“Quem está empregado, está com medo de gastar e se endividar, e está consumindo pouco”, diz economista

Na intenção de traçar um panorama do cenário de 2016, o Paraíba Já entrevistou o economista Paulo Filho, para saber quais são as perspectivas na economia em tempos de crise.

O economista foi categórico ao afirmar que a crise continuará. “O cenário pra 2016 serão variantes de um mesmo padrão. Pode ser ruim, muito ruim ou péssimo. O que a gente tá carregando de 2015 já compromete 2016, porque o cálculo do PIB para um ano é, digamos assim, comprometido pelo desempenho do ano anterior também. Então o PIB de 2016 tende a ser negativo também. A intensidade com que isso vai acontecer depende de elementos que estão, a maior parte dele, fora do controle do governo federal, e claro dos governos estadual e municipal, que também vão sofrer”, revelou.

Paulo ressaltou a importância de elementos importantes que podem puxar o crescimento da economia. “Do ponto de vista da recuperação do PIB, do crescimento econômico e do emprego, a economia depende de quatro elementos que poderiam puxar esse crescimento. Um é o investimento privado, só que os investidores privados estão, com essa situação política e econômica, temerosos de investir, eles já estavam recuando seus investimentos antes mesmo de a crise assumir essas proporções de 2015. Em 2014 eles já vinham segurando seus investimentos, e diante desse cenário de incerteza eles estão esperando a economia se recuperar. Você imagina, se as vendas de automóveis caírem 30%, uma empresa vai planejar construir uma planta nova. A própria recessão e o cenário de incertezas políticas fazem com que os investimentos tendam a ficar estagnados em 2016. “, ressaltou.

“O que pode tentar fazer alguma coisa, é abrindo oportunidades de investimentos do setor privado, que são leilões de concessão, de serviços públicos, leilões de rodovias, coisas do tipo. Mas mesmo esses leilões, dado o temor do setor privado em colocar recursos e não obter retorno, eles tendem a ter uma baixa procura. Para que a procura fosse mais elevada, o Governo teria que oferecer condições mais vantajosas ao setor privado, em termos de rentabilidade. Isso se torna prejudicial as contas do Governo, porque pra fazer isso ele teria que abrir mão de algumas coisas, ou para os consumidores, por exemplo, permitir concessões de rodovias que o pedágio seja mais caro, para que esse aumento de rentabilidade cubra o risco. O consumidor, que é outro que deveria puxar a recuperação econômica, está desempregado. Quem não tem desemprego, está com medo de gastar e se endividar, e está consumindo pouco, e consumindo pouco as vendas de comércio cai. É um efeito dominó”, disse.

Paulo enxerga que algumas das possíveis saídas mais imediatas para a crise estão obstruídas.”Fora o setor privado e doméstico, os investidores e consumidores, resta mais dois elementos, o setor externo e o Governo. O setor externo, nós não temos nenhum controle sobre ele, a gente dependeria de uma súbita aceleração do crescimento chinês, e o que vem acontecendo com a China é justamente o contrário, ela vem desacelerando, e uma recuperação da economia européia e de outras economias aqui da América Latina, para puxar as exportações brasileiras, e isso não está no cenário, não parece ser um cenário provável para 2016. Pode ser que no segundo semestre de 2016, algo no setor externo comece a acontecer. Não é muito provável, até porque Brasil e Estados Unidos já mexeu nessa política monetária sinalizando o aumento nas taxas de juros lá nos Estados Unidos e isso deverá atrair recursos do mundo inteiro para a economia americana. Então o setor externo também não é muito promissor”, analisou.

“A desvalorização do real poderia ajudar, e já vem ajudando. O Brasil já voltou a ter um superávit na balança comercial. Ele entrou em déficit no final de 2014, mas ele se recuperou no segundo semestre e já tá em superávit. Mas era preciso que esse crescimento fosse extremamente elevado, então por aí também não tá muito promissor. E por fim, o Governo Federal. O Governo Federal em 2015, foi o principal responsável pela crise econômica. A crise não é uma surpresa, e isso é algo que é importante deixar claro, todas as economias passam por crises, isso é um processo natural em qualquer economia de mercado, vão ter momentos de alta e momentos de recessão”, salientou.

Sobre o ajuste fiscal, o profissional foi claro. “O problema brasileiro, é que toda a economia estava passando por um momento de reversão dessa trajetória, ou seja, a gente já estava passando por uma reversão das taxas de crescimento e o Governo Federal tomou a decisão de fazer uma nova orientação de política econômica, na direção do ajuste fiscal. O ajuste fiscal significou que o Governo cortou os seus gastos e decidiu aumentar os impostos. Ora, quando o Governo corta os seus gastos, todas as empresas que vendem para o Governo vão ter uma queda de vendas. E aí, claro, eles vão demitir”, declarou.

Paulo explicou ainda as consequências do aumento de impostos. “Quando o Governo aumenta os impostos, todo mundo fica com menos recursos para gastar, porque tá pagando mais imposto, e logo as vendas vão diminuir, e quem produz para os consumidores também vai cortar o emprego. Então, a política econômica do Governo, é como se a economia estivesse descendo uma ladeira lentamente, e vem o Governo e dá um empurrão e derrubou a economia, a economia saiu rolando ladeira abaixo. Passou-se um ano dessa política e agora com a troca de ministro, o Governo parece estar sinalizando que vai começar a parar de piorar. O que significa isso? Agora mesmo o Governo Federal decidiu conceder um aumento ao salário mínimo acima do que estava previsto no orçamento. Isso vai significar um aumento de gastos do próprio governo”, elucidou.

“Governos estaduais e municipais vão pagar esse salário mínimo mais elevado, e o setor privado também vai ter que pagar. Isso vai provocar um efeito expansivo na economia. Porque se uma pessoa que ganha 10 mil reais, tiver um aumento de 6 reais no salário dela, ela provavelmente não vai gastar esses 6 reais a mais. Mas a pessoa que ganha um salário mínimo, essa pessoa não vai poupar esses 6 reais. Então essa elevação no salário mínimo tende a gerar um aumento de gastos e isso vai aumentar as vendas no comércio para os produtos demandados. Quando o Governo parar de colocar a economia pra baixo, o cenário ruim de 2016 pode ser atenuado. O ministro Joaquim Levy estava lutando por duas coisas, uma, ele estava lutando parar cortar recursos do Bolsa Família e alterar a lei do salário mínimo para que não houvesse o ajuste, e essas duas medidas agravariam a recessão, mas foram suspensas. A melhor notícia para 2016 é que o agravamento da crise vai passar, tende a diminuir”, interpretou.