“Quem está ao lado da verdade não teme represálias”: TCE, MPPB, Famup e SindJor analisam papel da imprensa

Não só de ‘fake news’ vivem as ameaças ao jornalismo. A atividade jornalística vem sendo posta em xeque nos últimos anos no Brasil. Como consequência, notamos que as reportagens com tom de investigação são cada vez menos frequentes, por uma série de fatores – que passam por financiamento do veículo, e até mesmo ameaças pessoais.

Recentemente na Paraíba, uma série intitulada ‘Pra onde foi a grana?’, produzida pelo portal Paraíba Já, expôs gastos das Câmaras Municipais do estado. Um dos casos que foi levado à luz pela equipe de reportagem foi a ‘farra das diárias’ que acontece no Legislativo de Conde. Entre 2018 e os seis primeiros meses de 2019, a Casa de Cícero Leite já gastou mais de R$ 310 mil com diárias.

As denúncias resultaram na instauração de um inquérito civil do Ministério Público da Paraíba (MPPB). A promotora Cassiana Mendes Sá autorizou a investigação para apurar os gastos exacerbados com cursos e diárias.

Ministério Público da Paraíba, Tribunal de Contas do Estado (TCE), Federação das Associações de Municípios da Paraíba (Famup) e Sindicato dos Jornalistas (SindJor-PB) ressaltam a importância da imprensa para o fortalecimento da democracia e rechaçam os ataques proferidos por agentes públicos contra jornalistas.

Além disso, os representantes das entidades validam o caráter profissional e ético da atuação jornalística que tem como objetivo investigar possíveis irregularidades de políticos.

Arnóbio Viana – presidente do TCE-PB

Para o presidente do TCE-PB, a imprensa é fundamental para consolidação da democracia. “Ela tem que expressar a verdade dos fatos e transmitir à população, de forma transparente, os problemas que afetam a todos”, afirmou.

Conforme Viana, coibir ou tentar impedir o trabalho da imprensa, é um desserviço que se presta à democracia. Para ele, o papel da imprensa tem que ser fortalecido e o repórter tem que estar ao lado da verdade. “Quem está ao lado da verdade não teme represálias”, destacou.

Com relação aos ataques contra a imprensa, o presidente do TCE foi taxativo: condenável. “É condenável qualquer ação que tente coibir o repórter de trabalhar e prestar os seus serviços à sociedade no seu exercício profissional”, disse Arnóbio Viana.

Álvaro Gadelha – 2º sub-procurador geral do MPPB

Parceiro. Foi assim que o 2º Sub-Procurador Geral do Ministério Público da Paraíba Álvaro Gadelha classificou a imprensa. Para ele, é de suma importância ter a imprensa atuando em conjunto com o MPPB, para que as ações do poder tenham eficácia junto a sociedade – usando o jornalismo como ponte do conhecimento.

“Nossa matéria é investigar, consequentemente aquilo que tiver errado se procurar uma adequação ou punição. Se não tivermos respaldo popular, consequentemente vindo do apoio da imprensa, não vamos atingir aquilo que é nosso objetivo”, afirmou Gadelha. “O MP ele sobrevive da opinião pública, e essa opinião pública passa pelo crivo da imprensa”, ressaltou.

De acordo com Gadelha, o Brasil, queira ou não, está passando por um momento de transição, em que se criou uma cultura de fiscalização e seriedade. “Essa cultura vai passar pelo jornalismo eficiente, o jornalismo que traz a matéria à população, para que o povo possa realmente cobrar. Com essa mudança que vivemos na cultura de fiscalização, o jornalismo tem uma parcela muito grande nisso que está acontecendo”, pontuou o sub-procurador.

George Coelho – presidente da Famup

“É muito importante [a atuação jornalística no estado]. A imprensa deve ser livre, com responsabilidade nas informações”. A afirmação é de George Coelho, presidente da Federação das Associações de Municípios da Paraíba (Famup).

Conforme Coelho, nos idos atuais o poder da informação é muito forte. “Se tiver uma informação correta, de credibilidade, sempre vai estar à frente, com condição de fazer com que a vida das pessoas sejam bem melhores”, comentou sobre a eficácia de um jornalismo coerente e pautado na verdade.

Questionado sobre as reações que fogem do campo democrático – e visitam ares de tom fisiológico – , Coelho foi incisivo e afirmou que “não condiz com a vida pública”.

“Não condiz com a vida pública, com a prática [legislativa], e também com o comportamento de quem vive na vida pública. Se você tem algo de contraponto, que fale, se o veículo não lhe der o devido direito de resposta, procura-se outros meios, mas não cabe isso”, declarou o presidente da Famup.

Land Seixas – presidente do SindJor

O presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba (SindJor-PB), Land Seixas suscitou o dever do jornalista no tocante a prestação de serviços à sociedade. Com referências ao Código de Ética da profissão e aos momentos de estudo, ele definiu que o “jornalismo é um retorno para sociedade, é ponte para mostrar o que está acontecendo”.

“O papel da imprensa é esclarecer para sociedade todas as questões, quer seja interessantes, descobertas ou escândalos, e até mesmo qualquer tipo de falcatrua. É o papel do jornalista, através de sua reportagem, colocar para sociedade o que está acontecendo durante aquele caso ou fato. Isso é obrigação. Claro, preservando a fonte e direito de resposta, que a mídia hoje dificilmente consegue o direito”, comentou o presidente do SindJor-PB.

Com relação aos ataques pessoais e ameaças sofridas por profissionais da imprensa, Land repudiou tais condutas e apontou o caminho do diálogo para possíveis situações conflituosas.

“Se uma pessoa se acha atingida, ela tem que procurar seus direitos, não atingir moralmente o jornalista. Mas se defendendo com argumentos, de maneira lógica, e às vezes se ela se achar atingida moralmente ela acione a justiça. Não fazer como alguns agentes, como tratar mal repórteres e dizer coisas que são desagradáveis”, finalizou Land.

O jornalismo e os riscos

Para Glenn Greenwald, editor executivo do The Intercept Brasil, o jornalismo tem riscos. Em entrevista à Pública, no início do caso ‘Vaza-Jato’, o jornalista, responsável por casos como o de Snowden, deu a seguinte declaração:

“Se você não quer esses riscos, não deve fazer jornalismo”.