“Estrelas de brilho próprio brilham sem tentar apagar a luz das demais, quem tenta apagar o brilho das estrelas são nuvens carregadas, mas como toda nuvem elas são passageiras, em breve elas passam, e as estrelas continuarão brilhando”
Parece até roteiro de dramalhão mexicano, mas é um trecho muito sentimental do recém ex-vice-prefeito de Conde, Temístocles Filho, carinhosamente chamado por Téo, em sua carta de renúncia do cargo, lida na sessão da última segunda-feira (23), na Câmara Municipal.
Na verdade, a carta meramente formaliza a renúncia de seu compromisso com a vice-prefeitura, gestada no primeiro ano de gestão e nascida após nove meses de participação efetiva no Executivo Municipal.
Prolixidade é mato ao longo das nove páginas da carta de renúncia, com a frenética repetição de argumentos para justificar sua debilidade ao lidar com o fardo de ser um agente público. Digo isso porque as principais queixas se tratavam de produção de reportagens, inclusive publicadas pelo Paraíba Já, sobre acúmulos de cargos públicos, como podemos ver abaixo no Painel de Acumulação de Cargos Públicos, ferramenta do Tribunal de Contas da Paraíba (TCE-PB):
Temístocles (mas esta que vos escreve tem sérias dúvidas se não seria outro que vive 24h em grupos de aplicativos de mensagens, postando extensos textos prolixos, o autor real da imensa carta), afirmou que tomou conhecimento de que havia uma inspeção especial instaurada no TCE-PB, há quase dois anos, quando se viu sendo manchete no noticiário região metropolitana afora, ainda que muitas tentativas de notificá-lo tenham sido feitas, como esta, que é irrevogavelmente pública e precisa:
Temístocles, que exercia, mesmo à revelia, um cargo público se sentiu atacado em sua moral, honra e vida profissional quando foi protagonista de uma ilegalidade, defendida pelo TCE, tanto na cartilha interna daquela instituição quanto na decisão mais recente aplicada ao tão perseguido ex-vice-prefeito:
Temístocles afirmou categoricamente que não precisava do dinheiro. Nem sentiu falta. Caramba! Como não sentir falta de R$ 8 mil entrando na conta, religiosamente em dia? Aliás, pagamento em dia este que foi alvo de desdém por parte do, agora, ex-vice-prefeito. Não quero entrar no mérito da quantia, mas sim do período de pagamento, que em tempos de crise está sendo pago sempre dentro do mês trabalhado. Só quem precisa sabe do quão importante é esta iniciativa. Voltando. A afirmativa de Téo ostenta o poderio de sua família, uma das três principais oligarquias da cidade.
É neste ponto que a prefeita de Conde Márcia Lucena errou. Foi ela a única, desde a emancipação da cidade, que quebrou o revezamento do familismo local.Tem esse mérito, mas teve que trazer consigo o apoio desta família que hoje passa em sua cara que se não fosse pelo sobrenome deles, não teria chegado a Prefeitura. Uma lição para 2020.
Mas é esta família que vive da memória afetiva e do trabalho positivo que o pai, Temístocles Ribeiro, realizou na cidade. Depois do pai, nenhum outro filho mostrou tamanha desenvoltura para brilhar no horizonte político condense.
Temístocles até imitou o movimento que sua irmã, Sandra Ribeiro, que foi vice-prefeita na gestão de Tatiana Lundgren, fez. Ela também rompeu, mas conseguiu ir até o fim do mandato. Seu irmão, não. É o que ele alega como ‘desapego do poder’.
Poder é o termo mais repetido nas nove exaustivas e prolixas páginas da carta renúncia. Foram 35 vezes. Parece até desejo de seu inconsciente, ou até mesmo frustração. Isso por que, juntando com a segunda e a terceira expressões mais citadas, que são ‘nosso povo’ e ‘nossa cidade’ (variam com a ausência do pronome possessivo), fica quase que palpável traçar sua linha de raciocínio: seguir perpetuando seu sobrenome na vida política eleitoral de Conde.
O amor ao povo de Conde se traduz, pelas palavras escritas por Ribeiro, ao assistencialismo e populismo mais barato. Não era o seu salário que ele distribuía aos mais carentes da cidade? Como esse tipo de prática ajuda a evoluir uma sociedade? Para mim, modestamente penso, que se trata de esmolas e o estímulo para que um povo naturalize a mendicância como único elo possível com a política. O oposto a isso se chama liberdade. É aquela velha máxima: é preciso dar vara para pescar, não o peixe.
Política transforma cidades, mentalidades, comportamentos. Política é instrumento de inclusão, de dignidade e respeito. Como jornalista, não sinto saudades da época que noticiava que nas escolas de Conde sequer merenda escolar havia; que sede da Prefeitura teria sido doada e ninguém saber o paradeiro da gestão; de corte de ônibus escolares para estudantes universitários; e todo um rosário de maus exemplos de gestão pública que não fazia e não acontecia até bem pouco tempo atrás. A não ser no Carnaval.
Porém, uma coisa não podemos negar: com a renúncia, o desapegado Temístocles conseguiu escrever seu nome na história, apesar de sua carreira como político ter sido demasiado curta. É o único vice-prefeito a deixar para trás seu compromisso com a cidade. E agora, Ribeiro, até a próxima eleição?!