PSL ganha novas sedes e faz evento em hotel de luxo

Em uma nova realidade financeira por causa do bom desempenho na eleição do ano passado, o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, tem usado o dinheiro extra para alugar novas sedes e reforçar o quadro de funcionários. A legenda deve receber nos próximos quatro anos R$ 737 milhões de fundos públicos.

O novo momento vivido pelo PSL ficou evidente no último dia 10, durante a cerimônia de posse do deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP) como presidente do diretório regional de São Paulo. O evento, que reuniu cerca de 400 pessoas, aconteceu no luxuoso Hotel Renaissance, nos Jardins, bairro nobre da capital paulista.

Até 2018, o partido não tinha dinheiro nem para alugar uma sede em São Paulo. De acordo com o senador Major Olímpio, que presidia o diretório paulista, o partido só conseguia ter um local porque o empresário Alexandre Giardino emprestava uma sala.

Com o cofre recheado, o PSL paulista procura agora uma nova sede para se instalar. Enquanto isso, o diretório nacional já está em novo endereço. Desde fevereiro, a legenda paga R$ 28 mil por mês por um andar em um dos complexos empresariais mais nobres de Brasília. A Fundação de Inovação e Governança, braço teórico do partido, gasta mais R$ 16 mil por um outro andar no mesmo prédio.

No ano passado, o PSL recebeu R$ 8,3 milhões do fundo partidário, verba distribuída para as legendas com base na votação obtida para a Câmara dos Deputados. Este ano deve ficar com cerca de R$ 105 milhões. A sigla foi de um deputado eleito em 2014 para 52 em 2018.

O pesquisador Bruno Carazza, autor do livro “Dinheiro, eleições e poder”, calcula que o partido terá um total R$ 737 milhões para receber dos cofres públicos até 2022. Além dos repasses do fundo eleitoral, as siglas também contam com as verbas do fundo partidário.

“A administração de uma grande quantidade de recursos é uma desafio para um partido que não tem estrutura. A forma como esse dinheiro será distribuído pode gerar disputas internas de poder”, disse Carazza.

O PSL deve receber R$ 40 milhões a mais do que o PT, segundo partido mais beneficiado, que ficará com R$ 694 milhões. Cabe aos próprios partidos definir como repassar os recursos para os diretórios estaduais.

“Aqueles estados que tiverem uma necessidade maior vão receber um olhar diferenciado”, disse o presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar (PE).

Os diretórios estaduais devem iniciar nos próximos meses uma disputa pelos recursos.

“O Nordeste vai precisar de uma atenção (financeira) mais especial devido às estratégias políticas para mudar o resultado eleitoral”, afirmou o deputado federal Julian Lemos, presidente do PSL na Paraíba, referindo-se à vitória do petista Fernando Haddad sobre Bolsonaro na região na eleição do ano passado. O presidenciável do PSL ganhou a disputa nas outras quatro regiões do país.

Olhos na tesouraria

Ainda como consequência do maior montante de recursos a serem administrados, Bivar decidiu profissionalizar o posto de tesoureiro nacional da legenda. José Tupinambá Coelho, ex-diretor da seguradora Excelsior, companhia que tem o presidente do partido como acionista, será o novo diretor financeiro do PSL. Até o ano passado, Coelho exercia a função sem remuneração, acumulando com o trabalho na seguradora.

O presidente do partido não revela quanto Coelho irá receber, mas diz que o valor será compatível ao pago pelo mercado. O PSL, porém, não pretende remunerar os membros de sua Executiva, como faz, por exemplo, o PT.

Além do diretor financeiro, a sigla tem contratado, de acordo com Bivar, funcionários para a sede nacional e para os diretórios estaduais que estão impedidos de registrar empregados por causa de problemas com prestações de contas.

Os postos de tesoureiro nos estados também ganharam relevância com a nova realidade financeira. Em São Paulo, o escolhido foi o investidor Otavio Fakhoury, um bolsonarista de primeira hora que se tornou amigo de Eduardo Bolsonaro na eleição de 2014. No Rio de Janeiro, o presidente local, senador Flávio Bolsonaro, indicou em março o deputado estadual Anderson Moraes. Nesta semana, Moraes nomeou Rogéria Bolsonaro, mãe de Flávio e Eduardo e ex-mulher do presidente, para uma função comissionada em seu gabinete na Assembleia do Rio. Informações de Ricardo Antunes.