Paraibano Tércio Arnaud acessou perfis falsos de dentro da Presidência, aponta PF

O paraibano Tercio Arnaud, assessor especial do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), é um dos nomes por trás de contas inautênticas no Facebook e no Instagram usadas para atacar opositores do governo e integrantes do Supremo Tribunal Federal, conforme relatório divulgado pela Polícia Federal. Reportagem publicada na Folha de São Paulo, nesta quinta-feira (16), detalham informações contidas no relatório da PF sobre os atos antidemocráticos.

As contas Tercio Arnaud Tomaz e Bolsonaro News, ligadas a Tercio Arnaud foram acessadas 405 vezes da Presidência da República e 15 vezes do Comando da 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea.

Arnaud trabalhou no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) antes de ocupar o cargo na Presidência. É apontado como líder do chamado “gabinete do ódio”, estrutura do Palácio do Planalto que seria usada para mensagens de difamação.

As contas ligadas a Arnaud, como a Bolsonaro News, também foram acessadas da conexão de internet em nome da primeira-dama Michelle Bolsonaro, de acordo com o inquérito. A Bolsonaro News chegou a ter mais de 505 mil seguidores.

A Bolsonaro News e a Tercio Arnaud, além da Bolsogordos, a Bolsofeios e a Eduardo Guimarães, ligadas a Carlos Eduardo Guimarães, assessor parlamentar de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foram acessadas 308 vezes na Câmara dos Deputados.

Relatório da PF

Assessores ligados ao senador Flávio Bolsonaro, ao deputado federal Eduardo Bolsonaro e a outros legisladores bolsonaristas estão por trás das páginas. Essas contas foram acessadas 1.045 vezes de computadores em órgãos públicos, incluindo Senado, Câmara dos Deputados, Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Presidência da República e Comando da Brigada de Artilharia Antiaérea.

As informações constam de relatório da Polícia Federal referente ao inquérito dos atos antidemocráticos.

A investigação, analisada pelo Laboratório Forense Digital do Atlantic Council, apontou que duas contas inautênticas de Instagram, SnapNaro e TrumpWeTrust, usavam endereço IP conectado à assinatura de provedor de internet no nome de Fernando Nascimento Pessoa, assessor parlamentar lotado no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

Outra conta inautêntica, a DiDireita, usava a mesma conexão de internet. As contas postavam propaganda pró-Bolsonaro e ataques a opositores.

Segundo a PF, há duas hipóteses —ou os administradores das contas inautênticas se reuniam no endereço de Pessoa, ou ele era dono de duas a cinco contas inautênticas.

Se a primeira hipótese estiver correta, diz o relatório, é provável que Pessoa também fosse o administrador das contas “Tudo é Bolsonaro”, “Porque o Bolsonaro?”, registradas com o mesmo email, e “Snappressoras”, acessadas pelo endereço IP ligado ao assessor.

Em julho do ano passado, o Facebook removeu 35 contas, 14 páginas e um grupo no Facebook, além de 28 contas no Instagram, por comportamento inautêntico.

Segundo a empresa, são “grupos de contas e páginas que trabalham em conjunto para enganar as pessoas sobre quem elas são e o que estão fazendo”.

De acordo com o Facebook, as contas se encaixavam na categoria “operações executadas por um governo para atingir seus próprios cidadãos. Isso pode ser particularmente preocupante quando combinam técnicas enganosas com o poder de um Estado.”

Juntas, elas tinham 883 mil seguidores no Facebook e 917 mil no Instagram.

As contas derrubadas veiculavam conteúdo a favor de Bolsonaro e ataques contra opositores e a mídia, principalmente o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), e o então presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, além de campanhas pedindo intervenção militar e o fechamento do STF.