O Natal de 2020 como todo o ano será bem atípico. As autoridades sanitárias têm pedido para que sejam evitadas as aglomerações, reuniões e outros encontros bem presentes na cultura brasileira nessa época do ano. Isso não impede que façamos nosso pedido bom velhinho. Cabe-nos ainda refletir nesse momento o que se espera para o ano vindouro. Quais os desafios e principalmente o impacto na população após a Pandemia? A economia é uma das áreas mais afetadas. Hoje trago o tema Emprego e Renda como desafio para 2021.
Ao pensarmos em emprego e renda, nos deparamos com uma equação complexa, não trivial para ser resolvida. Dados de outubro/2020 do CAGED apontam que foram gerados na Paraíba 1.437 postos de trabalho, o que representa um crescimento de 0,35%, ou seja, houve mais admissões do que demissões. Entretanto para que tenhamos novos empregos, precisamos de empresas crescendo ou se instalando no nosso Estado. Imaginem o que é necessário a um investidor, uma atividade, que se tenha mão de obra capacitada e um mercado consumidor desse produto/serviço, capaz de absorver sua produção. Sem essa equação planejada, será em vão qualquer investimento. A Paraíba têm atrativos e diferenciais. Um deles é a localização privilegiada, tendo Recife-PE a 120km, Natal-RN a 186km e Maceió-AL a 375km. Entretanto essa proximidade gera desafios ao poder público, especialmente no processo de atração de novos empreendimentos, mas que possa gerar oportunidades, especialmente com centros de distribuição e logística.
A Companhia de Industrialização da Paraíba – CINEP é responsável por essa política de “vender” a Paraíba aos investidores. Segundo dados da CINEP nosso estado é o segundo maior produtor e exportador de calçados do Brasil. Aqui são produzidos aproximadamente 200 milhões de pares por ano. Porém preocupa o anúncio da Alpargatas, em setembro último, de venda da Mizuno Brasil para Vulcabras, o que fará parte da produção de calçados migrar da Paraíba para o Ceará. Destaca-se o setor têxtil, como segundo maior empregador do Nordeste com cerca de 10 mil trabalhadores. Poderia ser uma saída atuar na atração de empresas têxteis, dado o potencial da mão de obra. Somos abundantes em minérios, a Paraíba dispõe de um solo rico em calcário, o que lhe dá o status de um dos maiores produtores de cimento do Brasil, com quatro fábricas em atividade. Lembro ainda o nosso potencial cerâmico. Outra vertente é o turismo, nessa linha o Governo do Estado tem investido para captar empresas do ramo turístico, especialmente com a retomada do Polo turístico do Cabo Branco, fortalecimento do Centro de Convenções, entre outras iniciativas. Atualmente o Polo Cabo Branco encontra-se com terceira etapa aberta com três lotes; dois para hotéis/resorts e um shopping a céu aberto.
A região metropolitana de João Pessoa, necessita de um aumento na atração de novas empresas, unindo por um lado, a capacidade da nossa mão de obra, especialmente no seguimento industrial onde faz-se necessária ação de retomada dos espaços ociosos em nossos distritos industriais para que possam ser oferecidos a outras empresas, daí o importante papel do Governo do Estdo e da CINEP por uma busca de novos horizontes. Aqui elenco alguns: Lado Sul – fomentar as satélites do polo Automotivo da JEEP – Goiana-PE, do Lado Norte ainda temos espaço para aumento da produção de cana-de-açúcar e outros produtos agrícolas que podem ser agregados à cultura.
Nos aspectos municipais, vejo que João Pessoa precisa destravar o ExtremoTec, aproveitando todo o potencial formador da UFPB e do IFPB, sem falar na UFCG. Estas instituiuções promovem uma capacitação diferenciada aos jovens na área de Informática e Tecnologia da Informação. É imperativo uma ação do Sistema S, especificamente SENAC, na formação e capacitação voltada aos ramos do turismo, comércio e serviços. Os investimentos no Polo Turístico do Cabo Branco demandarão profissionais qualificados, principalmente nessas áreas.
Um caminho possível seria buscar a união de esforços visando a construção de um Parque Tecnológico, que possa atrair o potencial existente nas Universidades, Institutos, Centro Universitários e Faculdades, especialmente com startup’s. Elenco as áreas de ponta que tem-se nesse ecossistema: nas engenharias – a mecânica, na elétrica – energias renováveis, civil – materiais, essa última interagindo nas diversas áreas na cerâmica, cimentícia e biomateriais. A farmácia, a biotecnologia e química atuando em fármacos e alimentos, bem como combustíveis, as mídias digitais conjuntamente com a informática e o design resultando na economia criativa e tantas outras que dispomos de pessoal qualificado, pesquisas de ponta que podem resultar em novos empreendimentos.
Não é fácil motivar esse sistema, porém devemos dar o passo. Relato, abaixo, quatro destaques que cabem ao poder público:
a) Simplificar o processo de abertura das empresas e a concessão de alvarás, dotando de serviços automatizados, unindo estado, municípios da região metropolitana e governo federal, criando um terreno fértil para o nascimento de empresas capazes de dinamizar a economia local.
b) Atuar na melhoria da infraestrutura, resolvendo especialmente pontos como vias de escoamento e melhorias na malha viária, bem como atuar no porto de Cabedelo, promovendo a atração de empresas que operem nas áreas não utilizadas, ou mesmo subutilizadas do entorno com manutenção periódica do calado que propiciará entrada de navios de grande porte.
c) As universidades, institutos, centros universitários e faculdades precisam integrar esse grande ecossistema de ciência e tecnologia, sem se eximir da responsabilidade de formar uma massa crítica, com alto nível e desempenho diferenciado, motivando o empreendedorismo e a vontade de vencer, para além, unindo o serviço público com o serviço privado.
d) Atração e fomento financeiro, por meio de fundos capazes de financiar ações de empreendedorismo e startups que se destaquem e possam gerar emprego e renda em nosso estado.
- Texto: João Marcelo Alves Macêdo
- Professor e pesquisador da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)