene.”

A fala ocorreu um dia depois de declarar a apoiadores, no domingo, que iria ampliar a lista de setores tidos como essenciais — e que, assim, podem continuar funcionando durante a pandemia.

“Vou abrir, já que eles não querem abrir, a gente vai abrindo aí.” A fala é mais uma da série de indiretas que o presidente vem feito, desde o início da pandemia, contra governadores e prefeitos que adotam medidas de isolamento social.