O Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, que integra a rede hospitalar estadual, em apoio à reforma psiquiátrica brasileira, tem promovido uma série de transformações na estrutura e na dinâmica de cuidado aos usuários. Com a proposta de humanizar o serviço e trazer bem estar a pacientes e profissionais, estão sendo retiradas todas as grades de ferro existentes na estrutura do Complexo.
“Nossa equipe multiprofissional vem promovendo mudanças gradativas e responsáveis no Juliano Moreira. As grades pesadas de ferro simbolizam um processo histórico de incompreensão e uso de técnicas inadequadas com os pacientes. A permanência delas trazia à memória resquícios desse modelo desumano de tratar as pessoas”, afirmou o diretor do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, Walter Freire Franco.
As grades de ferro pesadas foram utilizadas durante muito tempo como estratégia para conter pacientes com transtornos mentais em períodos de crise aguda. Por ficarem, muitas vezes, extremamente agressivos, a saída que os profissionais encontravam para controlar a situação era trancafiar os pacientes em quartos. “Hoje em dia é inadmissível usar as grades para prender pacientes. Em casos emergenciais, outras medidas devem ser tomadas para conter os momentos de crise agressiva – como contensão mecânica temporária ou química. Assim que a crise é estabilizada, em poucas horas, o trabalho intensivo de profissionais é realizado para que o paciente seja auxiliado imediatamente”, declarou Walter.
A retirada das grades de ferro marca uma modificação efetiva nos cuidados com o paciente, exigindo de toda a equipe de técnicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e cuidadores um maior acompanhamento intensivo, corpo a corpo, para auxiliar os pacientes a sair da crise e retornar à estabilidade emocional. “Não temos a ilusão de que só os psicotrópicos (medicamentos) são a solução no auxílio aos pacientes. Medicamentos psiquiátricos são, sim, necessários, mas sozinhos não surtem efeito. O cuidado presente, as atividades terapêuticas, as oficinas, o carinho e amor a essas pessoas que se distanciaram da razão de si próprias. A presença lúcida e amorosa dos cuidadores faz toda diferença no tratamento e na reinserção dos pacientes ao convívio familiar e social”, pontuou o diretor do Complexo.
Segundo Walter, a intenção é transformar a realidade do Juliano Moreira e a vida dos pacientes. “Queremos num futuro não distante transformar o Complexo em um centro de tratamento, com atividades complementares integrativas, um ambiente mais favorável a auxiliar os pacientes a se reestabilizarem”, disse. E, com as mudanças nos métodos de cuidado, os avanços já podem ser notados. “Nosso objetivo é diminuir cada vez mais o tempo de internação, a desospitalização precisa acontecer. Aqui o paciente passava 30, 60, 90 dias internado. Hoje esse prazo diminuiu para até 20, 25 dias e queremos diminuir cada vez mais”, observou.
Ao se recuperar, o paciente volta ao convívio com a família e continua sendo acompanhado pela rede substitutiva, a exemplo dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). “A nossa Rede de Atenção Psicossocial possui a maior cobertura de Caps por número de habitantes do Brasil. Numa luta coletiva, temos acolhido os pacientes num atendimento mais humanizado e antimanicomial”, concluiu.