‘Não se pode falar de educação sem amor’. A frase do educador Paulo Freire está pintada numa das paredes da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Gadelha de Oliveira Filho, localizada no bairro de Mangabeira. E é com muito amor que professores e funcionários da unidade de ensino tratam todos os alunos. Dentre eles, doze estudantes com autismo, mas que nada difere do tratamento com os demais. Nesta segunda-feira (2), é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Além das vagas na Rede Municipal de Ensino, a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) oferece todo acompanhamento dos autistas e seus familiares.

Emanuel Gonçalves Barbosa tem sete anos, é autista, estudante do 5º ano na Escola Municipal João Gadelha, mas tem uma rotina como qualquer outra criança de sua idade. Brinca, interage com os colegas, vai à escola todos os dias. E é no colégio que ele aprende a desenvolver a leitura, a fala e a escrita. Atividades lúdicas fazem parte do aprendizado. É na sala de recursos criada pelos educadores que o Emanuel mais gosta de estar. O que para ele pode parecer um simples passatempo, as brincadeiras desenvolvem sua atenção, coordenação motora, ritmo, equilíbrio, orientação espacial e a linguagem como forma de comunicação.

A mãe dele, a pedagoga e estudante de fisioterapia Lidiane Gonçalves Barbosa, conta que descobriu que ele era autista antes do filho completar dois anos. De início, foi um choque. “Ele foi uma criança que teve o desenvolvimento normal até que, com um ano e oito meses, percebi que ele estava com um atraso na fala. Fui ao pediatra e descobri que ele tinha traços de autista. No começo, eu só conseguia pensar nos problemas que ele poderia enfrentar. Passei por um período de verdadeiro luto, mas, depois de um tempo, veio a vontade de lutar para que ele pudesse evoluir”, relata.

Lidiane ainda afirma que o trabalho feito pelos educadores municipais é superior ao de escolas da rede privada. “Emanuel estudou em escolas da rede privada desde os dois anos. Por não ver muita evolução, decidi mudar para uma escola de bairro também privada onde tinham menos crianças. Mas ele acabou regredindo. Eu tinha medo dele sofrer bullying de outras crianças, mas acabei optando por colocá-lo na Escola João Gadelha, que fica próximo da minha casa. Para minha surpresa, todo mundo o recebeu de braços abertos e, hoje, observo uma evolução muito grande. As profissionais são extremamente capacitadas e comprometidas. Atualmente, faço questão de indicar o ensino público para todos os pais de filhos especiais”, enfatizou.

A pedagoga fez questão de mandar um recado para pais de crianças que acabaram de descobrir que o filho é autista. “Já foi diagnosticado que, quanto antes o tratamento, maior vai ser a evolução da pessoa com autismo e seu filho vai ter uma vida tida como normal. Determinado profissional uma vez me falou que ele jamais iria falar a palavra mãe e isso me perturbou bastante. Mas depois fiz questão de voltar lá e dizer que ele fala muito mais do que isso. Ele já consegue dizer: mãe, eu te amo”, relata emocionada.

A professora do Emanuel, Amanda Ferreira, falou da importância do tratamento igualitário dos alunos. “Tratar com respeito e carinho é fundamental, percebendo que eles são especiais, mas que têm a grande possibilidade de superar as dificuldades. Minha maior preocupação é que eles sejam inseridos e aceitos pelos outros alunos. Eu sempre peço ajuda também à família e a outros educadores, porque meu objetivo aqui é ensinar a todos, sem nenhuma diferença”, afirma.

Ângela Maria Alcântara, professora da sala de recursos da Escola Municipal João Gadelha, destacou o valor das atividades extraclasse desenvolvidas para as crianças. “Além do apoio aos professores na sala de aula regular, fazemos questão de fazer outras atividades. Para esta segunda-feira, que é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, toda escola está mobilizada nesse tema. Vamos fazer uma caminhada com pais, alunos e funcionários, além de exibição de vídeos sobre o assunto. Quando se trabalha com amor e dedicação, tudo vale a pena”, complementa.

Saúde – Além da educação, a Prefeitura Municipal de João Pessoa disponibiliza um acompanhamento especial para as pessoas com autismo. O Centro de Referência Municipal de Inclusão da Pessoa com Deficiência (CRMIPD) mantém uma equipe multiprofissional formada por fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, assistente social, neurologista, pediatra e psicopedagogo. No local, também é oferecido atendimento educacional especializado com atividades como musicoterapia, arte terapia e educação física adaptada.

Antes do atendimento, é feita uma triagem para definir os procedimentos indicados para cada criança. No momento da triagem, o responsável pela criança deve estar de posse do cartão do SUS da criança, laudo médico e comprovante de residência em João Pessoa.

O CRMIPD está localizado na Av. Coronel Otto Feio da Silveira, 161, Pedro Gondim e funciona de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h, sendo a sexta-feira o dia em que são feitas as triagens dos usuários.

Autismo – Atualmente, estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo possuem algum tipo de autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, esse número passa para dois milhões. O transtorno não possui cura e suas causas ainda são incertas, porém ele pode ser trabalhado, reabilitado, modificado e tratado para que, assim, o paciente possa se adequar ao convívio social e às atividades acadêmicas o melhor possível.