Paraibano Matheus Cunha diz que sonho olímpico foi apenas adiado

A temporada de 2020 começou com manchetes reservadas a Matheus Cunha. Artilheiro do pré-olímpico que deu vaga ao Brasil nos Jogos de Tóquio, com cinco gols, o atacante, que fez carreira na Europa, se tornou nome fácil nas rodas de conversas sobre futebol no país de origem.

O jogador deu os primeiros passos na carreira na base do Coritiba, mas ainda jovem foi para a Suíça, onde se profissionalizou pelo Sion.

Depois, atuou pelo RB Leipzig e, atualmente, defende o Hertha Berlin. Assim, o pré-olímpico acabou aproximando Matheus Cunha dos brasileiros, que passaram a reconhecer e torcer por aquele menino que cresceu no Velho Continente.

“Sem dúvida que foi um torneio que me aproximou muito do povo brasileiro. Até pela exposição e por ter tido um bom desempenho. Fiquei muito contente com todo o carinho que recebi e espero seguir bem na seleção brasileira olímpica. Vestir a amarelinha é um sonho realizado”, disse, ao UOL Esporte.

Apesar de vir escrevendo a história a muitos quilômetros de casa, Matheus, como bom brasileiro, sabe o peso da rivalidade e a importância de se vencer a Argentina. O pré-olímpico reservou justamente um encontro decisivo com os ‘hermanos’, mas, com dois gols, o atacante foi o nome do jogo e ganhou a alcunha de “carrasco”. Afinal, “ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor”, como diz Galvão Bueno.

“Crescemos sendo alimentados pela rivalidade entre Brasil e Argentina. Já tinha tido a possibilidade de disputar uma final em um torneio amistoso que disputamos na Espanha e acabamos perdendo. Não vou negar que tem um sabor especial enfrentá-los. O jogo é mais pegado e a vitória fica mais saborosa (risos). Feliz por ter tido uma grande noite aquele dia e poder ajudar a seleção brasileira se classificar as Olimpíadas”, afirma.

Nesta partida, um lance ficou marcado. Após aproveitar bobeira do zagueiro Nehuén Pérez, ele deu um balão no goleiro Cambeses e tocou para o gol, mas Pérez conseguiu se recuperar e salvar na linha. No rebote, o brasileiro chutou para o gol e a bola pegou no jogador argentino, que estava encostado à rede.

Cunha avisa que não foi de propósito e acabou chutando onde estava o adversário porque já havia feito o movimento da finalização. “Não, não [foi de propósito]. A ideia era fazer o gol mesmo. Por ele já estar dentro do gol, não quis fazer o movimento para tirar a bola dele. Meu corpo já estava ajustado para chutar naquela direção. O importante era a bola entrar, batendo no jogador argentino ou não”.

Com a classificação garantida, começou uma contagem regressiva em busca do bicampeonato. No começo de março, foi presença na lista do técnico André Jardine, porém, a pandemia de coronavírus que se alastrou pelo mundo fez com que a Olimpíada tivesse mudança de data.

Matheus Cunha não esconde a frustração, mas ressalta que considerou a decisão acertada e garante: “O sonho só foi adiado”. “Antes de mais nada, dizer que foi a decisão acertada. Não tinha outra escolha a ser tomada. O primordial, agora, é preservar vidas. Não vou negar também que estava ansioso para defender a seleção nas Olimpíadas. Vinha trabalhando forte para me manter em alto nível até lá. Agora, é seguir o trabalho, ter boas atuações no clube para que as convocações sigam e eu esteja em 2021 defendendo o Brasil em Tóquio. O sonho só foi adiado”.

O surto de contágio da Covid-19 também teve impacto no dia a dia dos clubes. Assim como no Brasil, competições ao redor do mundo estão suspensas e os jogadores treinando em casa.

“Assim como todo o mundo, estamos em quarentena total. Apesar de o sistema de saúde aqui ser um dos melhores do mundo, a ordem é todos ficarem em casa para que a gente diminua o risco de contágio. O momento, agora, é de salvar vidas e só podemos fazer isso ficando em casa. Tenho o otimismo de que, em breve, tudo voltará ao normal”, indicou ele, que completou:

O clube nos oferece todo suporte e estrutura mesmo fora das instalações. Temos acompanhamento diário e treino todos os dias no hotel em que estou hospedado aqui. É tudo muito organizado e profissional”.

Antes do pré-olímpico, Matheus Cunha já tinha sido destaque por conta de um golaço. Em 2019, quando defendia o RB Leipzig, foi finalista do Prêmio Puskas com um gol feito contra o Bayer Leverkusen, pelo Campeonato Alemão. À época, ele acabou ficando fora da final – que contou com três gols e foi vencido por Messi -, mas salienta os reflexos positivos que aquela ‘pintura’ teve na carreira dele.

“Sensação única e indescritível. Ver um gol seu concorrendo a um prêmio deste tamanho é espetacular. Ainda por cima concorrendo ao lado de grandes nomes do futebol como Messi… Olha, quando soube da notícia demorei um pouco a acreditar. Que consiga fazer outros gols bonitos. O gol rodou todo o mundo e teve uma repercussão muito bacana”.

Foi no RB Leipzig que, talvez, o jovem tenha vivido o melhor momento da carreira. Ele chegou ao clube em 2018 e se despediu após o pré-olímpico e acredita que o empreendimento da Red Bull também poderá ter bons frutos no Brasil. Em 2020 será a primeira vez que a empresa terá um time disputando a Série A do Campeonato Brasileiro, com o Red Bull Bragantino, após negociação concretizada no ano passado.

Além dos dois citados, há outros dois times do projeto disputando a divisão de elite dos respectivos países: RB Salzburg, da Áustria, e New York RB, dos Estados Unidos.

“É um projeto inovador e que tem tudo para dar certo também no Brasil. São extremamente profissionais e isso fará a diferença”.

Matheus Cunha foi anunciado pelo Hertha Berlin no fim de janeiro e ele garante que a adequação ao novo clube está sendo muito boa. Atualmente, o time ocupada a 13ª posição no campeonato nacional.

“Espetacular. Tenho conseguido jogar com frequência e a adaptação ao time foi muito rápida. A diretoria fez um investimento forte em janeiro para que a equipe conseguisse ter um salto na tabela. É um clube muito organizado e com uma estrutura muito boa. Certeza que vamos nos entrosar ainda mais e conseguir melhores resultados”.

O então técnico Jürgen Klinsmann foi fundamental para a transferência do atacante brasileiro para o Hertha, mas, poucos dias depois, pediu demissão do alegando que precisava “de confiança dos envolvidos”. Matheus, porém, garante que a mudança na comissão técnica não causou abalos a ele, recém-chegado.

“Não tive tempo de temer nada. Assim que aconteceu a saída dele a diretoria e os membros da comissão técnica permanente do clube me ligaram e me passaram total tranquilidade. Afirmaram que o desejo e as expectativas em relação ao meu futebol continuavam as mesmas. Isso me tranquilizou demais”, assegurou.

Aos 20 anos, Matheus Cunha admite o desejo de atuar no futebol brasileiro, mas salienta que não é um projeto a curto prazo e pretende permanecer na Europa por mais algumas temporadas.

“Sem dúvida tenho o sonho e o desejo de jogar no futebol brasileiro um dia, mas ainda está distante de acontecer. Meu projeto inicial é dar prosseguimento a minha carreira aqui na Europa por um período mais longo. Estou feliz e sinto que ainda tenho muito a evoluir jogando aqui. As informações são do UOL.