Presidente da Câmara anuncia processo de impeachment contra Trump

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos vai abrir um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump de acordo com informações dos jornais The Washington Post e The New York Times.

Em um telefonema em julho, o republicano teria pressionado o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, para que este investigasse o filho de um de seus principais adversários, Joe Biden. É por este caso que ele deverá ser investigado.

Biden atualmente lidera a disputa democrata pela vaga de candidato a presidente em 2020, provavelmente para enfrentar o próprio Trump.

Pouco antes da conversa, Trump cancelou uma ajuda de cerca de US$ 400 milhões para a Ucrânia. A oposição afirma que o republicano usou a verba para pressionar Zelenski a investigar o filho de Biden, o que a Casa Branca nega.

O anúncio oficial da abertura do processo deve ser feito pela presidente da Câmara dos Representantes (equivalente a Câmara dos Deputados no Brasil), a democrata Nancy Pelosi, que durante meses se opôs a medida.

Ela deve fazer um pronunciamento ao país às 17h de Washington (18h de Brasília) desta terça (24) no qual vai confirmar a medida, afirma a imprensa americana. Ainda não há nenhuma confirmação oficial da medida.

O início do processo permite aos deputados investigarem Trump, mas não significa que ele terá que deixar o cargo.

Assim como no Brasil, cabe a Câmara aceitar ou não o processo, mas o julgamento é feito no Senado. Portanto, Trump só deixará o cargo se os senadores votarem a favor da medida.

O contato entre o americano e o presidente ucraniano foi revelado pela imprensa americana ao longo dos últimos dias e fez aumentar a pressão para que Pelosi desse início aos procedimentos de impeachment contra o republicano.

Muitos democratas já vinham sugerindo, em público e em particular, que as evidências recentes indicavam a pressão de Trump sobre o governo ucraniano, e acusavam sua tentativa de obstruir o acesso do Congresso a mais informações.

Um agente de inteligência que ouviu a conversa de Trump com o líder ucraniano —um procedimento padrão nos EUA— teria alertado as autoridades que o presidente teria colocado em perigo a segurança nacional. O Congresso também foi automaticamente avisado do problema, mas sem detalhes.

Com isso, os deputados fizeram dois pedidos ao governo: que liberasse a transcrição das conversas do presidente com Zelenski e que permitisse que o agente que ouviu a ligação testemunhasse sobre o caso (ele ainda não teve o nome divulgado).

Nesta terça, o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, afirmou que o agente concordou em testemunhar.

Apesar de diversas alas democratas defenderem a abertura do processo, Pelosi se recusava a dar início a medida. Ela afirmava que um processo poderia aumentar a polarização e influenciar as eleições de novembro de 2020.

Além disso, a deputada afirmava que as chances do impeachment ser aprovado no Senado é baixa, já que a Casa tem maioria republicana —os democratas tem maioria na Câmara.

Segundo o Washington Post, Pelosi mudou de ideia e agora deve anunciar a criação de uma comissão especial para investigar Trump, semelhante à que foi criada em 1973 para investigar o então presidente Richard Nixon pelo escândalo de Watergate.

Nixon acabou renunciando ao cargo antes da Câmara concluir o processo.

Em toda a história americana, apenas duas vezes os deputados autorizaram o impeachment contra o presidente: em 1868, contra Andrew Jackson, e em 1999, contra Bill Clinton. Os dois acabaram inocentados no Senado e puderam seguir no cargo. Com Folha.