Portadores do Mal de Parkinson têm na tecnologia uma aliada no combate a doença

Com sintomas mapeados e descritos pela primeira vez em 1817 pelo médico inglês James Parkinson, o mal de Parkinson, como ficou conhecida a doença, em alusão ao sobrenome do cientista. Não há números oficiais sobre a quantidade de pessoas acometidas pelo problema, mas segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 1% da população acima de 50 anos convive com esse mal em todo o mundo.

Essa é uma doença degenerativa que ataca o sistema nervoso central, causada por uma diminuição abrupta e intensa na produção de dopamina, que é uma substância química que ajuda na transmissão de mensagens entre as células nervosas, conhecida como neurotransmissor. É a dopamina que ajuda na realização dos movimentos voluntários do corpo de forma automática. Graças à presença dessa substância em nosso cérebro não precisamos pensar em cada movimento que os músculos realizam. Na falta dela o controle motor do indivíduo é comprometido e em um determinado ponto, perdido.

Apesar de não existir cura contra a doença, que é crônica e progressiva, um procedimento cirúrgico simples pode ser decisivo na melhoria da qualidade de vida do doente. A cirurgia implanta uma espécie de marca-passo, um eletrodo, que é inserido diretamente no cérebro do paciente. O aparelho emite impulsos eletromagnéticos que auxiliam no controle dos movimentos involuntários da musculatura, comuns à doença. O método é definitivo, mas requer manutenção devido à alimentação do dispositivo implantado, que acontece por meio de bateria.

Referência no procedimento na região Nordeste do Brasil, o doutor Nêuton Magalhães (CRM-PB 5914 RQE 5000 I CRM-PE 15508 RQE 5316) é médico Neurocirurgião especialista em dor e cirurgia para doença de Parkinson, Doutor em Neurologia (Dor) pela Universidade São Paulo e já realizou esse tipo de tratamento cirúrgico em ao menos quatro Estados. Para ele, a cirurgia de implante do marca-passo cerebral garante a retomada da qualidade de vida por parte do paciente.

“Alguns pacientes chegam até meu consultório com 60%, às vezes até 80% do dia sem qualquer controle sobre o corpo, realmente só o período em que dura o efeito dos medicamentos e nesses casos é raro que o tratamento por remédios tenha um bom efeito a longo prazo”, destacou o médico especialista. “De todos os pacientes que já passaram pela cirurgia comigo, o resultado é uma melhoria muito substancial no controle sobre os movimentos do corpo e consequentemente na vida da pessoa, que volta a praticar algumas atividades que antes eram comuns”, disse.

Na Paraíba, Tarcísio Francisco da Silva, de 57 anos, foi submetido ao procedimento há pouco mais de dois anos e de acordo com a filha, Taciane Silva, a mudança na qualidade de vida dele foi imediata. A família é natural de Sapé, no interior da Paraíba, e conviveu durante 12 anos com crises severas promovidas pelo Parkinson até que o patriarca passasse pelo procedimento. Sem os medicamentos ele não possuía nenhum controle sobre o corpo até a realização da cirurgia.

Dificuldades


O procedimento chega a custar R$200 mil reais na rede privada, mas também pode ser oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar das garantias legais, a realização dos procedimentos no serviço público de saúde costumam ser negados. Além disso, existe fila para a realização da cirurgia e ela não se move a pelo menos dois anos. Há ainda relatos de pacientes que obtiveram na justiça o direito da cirurgia, mas nunca conseguiram ser beneficiados.

Mas a advogada especialista em Direito da Saúde, Paola Marques, garante que o atendimento médico, inclusive nesses casos, se trata de um direito garantido pela Constituição Federal (art.200 CF/88). Ela explica que, em caso de negativa na realização de alguns procedimentos médicos, cabe ao paciente e à família buscar a garantia desse direito no acesso ao serviço.

“Se há laudo afirmando que há necessidade em tratamento cirúrgico, clínico ou medicamentoso, mesmo que sem risco de vida, o judiciário reconhece o direito ao paciente”, destacou. “Direito à saúde e dignidade da pessoa humana deve ser prestado pelas três esferas: federal, municipal e estadual; Quanto mais rápido tiver o laudo médico de necessidade de tratamento e a negativa por parte das instituições, mais rápido o advogado pode atuar”, disse.

Dispositivos eletrônicos e saúde

Os dispositivos eletrônicos têm se tornado tecnologias indispensáveis para a vida, em vários aspectos; na medicina não é diferente. São várias as áreas da saúde que receberam a ajuda de máquinas, desde próteses até robôs operados por cirurgiões, capazes de acessar áreas mais sensíveis do corpo humano.

O marca-passo cerebral é semelhante ao mais famoso, conhecido por auxiliar portadores de cardiopatias. Ele trabalha 24h por dia para garantir o funcionamento da transmissão de informações entre o cérebro e a musculatura, evitando crises e espasmos. Com isso, o paciente consegue andar, realizar atividades domésticas simples, cuidar da higiene pessoal e levar uma vida, até certo ponto, normal, diante do sério problema que tem.

Outros equipamentos eletrônicos automatizados são capazes de injetar doses de morfina constantemente em pacientes com dores crônicas. Um outro dispositivo semelhante pode calcular os níveis de açúcar no sangue de uma pessoa e inserir no corpo a dose de insulina necessária para o organismo.