PB busca ampliar projetos de reciclagem e elevar condição social de catadores

O projeto da Associação dos Catadores de Material Reciclado (Ascamare), de Bonito de Santa Fé, apoiado pelo Governo do Estado, por meio do Cooperar e Banco Mundial, e pelo governo municipal, foi apresentado no Workshop sobre Políticas de Resíduos Sólidos Recicláveis, realizado na semana passada em Itabaiana. O projeto se tornou exemplo para o Brasil ao ganhar 1º lugar, dentre os 63 participantes na premiação nacional Cidade Pró-Catador, promovida pela Secretaria-Geral da Presidência da República com ações de inclusão socioeconômica dos beneficiários, e está servindo de modelo para novos grupos que pretendem adentrar ou aperfeiçoar a atividade.

O workshop sobre resíduos, promovido pelo Governo da Paraíba, por meio do Cooperar e em parceria com o Banco Mundial, é uma forma de promover discussões sobre o assunto para estimular as potencialidades de novos projetos de sustentabilidade e que têm a possibilidade de financiamentos com recursos do PB Rural Sustentável a ser executado mais uma vez com a participação do Banco Mundial nos próximos seis anos na Paraíba.

Durante o workshop, o consultor ambiental e economista da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Tarcísio Valério da Costa, apresentou um estudo segundo o qual diversos municípios paraibanos estão deixando de gerar receita com a venda de resíduos sólidos recicláveis.

De acordo com o estudo, o município de Itabaiana, por exemplo, poderia arrecadar mensalmente com a venda de resíduos sólidos recicláveis R$ 110.542,50, enquanto Remígio está deixando de arrecadar R$ 86,1 mil, Areia perde de ganhar R$ 103,9 mil e Pilões poderia faturar R$ 30,2 mil.

O estudo do consultor se baseou na estimativa da produção de 1 kg de lixo por dia vendido a R$ 0,50 o quilo. Ele atribui a falta de arrecadação de recursos com a atividade à inexistência de adesão dos municípios à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) instituída em 2010, que prevê uma série de atitudes para melhorar desde a coleta até o destino final dos resíduos sólidos.

Quando se trata do cenário nacional, apenas 14% dos municípios brasileiros implantaram plenamente a coleta seletiva que vai desde o treinamento dos catadores, ações de educação ambiental, construção de estrutura para a reciclagem dos resíduos sólidos e aquisição de equipamentos utilizados na atividade.

Ainda segundo Tarcísio Valério da Costa, 40% dos municípios no Brasil encerraram os lixões e 33,5% concluíram os seus Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PNGIRS). O consultor da UFPB destacou que para os projetos de reciclagem de resíduos sólidos darem certo é preciso executar um conjunto de ações integradas, a partir do comprometimento do governo municipal.

O economista destacou que reciclar é uma boa oportunidade, tanto para o meio ambiente como para quem recicla. Mas lembrou que as pessoas ainda não atentaram para a iniciativa, pois apenas 55% dos resíduos produzidos são recicláveis e 45% não são aproveitados e o destino infelizmente são os aterros sanitários.

Ele disse que dados do Ipea de 2010 revelam que o potencial da cadeia produtiva de recicláveis pode chegar a gerar uma movimentação financeira de R$ 8 bi com a implantação de políticas públicas para o segmento. “A indústria da confecção, por exemplo, utiliza 32% de pet”, informou.

Case – O catador de resíduos sólidos, Erinaldo Claudino da Silva, do município de Pilões, sente as consequências do estigma da profissão há 12 anos, mas tem a esperança de ascender socialmente e viver com mais dignidade. Em quase 45 dias trabalhados, consegue estocar e vender 2 toneladas de material sólido reciclável, o que lhes garante renda média de R$ 650,00 a R$ 1.200,00, principal renda da família com quatro pessoas que ainda conta com a ajuda da esposa que se desdobra como doméstica e chega a ganhar R$ 300,00 por mês.

Ele contou que sua rotina de trabalho diariamente corresponde a 17 horas todos os dias da semana, sem descanso, mas que compensa. Por ter chegado somente ao 4º ano do ensino fundamental, amarga a labuta da atividade que começou no lixão a céu aberto, onde permaneceu por 1 ano em meio e depois passou a catar os resíduos no meio das ruas. Mesmo no lixão, juntou dinheiro suficiente para construir sua própria casa, mas por estar localizada numa área de risco teve que se mudar para outra comunidade também periférica no município de Pilões.

Ao participar do workshop, o catador de resíduo relatou que foi buscar ali conhecer novas experiências, como a da Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável de Itabaiana (Itamare), também apoiada pelo Cooperar e Banco Mundial num investimento de R$ 382,2 mil, que retirou 82 famílias do lixão da cidade. “Tenho a esperança de melhorar e poder dar o melhor para a minha família que agora vai aumentar com a chegada dos meus filhos gêmeos”, disse Erinaldo.

“Gosto da minha profissão, mas é difícil conviver com as pessoas me chamando de ‘comedor de lixo’. O material coletado incomoda os vizinhos e a mim mesmo, pois como não tenho estrutura para guardar, armazeno em frente à minha própria casa que acaba atraindo a presença de cobras, escorpião, insetos, entre outros. Com esse novo projeto, tenho a esperança de ser construído um galpão para trabalhar com mais dignidade”, desabafou o catador de resíduos de Pilões.

A secretária do Consórcio Intermunicipal para a Gestão de Resíduos Sólidos do Cariri Oriental (Cigrescor), Socorro Barbosa, disse que o consórcio abrange 11 municípios na região paraibana. Ao participar dos debates no evento, falou da expectativa do seu grupo atingir o mesmo nível de organização da Itamare, por isso estava ali para partilhar as experiências.

Três experiências de projetos de reciclagem de resíduos sólidos foram implantadas pelo Cooperar e Banco Mundial no último convênio, nos municípios de Itabaiana, Bonito de Santa Fé e Pombal, num investimento superior a R$ 1 milhão, atendendo diretamente 238 famílias.