Opinião: em período de ‘janela’, deputado decide se deve ficar ou não no PSD

Qual é a força de João? 
Por Edilane Ferreira

Quando alguém se surpreende com o que acontece na própria casa ou sequer é informado da rotina dela, após a desilusão, a primeira atitude é arrumar as malas e partir. Essa é a situação vivida pelo deputado estadual João Gonçalves dentro do PSD, desde o ingresso do prefeito Luciano Cartaxo e sua trupe.

O partido tem apenas dois deputados na Assembleia Legislativa e João é o de maior densidade eleitoral na capital paraibana. Ainda assim, isso não foi levado em consideração pela cúpula do PSD paraibano, na hora de “costurar” as alianças e conseguir novas adesões à sigla.

Dentro do PSD, há meses João diz que permanece à margem do que é discutido e decidido. O deputado, até agora, espera por aquela “tal conversa” entre ele e Rômulo, avisando-o da filiação de Cartaxo. Vale também recordar que João não figura na foto da filiação de Cartaxo. Ele não estava lá. Ele ficou sabendo do novo reforço na legenda apenas com a imprensa.

O que faz o PSD e Cartaxo ao ignorar um parlamentar que obteve mais de 34 mil votos nas últimas eleições, que foi vereador por três mandatos consecutivos em João Pessoa e agora já está no quarto mandato na ALPB?

Talvez, Cartaxo não seja tão afeito a João e isso pode ser visto pela luz da história entre ambos. Apesar de João ser conhecido como um político de “todas as bases”, os dois na grande maioria das vezes, estiveram em posições antagônicas.

Os dois já foram colegas na Câmara Municipal, entre 1996 a 2002, mas ambos em partidos rivais. Cartaxo ainda era petista e João traçava sua trajetória política naquele tempo por três partidos: o extinto PFL, o PDT e o PSDB.

Do tempo de experiência em cargos eletivos, João tem apenas quatro anos a mais do que Cartaxo. Olhando rapidamente os dados do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB), os dois disputaram eleições para os mesmos cargos entre 1996 a 2010, ora para Legislativo Municipal, ora para o Estadual.

Nestas eleições, João sempre teve votações mais expressivas do que Luciano Cartaxo. Enquanto em 1996 o atual prefeito se elegia com apenas 1.461 votos como vereador de João Pessoa, João obteve um pouco mais de 4,6 mil. Para deputado, a diferença pró-João foi de aproximadamente 1 mil votos. Ou seja, os números provam que o apoio de João pode agregar.

Talvez, Cartaxo não tenha percebido o quanto corajoso e destemido João pode ser e apenas se recorde da derrota de João nas urnas da Capital, em que foi adversário de Ricardo Coutinho, em um cenário em que o socialista pleiteava a reeleição na Prefeitura de João Pessoa e com excelente aprovação popular. O que as urnas também confirmaram: João obteve menos de 25%. Também, pudera, João foi abandonado por Cássio e os demais tucanos. Arcou com a conta sozinho, sem apoios, “caminhando contra o vento, sem lenço nem documento”, como um dia Caetano Veloso cantou.

Com todo esse histórico, o que faria o prefeito Luciano Cartaxo isolá-lo no PSD? Por que João permanece na base do governador Ricardo Coutinho?

João, com cara de desalentado, tem dito que integra a base dos dois gestores, mas ressalta que não é convidado para reuniões do PSD, que não participa mais das decisões.

Enquanto ele espera algum aceno do PSD, João tem sido visto em eventos do Governo do Estado, como a apresentação do projeto do Parque Parahyba à população do Bessa, ao lado do seu xará João Azevêdo, pré-candidato do PSB à Prefeitura de João Pessoa. Dizem que a última aparição de João em evento da gestão Cartaxo foi quando o prefeito ainda era petista…

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Assistindo a apresentação de João Azevêdo…
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… na solenidade de entrega da UPS do bairro das Indústrias.

Para além dos eventos da gestão estadual, recentemente, João também compôs a mesa de um encontro de pré-candidaturas do PSB. Na ocasião, enquanto o governador soltava cobras e lagartos contra a gestão de Cartaxo, João compartilhava das risadas do público. Público este que ele denominou como o “verdadeiro povo”.

Não sabemos aonde Cartaxo e o PSD querem chegar. O que sabemos é que estamos em período de janela eleitoral e o modesto e quieto João pode surpreender. Qual seria a força de João? Talvez, Cartaxo ainda não saiba. Mas o eleitorado de João Pessoa e as urnas do TRE, certamente, sabem que força é essa.