Os 27 senadores da Paraíba terão vergonha na cara e votarão contra Eduardo?

“Paraíba”, segundo a entende o presidente Jair Bolsonaro, conta com 27 senadores. Precisamente um terço do Senado Federal. Se “Paraíba” fosse mesmo um ente, como quer o presidente, e do tipo necessariamente desprezível, segundo as suas palavras, a reforma da Previdência iria para o vinagre. É certo que o país passaria por sortilégios, mas Bolsonaro beijaria a lona primeiro. Ou quanto tempo seu governo sobreviveria a uma eventual derrota da reforma?

Não! Eu não estou aqui a defender que os 27 senadores das nove “Paraíbas locais” que formam a grande “Paraíba Nacional”, onde vivem pouco mais de 56 milhões de Brasileiros – 27% da população do país – votem contra a reforma para mostrar com quantos “nãos” se derruba um presidente. Mas, sim, estou aqui a cobrar que os nobres representantes dos Estados do Nordeste tenham vergonha na cara e honrem a população que os elegeu.

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Os 27 senadores da Paraíba terão vergonha na cara e votarão contra Eduardo?Como de hábito, Bolsonaro está a negar fatos indesmentíveis com aquela sua retórica torta e com a sua impressionante capacidade de dizer uma maçaroca de bobagens que não encontram nem a coerência do erro. Sim, isto é possível: há pessoas que dizem besteiras sistematizadas, que têm começo, meio e fim. Há tolices que são, por assim dizer, organizadas. As de Bolsonaro, vamos convir, nem essa qualidade apresentam porque ele não tem método nem para errar.

Negando, com uma cara-de-pau assombrosa, o que todos ouviram – chamou a Região Nordeste de “Paraíba”, em tom depreciativo, e recomendou a um ministro seu que puna a população do Maranhão por meio da retaliação ao governador, Flávio Dino (PCdoB) -, insiste agora na falácia de que tudo não passa de distorção da imprensa, no que é, obviamente, estimulado por um dos filhos, o sempre inefável Carlos Bolsonaro. De quebra, esse grande pensador da política resolveu atacar Rêgo Barros, o porta-voz, que organiza os encontros com a imprensa.

Bolsonaro nega que tenha dito o que disse, mas, no sábado, jogando papo-furado às portas do Alvorada, em conversa com jornalistas, a que estavam presentes também alguns apoiadores, afirmou que os governadores do Nordeste, que tratou como derrotados nas eleições de 2018 – Não! Eles foram eleitos também! -, resolveram se unir contra o seu governo. Ou por outra: não dá o braço a torcer, não se desculpa, não se redime. E continuou no ataque. E voltou a criticar o governador do Maranhão. É um assombro.

Os governadores da região emitiram uma nota de protesto. O mesmo fizeram as Assembleias Legislativas dos nove Estados nordestinos. Obviamente, isso é pouco. Ao presidente, basta que uns gatos pingados o aplaudam à porta do Palácio e se digam nordestinos, a exemplo do que se viu neste domingo, e o resto está resolvido. Não, não está.

É preciso que “Paraíba” dê uma resposta mais efetiva ao agravo. Cumpre lembrar, e já escrevi aqui, que, com a ordem passada a Onyx Lorenzoni, Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade. E também incidiu na Lei 7.716, a que pune discriminação em razão de “raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Crimes que permanecerão impunes.

Mas é necessário, no entanto, que se dê uma resposta política ao presidente. Antes que continue, noto: o senador Fernando Bezerra (MDB-PE) deveria renunciar à condição de líder do governo no Senado. Afinal, ele está entre os “paraíbas” de que Bolsonaro desdenha. É bom que saiba: é olhado com desprezo por aquele que chefia o governo de que é líder.

Votar contra a reforma da Previdência faria mal ao país, acho eu – pedindo vênia a quem pensa o contrário. Os 27 senadores de Paraíba têm o dever moral de dar um voto contra Bolsonaro, mas em favor do país. E como isso se realiza? Dizendo “não” à eventual indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil em Washington. Os senhores parlamentares darão uma resposta ao presidente, preservarão o Brasil do ridículo e evidenciarão que não se prestam à condição de capachos.

E isso tem de ser feito já. A votação, caso a indicação se faça, é secreta, o que não impede o parlamentar de declarar seu voto, a exemplo do que se viu na eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência da Casa.

Que a população de “Paraíba” passe a exigir de seus 27 representantes no Senado um voto com vergonha na cara.

Do blog de Reinaldo Azevedo