Preconceito de Bolsonaro com Nordeste precisa de freio, diz Ricardo Coutinho

Chefe do Executivo da Paraíba por oito anos (2011-2018), o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) criticou a “violência” usada pelo presidente Jair Bolsonaro com os governadores, com o povo e com as obras do Nordeste. O principal exemplo, diz, seria o “abandono” do governo federal à transposição do rio São Francisco. “É uma discriminação odienta. É importante que as demais instituições ponham um freio nisso e atuem na defesa da democracia”, diz.

Em entrevista ao UOL, Ricardo pediu a responsabilidade ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal) para que vetem excessos de Bolsonaro. “O Congresso pode se afirmar mais, como fez em alguns momentos, por exemplo no decreto das armas. Ele teve boa atitude, mas não estamos vivendo momento de normalidade. Não tem nada normal no que ocorre hoje”, afirma.

“Em qual época na história você viu um jornal austríaco de respeito dizendo que o Brasil elegeu um idiota? Em qual época tivemos presidente brasileiro atacando a vontade soberana de um povo, como no caso do Nordeste? As coisas estão num patamar anticivil.”

O ex-governador afirma que esperava por um governo desastrado de Bolsonaro, mas o que mais chamou a sua atenção no governo foi o que chama de violência. “É a violência na palavra; nas relações institucionais federativas, internacionais; na discriminação e no preconceito. Tudo hoje está sendo movimentado em torno da violência, que é comandada pelo atual presidente da República. Todo dia sai algo de estarrecer”, disse.

Ataques contra o Nordeste

Para Ricardo Coutinho, os ataques não só de palavras, mas institucionais, precisam ser mais vistos pelos outros Poderes.

“O Congresso e o STF, naturalmente, precisam ser mais presentes nesse debate. Vejo que o Executivo funciona a mil por hora, pelo menos na produção de coisas não civilizadas, e não é acompanhado pelos demais Poderes. Isso é muito perigoso”, afirma o socialista.

O ex-governador diz que, por trás das falas, há interesses internacionais em atingir a soberania do país e tirar proveito de minerais, vegetação e petróleo, por exemplo.

“Em nenhum momento da história houve um presidente tão antinacional como o que aí está –e ele foi eleito com o lema ‘Brasil acima de tudo’. Essa conjuntura tem de ser vencida. Não vamos ter um processo de civilização com o atual governo, que a cada dia piora, ataca mais as instituições, não respeita mais o patrimônio que o brasileiro construiu em tantas décadas”, diz.