O tabagismo é considerado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) a principal causa evitável de doença e morte precoce em todo o mundo. No Brasil, as pessoas têm passado a fumar cada vez menos, de acordo com dados do Vigitel, que apontam uma queda de 30,7% no percentual de fumantes nos últimos nove anos.
A diminuição na popularidade do cigarro entre os brasileiros é um reflexo das políticas antifumo do Ministério da Saúde, em parceria com os Estados e Municípios. Em João Pessoa, as pessoas que querem parar de fumar podem recorrer aos serviços da Rede Municipal de Saúde, que oferece apoio desde a Atenção Básica, nas Unidades de Saúde da Família (USF), até os serviços especializados.
Atualmente, a Rede Municipal de Saúde disponibiliza cinco centros de referência de tratamento contra o tabagismo. São eles: os Centros de Atenção Integral à Saúde (Cais) em Jaguaribe, Cristo e Mangabeira; Centro de Atenção Psicossocial sobre Álcool e Outras Drogas (Caps Ad); e Unidade Básica de Saúde (UBS) Mandacaru.
Desde o ano de 2006, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) aderiu ao Programa Nacional de Controle do Tabagismo do Ministério da Saúde e Instituto Nacional do Câncer (Inca). O programa visa estimular e apoiar pessoas fumantes no processo de cessação do fumo e na adoção de hábitos saudáveis de vida, com o apoio de uma equipe multiprofissional de saúde formada por médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social e nutricionista.
Para participar do programa, o interessado em parar de fumar deve se dirigir a um dos centros de tratamento e realizar sua inscrição ou ainda procurar a USF de sua região e será encaminhado a um dos centros especializados. Chegando a um desses locais, todos os interessados são submetidos a uma triagem, onde são colhidas todas as informações do paciente e realizados exames, inclusive o Raio X, e o teste de Fargeström, feito para medir o grau de dependência química do fumante através de um questionário.
Terapia – De acordo com Niviane Ribeiro, técnica da área de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis da SMS, o processo terapêutico se dá de forma grupal, com aproximadamente 15 pessoas por grupo e duração de três meses. “É realizada a abordagem cognitiva comportamental como suporte psicológico e o auxílio medicamentoso, com o uso de adesivo, goma de mascar, comprimidos e pastilhas de nicotina”, explicou.
“Durante as sessões terapêuticas aplicadas aos usuários do programa de tabagismo, trabalhamos com os seguintes pressupostos: a diminuição da ansiedade provocada pela ambivalência de parar de fumar; estímulo do despertar para o seu autocuidado e o resgate da autoestima”, completou Niviane.
Jocemar Mendes tem 60 anos e faz tratamento para parar de fumar no Cais Jaguaribe. Ele começou a fumar com apenas 10, mas há cinco meses deixou a dependência da nicotina. Ele conta que via as pessoas fumando e achava bonito. “Na época, cigarro era status e as mulheres gostavam mais dos homens que fumavam”, lembra.
Ele iniciou o tratamento durante o ano passado através de uma amiga, também integrante do grupo. Atualmente, o seu tratamento já não inclui mais o uso de medicamentos, como no início. “Aqui temos um apoio que é fundamental. Com as histórias que ouvimos, aumenta nossa força de vontade e um vai incentivando o outro. Meu alimento hoje tem outro sabor, minha respiração melhorou e hoje sou outra pessoa. Estou renovado”, disse.
Assim como Jocemar, Ademir dos Reis também começou a fumar muito jovem. Atualmente com 61 anos, fumou pela primeira vez aos nove. “Meu maior problema é que gosto do sabor do cigarro, então eu estou sempre com vontade de fumar, mas é preciso ter perseverança para não desistir”, afirmou.
“Começou a aparecer diversos problemas na minha saúde, principalmente no coração então decidi parar agora antes que seja tarde demais. Toda vez que eu sinto o cheiro é complicado, mas aí eu penso na minha saúde, que já esta debilitada e que quero viver mais uns anos. Preciso ser mais forte que o vício”, relatou Ivete Pimentel, 66 anos.
A psicóloga e coordenadora do grupo no Cais de Jaguaribe, Eliane Rafael, explica que as reuniões em grupo servem de motivação para os participantes que ainda não pararam de fumar, além de fortalecer aqueles que já não são mais dependentes, incentivando os iniciantes no tratamento. “Nosso objetivo é manter uma estabilidade emocional, pois a nicotina mexe com o psicológico do fumante, já que libera uma sensação de prazer”, afirmou.
Números – Segundo dados da área técnica de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis da SMS, em dez anos de programa, a Rede Municipal atendeu mais de dois mil usuários. Desses, aproximadamente mil pessoas pararam de fumar.
Tabagismo – O tabagismo é reconhecido como uma doença epidêmica que causa dependência física, psicológica e comportamental semelhante ao que ocorre com o uso de outras drogas como álcool, cocaína e heroína. A dependência ocorre pela presença da nicotina nos produtos à base de tabaco.
A dependência obriga os fumantes a inalarem mais de 4.720 substâncias tóxicas, como: monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína, além de 43 substâncias cancerígenas, sendo as principais: arsênio, níquel, benzopireno, cádmio, chumbo, resíduos de agrotóxicos e substâncias radioativas.
Por que as pessoas fumam? – A nicotina, presente em qualquer derivado do tabaco é considerada droga por possui propriedades psicoativas, ou seja, ao ser inalada, produz alteração no sistema nervoso central, trazendo modificação no estado emocional e comportamental do usuário que pode induzir ao abuso e dependência. O quadro de dependência resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo para consumir a droga, estabelecendo-se assim um padrão de autoadministração, caracterizado pela necessidade tanto física quanto psicológica da substância, apesar do conhecimento de seus efeitos prejudiciais à saúde.
“Parar de fumar sempre vale a pena em qualquer momento da vida, mesmo que o fumante já esteja com alguma doença causada pelo cigarro, tais como câncer, enfisema ou derrame. A qualidade de vida melhora muito ao parar de fumar”, reforçou Niviane.
Lei Antifumo – A lei 12.546 conhecida como Lei Antifumo, válida em todo o País, proíbe o uso do cigarro em ambientes fechados públicos e privados, isso inclui clubes, bares e restaurantes. Por meio desta lei, também fica proibido qualquer tipo de propaganda que induza ao consumo do tabaco. As sanções impostas aos ambientes que descumprirem a legislação incluem multa e fechamento do estabelecimento.
Avanços – O Ministério da Saúde também ampliou ações de prevenção com atenção especial aos grupos mais vulneráveis (jovens, mulheres, população de menor renda e escolaridade, indígenas, quilombolas), assim como contribuiu para o fortalecimento da implementação da política de preços e de aumento de impostos dos produtos derivados do tabaco e álcool.
Confira os endereços e telefones dos Centros de Referência para o tratamento contra o fumo em João Pessoa:
Cais Cristo – Rua Olívia de Almeida Guerra, S/N, Cristo Redentor
Telefone: 3214-2623
Cais Mangabeira – Rua Romário C. de Moraes, S/N, Mangabeira
Telefone: 3213-1909
Cais Jaguaribe – Rua Alberto de Brito, S/N, Jaguaribe
Telefone: 3214-4075
USF Mandacaru – Rua Mascarenhas de Morais, S/N, Mandacaru
Telefone: 3214-7143
Caps AD David Capistrano – Rua José Soares, Rangel
Telefone: 3218-5244.