A poesia de Geraldo Vandré em projeto histórico do jornal A União, por Walter Galvão
Vandré se notabilizou nas décadas de 60 e 70

A União me oportunizou, na semana passada, participar de uma entrevista com o compositor, poeta e personalidade-símbolo político paraibano Geraldo Pedrosa. Nos anos 1960 e 1970 do século XX, Pedrosa se notabilizou internacionalmente sob o nome artístico de Geraldo Vandré.

O cara está ótimo aos 82 anos, consciente do seu papel positivo e inovador na linha evolutiva da canção brasileira, confiante de que é capaz de contribuir com sua música para o enfrentamento do persistente assédio da mediocridade no setor, e crítico, como sempre foi, frente ao quadro de mercantilização da arte característico do capitalismo globalizado contemporâneo.

Para milhões de brasileiros até hoje, desde 1964, quando de sua estreia em disco de estúdio, e principalmente a partir de 1968, quando do lançamento da canção “Pra não dizer que não falei das flores” (“Caminhando”), hino da resistência à ditadura militar, Vandré é alguém escolhido pela arte para fazer acontecer o artístico como expressão de uma visão de mundo transformadora, aquele autor especial que escolheu a arte do cancioneiro nordestino, brasileiro e latino-americano como plataforma poética para se lançar em voos criativos críticos decidido a pronunciar o novo, a anunciar o essencial e a renunciar ao conformismo da fácil arte comercial.

Geraldo Vandré praticou esse cancioneiro com o talento que ninguém é capaz de negar e a consciência sintonizada com a dinâmica social do nosso país (por ele criticada e combatida) que privilegia desde sempre a desigualdade.

A partir desta prática, Vandré, hoje bem mais Geraldo Pedrosa do que Vandré, buscou estabelecer pontos de reflexão sobre a vida em sociedade, viu a vida na alienação social, em conflito com as forças poderosas que cultivam a alienação e a pobreza, vida entre as classes privilegiadas que têm nas mãos ferramentas capazes de fazer avançar os processos que produzem a redução das pobrezas culturais, artísticas, econômicas, filosóficas e espirituais.

Diante desse quadro, optou pela negação das forças repressivas.

E fez isso ostentando (e esgrimindo com) todas as provocações que a música popular possibilita se for trabalhada com intuito crítico, problematizador: retratar as questões urgentes relativas ao cotidiano dos mais pobres, à existência submetida a regras autoritárias.

Música relacionada também à vida enquanto passo libertário a partir de uma tomada de consciência revolucionária e de uma visão ideológica de mundo.

A clássica visão que privilegia a igualdade entre todas as pessoas, que propoõe a transformação dos processos autoritários e considera urgente a participação das forças vivas que compõem o que temos por nação.

O nosso encontro ocorreu por força de múltiplas vontades, a do próprio Geraldo que se encontra atualmente motivado a, mais uma vez, compor, numa perspectiva de resgate colaborativo, e que tem a ver com a expansão do nosso repertório sócioantropológico e psicológico, isso sem excluir o estético seminal a partir da nossa arte popular, o cenário artístico musical e literário brasileiro. Isso a que chamamos de mentalidade, também de imaginário e até de espírito do tempo, bem como afirmação ideológica. De onde emerge o cidadão Geraldo Pedrosa. O campo que constituiu o mito Geraldo Vandré.

Além disso, a vontade também do secretário de Cultura do Estado, o poeta Lau Siqueira, que se sentiu provocado pelo impulso realizador do autor de “Disparada”, e principalmente por força da visão jornalística, editorial e cultural da superintendente de A União, jornalista Bia Fernandes.

Albiege está motivada cotidianamente a fazer de encontros como esse encontro entre Vandré e a equipe de A União, representada na oportunidade pelo editor-geral do jornal Felipe Gesteira, em oportunidades de gerar conteúdos sociais simbólicos relevantes através de tudo de melhor que o jornal centenário divulga.

E a vontade de Geraldo capaz de produzir os conteúdos simbólicos relevantes que interessam à editora A União é a de ver editado pela primeira vez no Brasil o livro de poemas de sua autoria “Cantos intermediários do benvirá”. A obra foi publicada originariamente no Chile em 1972.

Divulgá-la no Brasil de agora, como querem Geraldo Pedrosa, o autor; o secretário Lau, e a superintendente Bia, representa uma retomada da presença artística ideológica e historicamente definida de Vandré; permite o resgate histórico de um objeto artístico importantíssimo para a nossa memória cultural, do Brasil e do Continente, o livro de poemas: e propiciará a apresentação às novas gerações de uma obra poética sintonizada ao transe histórico que a contemporaneidade atravessa agora, transe infectado por tensões golpistas, dúvidas sobre a validade da democracia enquanto princípio socializador e certezas de que precisamos urgentemente de reformas que eliminem o lixo histórico do liberalismo conservador do nosso cotidiano. Vandré e Geraldo, juntos, oxigenarão a nossa atmosfera agônica. Uma ótima notícia para o Brasil.