Opinião: Vistoria no Viaduto do Geisel foi turismo de gente apontada na Lava Jato

A seca castiga o Nordeste. E a Paraíba, como todo mundo sabe, precisa de água.

De lama, não. Mas parece que foi esse o principal objetivo da visita que fez esta semana o ministro das Cidades a João Pessoa: trazer lama para cá.

Essa dedução é possível a partir do que disse o deputado petista Anísio Maia sobre a presença de Bruno Araújo. O ministro visitou o canteiro de obras do Viaduto do Geisel em companhia do senador Cássio Cunha Lima, dos deputados federais Manoel Júnior e Aguinaldo Ribeiro, além do prefeito da capital Luciano Cartaxo.

Sobre essa visita é preciso ressaltar que foi mais do que um bombeamento de lama. Teve ironia, mau gosto, gafe, mico e perda de tempo e de dinheiro.

Não deixa de ser irônico o fato de que o ministro veio “vistoriar” uma obra a qual tentou sabotar ao suspender a liberação dos recursos necessários à sua continuidade. O mau gosto da história é ele anunciar a liberação de parte dos recursos, a última parcela (R$ 3,8 milhões) foi repassada ao Estado em junho, quando o Governo Federal já havia garantido, e até depositado na conta da Paraíba, os recursos totais para a conclusão do viaduto que já está funcionando parcialmente e resolvendo a vida de milhares de pessoas diariamente. Registre-se que a participação do Governo Federal é de 40% do valor total da obra e a da Paraíba é de 60%.

A gafe foi a assessoria do ministro não ter incluído a visita na agenda oficial. Passou a ideia de que ele veio atender somente ao pedido da oposição paraibana que tenta, por incrível que parece, se apropriar da obra. O mico e a perda de tempo foram daqueles que articularam a “vistoria”.

FATO, FOTO E MANCHETE

Mas voltando ao discurso do deputado Anísio Maia sobre o fato. Em outras palavras, Anísio disse que a visita não passou de turismo de gente apontada pela operação Lava Jato como envolvida de alguma forma no lamaçal criado com o petrolão.

Textualmente, eis a declaração: “O que nós vimos ontem (segunda-feira) foi um passeio da operação Lava Jato. Além do próprio ministro que é citado, Aguinaldo Ribeiro, Manoel Júnior e Cássio Cunha Lima. A foto deixou uma manchete pronta: ‘operação Lava Jato visita obra de viaduto em João Pessoa!’.

E nada mais precisaria dizer: a lama que a Lava Jato extrai das profundezas da corrupção que a operação mapeia, persegue e golpeia já diz tudo. É de se repetir: a Paraíba não precisa dessa lama. Que não dá para esconder com um desmentido qualquer.

OPERAÇÃO: A DIMENSÃO

O Ministério Público Federal informa que “a operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa dos R$ 10 bilhões relativos a propina paga a políticos”. E prossegue: “O volume do desvio deve chegar a R$ 40 bilhões. Soma-se a isso a expressão econômica e política dos suspeitos de participar do esquema de corrupção que envolve a companhia. De acordo com investigações e delações recebidas pela força-tarefa da Lava Jato, estão envolvidos os maiores partidos do Brasil, como PP, PT e PMDB, além de empresários e outros políticos de diversos partidos, como o PSDB”.

SÓ PENSA NAQUILO

Esta sinalização de Anísio quanto aos paraibanos citados pela operação desvela um cenário que se evidencia cada vez mais. A oposição ainda não foi capaz de apresentar uma agenda concreta de enfrentamento da crise que atenda a necessidades urgentes da Paraíba.

Por enquanto, está enredada no novelo de denúncias que atingem diretamente o PMDB do senador José Maranhão e do deputado Manoel Júnior, sem poupar o PSDB do senador Cássio Cunha Lima, principal artífice dessa visita da confraria da Lava Jato ao Viaduto do Geisel. Além disso, eles só pensam naquilo: as próximas eleições.

O que essa oposição conseguiu de mais relevante até agora foi estruturar uma narrativa de destrutividade que tem o objetivo imediato de atingir diretamente a imagem do governador Ricardo Coutinho, o governante melhor avaliado no Brasil. É triste essa constatação: mas é fato.

O esforço concentrado que desemboca em mentiras, enganos e desenganos decorre de uma circunstância: ampliam-se as especulações de que o paraibano poderá ser opção do PSB para disputar a Presidência da República. Uma perspectiva que a confraria da Lava Jato jamais admitirá.

(Reproduzido de o jornal A União, 02/11/2016)