Quem é a artista venezuelana morta enquanto viajava de bicicleta pelo Brasil

Julieta Hernández, conhecida como Palhaça Jujuba, chegou ao país em 2015. Pedalando, a artista visitou diversas cidades brasileiras

Julieta Ines Hernández Martinez, 38 anos, conhecida como “Palhaça Jujuba“, viajava pelo Brasil em uma bicicleta e tinha decidido voltar ao país de origem para rever a mãe. O Amazonas estava na rota da artista venezuelana, encontrada morta em Presidente Figueiredo, no interior do Estado, após ficar 14 dias desaparecida.

O corpo de Julieta e partes da bicicleta que ela utilizava foram encontrados na sexta-feira (5), nas proximidades de um refúgio onde a artista estava hospedada.

Julieta já estava no Brasil há 8 anos. Ela fazia parte grupo do “Pé Vermêi”, que conta com artistas e cicloviajantes que pedalam pelo país.

Desde 2019, quando decidiu viajar pedalando pelo país, a artista conheceu mais de nove estados brasileiros. A venezuelana, que fazia apresentações circenses, também trabalhava como bonequeira, confeccionando réplicas de pessoas em miniatura.

“Era um trabalho de uma perfeição. Ela fazia exatamente você do tamanho da sua mão”, destacou Guadalupe Merki, amiga da artista.

Durante o tempo em que ficou no Brasil, Julieta também fez parte do “Circo di SóLadies”. A companhia, idealizada por mulheres, desenvolve apresentações a partir do improviso e do jogo cênico.

Guadalupe Merki afirmou que Julieta era artista de rua por escolha. “Ju era uma artista independente e de rua mesmo. Ela fazia feira, ela fazia rua, ela fazia calçada, ela fazia comunidades rurais, quilombolas, centros de reabilitação, praças, bairros periféricos, hospitais e também teatro”, detalhou.

A amiga ressaltou que a venezuelana não fazia distinção de público. “Onde a bicicleta chegava, lá estava Ju apresentando, para um monte de gente ou para duas crianças curiosas. Ela era essa artista. Muitas vezes excluída de editais de cultura”, afirmou.

Guadalupe também descreveu a amiga como uma multiartista. Além de palhaça e bonequeira, era artista plástica e escrevia poesias. “Era uma mulher nômade, viajava na sua bicicleta pelo Brasil. Ju era luz, era de uma grandiosidade que não existe palavra para escrever. Ju era generosidade, Ju era amor”, disse.

Segundo a amiga, o último espetáculo apresentado por Julieta amiga se chama “Viagem de bicicleta de uma palhaça só, sozinha?”.

“Nele, Miss Jujuba contava suas aventuras de bike pelas estradas do Nordeste e Norte do Brasil e lembrava que mesmo que às vezes possa parecer, nós nunca estamos ‘sozinhes’ nesta viagem/vida”, disse.

Última parada
Ainda em 2019, quando começou a percorrer o Brasil, Julieta decidiu que faria o percurso de retorno à Venezuela. “Seu destino final dessa viagem era o colo da mãe, na Venezuela e estava tão pertinho. Elas desejavam tanto esse encontro”, disse Guadalupe Merki.

Julieta viajou pedalando desde o Rio de Janeiro, passando por cidades do Maranhão e Pará, até chegar ao Amazonas. Do Estado, ela seguiria de bicicleta para Roraima, via BR-174. Presidente Figueiredo, município onde ela foi morta, é cortado pela rodovia.

Entre os dias 22 e 23 de dezembro do ano passado, a artista avisou os amigos que passava pela cidade do Amazonas, já a caminho da Venezuela, mas desapareceu.

A viagem era acompanhada pelos membros do grupo “Pé Vermêi”. Os cicloviajantes costumam informar os demais membros sobre onde estão antes de ficarem sem sinal de telefone e internet.

A última informação recebida era que Julieta partiria rumo à Rorainópolis, no Estado de Roraima.

“Antes dela ficar sem sinal, a gente já sabia que seria um trajeto desafiador. Julieta é bem experiente. Já tem anos que ela pedala pelo Brasil e agora está voltando para Venezuela. O que a gente achou estranho foi o fato dela não ter avisado que ficaria sem sinal. Simplesmente as mensagens pararam de chegar e a gente não conseguia mais localizá-la”, contou Ana Melo, amiga da artista, antes da polícia confirmar a morte da vítima.

Desaparecimento
Julieta desapareceu em Presidente Figueiredo, cidade do Amazonas que 126,8 km de Manaus pela BR-174. O trajeto de carro entre os dois municípios dura, em média, 2 horas.

O último contato recebido pelos membros da equipe aconteceu no dia 23 de dezembro de 2023. A venezuelana informou que estava a caminho de seu país de origem.

Prisão dos suspeitos
Na sexta-feira (5), o corpo dela foi encontrado em uma área de mata de Presidente Figueiredo, mas a polícia só confirmou que o corpo era da vítima no dia seguinte. No mesmo dia, um casal, que não teve os nomes divulgados, foi preso pela Polícia Civil como suspeito do crime.

Na ocasião, o corpo da artista e partes da bicicleta que ela utilizava foram encontrados nas proximidades de um refúgio onde a artista estava hospedada.

O delegado Valdinei Silva contou que os suspeitos confessaram o crime e que, inicialmente, eles devem responder por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.

Na delegacia, os dois presos deram versões diferentes sobre o crime. A mulher confessou que matou a venezuelana, após uma crise de ciúmes. Ela disse que matou a artista porque presenciou o companheiro estuprando a vítima depois de roubar os pertences dela.

Já o homem contou que a venezuelana e ele usavam drogas, quando a companheira ficou com ciúme, jogou álcool nos dois e ateou fogo.

Confirmação da morte
O Departamento de Polícia Técnico-Cientifica (DPTC) informou, na noite de sábado (6), que o corpo encontrado na área de mata de Presidente Figueiredo era de Julieta Hernández. A informação também foi confirmada ao g1 pelo delegado da 37º Delegacia de Polícia, Valdinei Silva.

A identificação foi feita por meio do procedimento de necropapiloscopia, realizado em conjunto por peritos do Instituto Médico Legal (IML) e do Instituto de Identificação do Amazonas.

Amigos de Julieta Hernández disseram, no domingo (7), que a família da artista deve chegar a Manaus nos próximos dias.

Do g1