A reforma do Parque Solon de Lucena (Lagoa), feita pela atual gestão da Prefeitura de João Pessoa (PMJP), ou para os mais críticos com senso de humor negro, gestão Sucupira, é bonitinha, mas ordinária. Nunca antes na história de nossa Capital se adequou tanto o título da peça teatral de Nelson Rodrigues para poder classificar a obra tão cheia de mal feitos da sua concepção à sua entrega.
O que a população de João Pessoa presenciou na semana passada foi um milagre com precedentes bíblicos. Um homem tão embevecido com a visão da Lagoa, decidiu caminhar até o centro dela. Um ato temerário, para um pequeno lago donde foram retiradas mais de 200 mil toneladas de resíduos e que deveria ter aproximadamente 3,5 metros de profundidade.
O homem, achando que poderia ter na Lagoa uma experiência mais que vívida de que poderia nadar em uma grande piscina natural no coração da cidade também se frustou. É que ele chegou até o local que deveria ter profundidade suficiente para não tocar mais o chão e atestou que a água não passaria mais do que sua virilha. Que decepção para seu lazer! Ouvi dizer que pelos corredores da Controladoria Geral da União (CGU) ecoam as gargalhadas da certeza de que a retirada das 200 mil toneladas de lixo nunca existiu.
Tanto o homem quanto a equipe socorrista do Corpo de Bombeiros puderam fazer o que Jesus fez: andar sobre águas, sem afundar. Que fantástico… Com o entusiamo que o prefeito Luciano Cartaxo impõe ao defender que ter realizado intervenções naquele espaço histórico e centralizador de todas funções e emoções urbanas de nossa capital foi um ato de coragem, nada mais do que esperar que esse esforço único da gestão e até sobrenatural produziria milagres como este, ou como aquele de peixinhos surgirem no asfalto da Padre Azevedo.
É bonitinha, mas ordinária. É bonitinha porque a Lagoa novamente se tornou um parque, espaço para interações sociais que estavam estranguladas pela intensa mobilidade humana no anel interno. Agora os pessoenses tem mais uma opção de lazer, lugar para praticar esportes, realizar piquenique, enfim, se confraternizar.
Mas é ordinária. Nada mais esquisito do que negar à população o debate sobre como fazer a revitalização daquele pedaço do Centro Histórico, bem como de documentos e até mesmo cronograma de obras às instituições fiscalizadoras. Lembremos da Promotoria do Patrimônio Histórico-Cultural e Paisagístico de João Pessoa, que teve que ameaçar entrar na Justiça para ter acesso a documentos tão corriqueiros da obra.
Lembremos também do quão tosco é pensar que 200 mil toneladas de lixo foram transportadas para o Aterro Sanitário em mais de 30 motos. Inacreditável, não é? Mas foi o que a atual gestão PMJP, que insiste em tornar João Pessoa em Sucupira, declarou à Controladoria Geral da União (CGU) e que até agora não soube explicar e detalhar com precisão ao Ministério Público Federal (MPF) os tais veículos regulares que foram usados e em quais horários.
Lembremos também que uma semana após a inauguração, parte do piso novinho em folha não aguentou a primeira chuva: descascou, o que rendeu muitos memes na internet.
Mas o secretário de Infraestrutura Cássio Andrade fez questão de passar recibo da ineficácia da retirada das 200 mil toneladas de lixo e da feitura do super túnel da Lagoa. Ele explicou que o homem não afundou porque a PMJP não manteve um cronograma de drenagem no Parque mesmo após entregue. Acredite: todo o esgoto produzido pelos bairros Jaguaribe, Centro e Tambiá ainda escoam por lá e já encheu a Lagoa o suficiente para novamente estar rasinha, rasinha. Se esta for a razão, esperemos que a Lagoa não se extingua e vire uma montanha de lixo.