PM acusado de matar Marielle pesquisou promotores, jornalistas e políticos

Agentes da Delegacia de Homicídios (DH) e do Ministério Público rastrearam as buscas que o sargento reformado Ronnie Lessa, acusado pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, fez na internet desde o final de 2017 até o início deste ano. Os rastros — arquivos acessados por Lessa pelo celular, armazenados na “nuvem” — deixados pelo PM são considerados provas fundamentais de que ele arquitetou o crime. Entre as buscas do PM, há nomes de promotores que investigam casos de crimes cometidos por policiais, jornalistas que cobrem temas ligados a direitos humanos e políticos de esquerda.

De acordo com investigadores, o sargento também fez buscas sobre a metralhadora MP5, apontada como a arma usada nos homicídios. Depois, pesquisou silenciadores que são usados nesse tipo de arma. Testemunhas do crime alegaram que o som dos disparos foi abafado por algum aparelho. As buscas sobre a arma pararam após a data dos assassinatos de Marielle e Anderson.

Lessa também fez pesquisas sobre endereços ligados à Marielle e também à agenda da vereadora. Um dos locais relacionados à vereadora pesquisados foi um antigo endereço dela, na Rua do Bispo, na Tijuca.

As buscas feitas pelo sargento aposentado também mostram um “perfil reativo a causas da esquerda”, segundo a promotora Simone Sibílio, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Lessa pesquisou os nomes do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) e de parentes do parlamentar. Em alguma pesquisas sobre Freixo, o policial usava expressões depreciativas junto ao nome do parlamentar.

O PM também fez uma série de buscas pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT. Numa das buscas sobre Dilma, o PM acessou uma imagem da ex-presidente decapitada. Lessa também contemplava em suas buscas um promotor do MP do Rio célebre por sua atuação em casos de violência policial e jornalistas que cobrem a área de Direitos Humanos.

Lessa também pesquisou o nome do general Richard Nunez, que foi secretário de Segurança durante a intervenção federal no Rio, e de um delegado da Polícia Civil.

Os investigadores também rastrearam as buscas feitas pelo ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, apontado como o motorista que levou Lessa ao local do crime. As pesquisas tinham o mesmo perfil de seu comparsa. Em janeiro, logo após o deputado federal Jean Wyllys (PSOL) abandonar seu mandato, Queiroz buscou pelo parlamentar que entrou na vaga de Wyllys: David Miranda, também do PSOL e que, como seu antecessor, também é defensor dos direitos LGBT.

Para o MP, o assassinato de Marielle foi cometido em razão da atuação política da parlamentar, em defesa dos negros, LGBT e outras causas.