Na última terça-feira (3) foi deflagrada a operação Xeque-Mate, com objetivo de desarticular um esquema de corrupção na administração pública do município de Cabedelo, localizado na região da Grande João Pessoa. A operação moveu algumas peças na gestão da cidade e modificou, rapidamente, a administração da cidade.
Além disso, alguns vereadores que haviam sido escolhidos na eleição passada, foram presos ou afastados, com novos nomes assumindo as cadeiras da Câmara. O G1 consolidou todas as informações essenciais para entender o que aconteceu em Cabedelo e como a cidade fica a partir de agora.
O que é a operação?
A operação Xeque-Mate tem o objetivo de desarticular um esquema de corrupção na administração pública de Cabedelo, na Grande João Pessoa, mais precisamente na Câmara Municipal e na Prefeitura. A ação foi coordenada pela Polícia Federal, em conjunto com o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba.
Delação deflagrou ‘Xeque-Mate’
A operação Xeque-Mate foi desencadeada a partir de uma colaboração premiada do ex-presidente da Câmara de Cabedelo, Lucas Santino. O parlamentar teria procurado a PF espontaneamente e, por não ter acesso a provas, a investigação foi iniciada. Ao ex-vereador Lucas Santino foi oferecida a extinção da pena de alguns crimes. Ele informou à Polícia Federal que o prefeito de Cabedelo forçou uma CPI para atrapalhar o trabalho do ex-presidente da Câmara. Ele confessou à PF que cometeu os crimes apontados na CPI, mas alegou que outros foram cometidos por colegas.
Mandados cumpridos
A Polícia Federal cumpriu 11 mandados de prisão preventiva, 15 sequestros de imóveis e 36 de mandados busca e apreensão expedidos pelo Tribunal de Justiça da Paraíba. Além dos mandados, a Justiça decretou o afastamento cautelar do cargo de 85 servidores públicos, incluindo o prefeito e o vice-prefeito de Cabedelo, e o presidente da Câmara Municipal. Todos os 11 alvos de mandados de prisão foram detidos.
Lista dos alvos dos mandados de prisão
- Wellington Viana Franca (Leto Viana) – Prefeito
- Jacqueline Monteiro Franca (PRP), esposa de Leto – Vereadora e vice-presidente da Câmara
- Lúcio José do Nascimento Araújo (PRP) – vereador e presidente da Câmara
- Tércio de Figueiredo Dornelas Filho (PSL) – vereador
- Rosildo Pereira de Araújo Júnior, “Júnior Datele” (PEN) – vereador
- Antônio Bezerra do Vale Filho, “Antônio do Vale” (PRP) – vereador
- Marcos Antônio da Silva dos Santos
- Inaldo Figueiredo da Silva
- Gleuryston Vasconcelos Bezerra Filho
- Adeildo Bezerra Duarte
- Leila Maria Viana do Amaral
Vereadores de Cabedelo afastados
- Josué Góes (PSDB)
- Belmiro Mamede (PRP)
- Rogério Santiago (PRP)
- Rosivaldo Galan (PRP)
- Moacir Dantas (PP)
Prefeito chefe do esquema
O prefeito afastado e preso de Cabedelo, Leto Viana (PRP), foi identificado como líder da organização criminosa. O coordenador do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba, Octávio Paulo Neto, afirmou que Leto coagia os vereadores para tomarem decisões que ele quisesse.
Leto Viana determinava as ordens a serem seguidas e os demais agentes políticos seguiam. Para coagir os vereadores e manter a Câmara sob seu poder, Leto Viana exigia que os vereadores, ainda durante o período de campanha, entregassem cartas de renúncia do mandato para ele. De posse das cartas de renúncia, Leto Viana mantinha o vereador sob seus interesses e caso o vereador discordasse de suas posições, o prefeito protocolaria a carta de renúncia e o vereador perderia o mandato.
Logo após a posse, Leto Viana saiu no carro do empresário Roberto Santiago, que também é investigado na ‘Xeque-Mate’ (Foto: Kleide Teixeira/Jornal da Paraíba/Arquivo)
Empresários envolvidos no esquema
Equipes da Polícia Federal também cumpriram mandado de busca e apreensão na casa do empresário Roberto Santiago, em João Pessoa. Segundo a PF, há indícios de que houve a compra de vereadores de Cabedelo para impedir a construção do shopping Pátio Intermares.
A Polícia Federal informou que existe um forte indício de que Leto Viana tenha comprado seu mandato em 2013 com a ajuda do empresário Roberto Santiago. Segundo o delegado Fabiano Emídio Lucena, o então prefeito eleito, Luceninha (PMDB) havia recebido uma quantia que pode ter variado entre R$ 2 milhões a R$ 5 milhões para renunciar do seu mandato e permitir que seu então vice-prefeito, Leto Viana, assumisse o poder.
O que dizem as defesas
Prefeitura de Cabedelo: A Prefeitura de Cabedelo informou, por meio de nota, que recebeu a notícia da investigação em andamento com “calma”, e garante o pleno funcionamento da máquina pública, sem prejuízo à população. “Seguimos confiando na Justiça e aguardando determinações judiciais”, diz o texto.
Roberto Santiago: “Não tenho nada a declarar, só vim prestar minha solidariedade ao amigo Roberto Santiago, empresário respeitado, bem quisto e de boa índole. Vamos nos reunir no shopping e a partir daí, ficar a par do que está acontecendo e o que será feito de nossa parte”, explicou o advogado do empresário, Marcos Pires.
Desvios milionários
- Grupo envolvido na operação desviou, pelo menos, R$ 30 milhões
- R$ 4,8 milhões utilizados em cargos fantasmas; cada funcionário recebia até R$ 20 mil e entregavam a maior parte para as autoridades locais, ficando de fato com valores residuais
- O prefeito afastado, inicialmente eleito como vice-prefeito em 2012, teria pago R$ 4,5 milhões ao ex-prefeito Luceninha para assumir o mandato
- Na aquisição de imóveis nos últimos cinco anos, um agente político envolvido movimentou mais de R$ 10 milhões à margem do sistema financeiro oficial
Cabedelo tem prefeito interino e 10 suplentes
Vitor Hugo Casteliano (PRB) foi eleito presidente da Câmara de Cabedelo. Consequentemente, o parlamentar assumiu a prefeitura do município interinamente. Além da nova composição da mesa diretora, dez suplentes de vereadores tomaram posse. Com a nova composição, assumiu a presidência da Câmara a vereadora Geusa Ribeiro (PRP). A mesa diretora ainda fica composta pelo primeiro vice, Divino Felizardo (PRP), pelo segundo vice Janderson Brito (PSDB) e pelo primeiro secretário, Valdir Silva. A decisão é provisória, até que a situação dos parlamentares eleitos seja definida.
Saiba como denunciar
Mais de 300 denúncias já foram realizadas ao Ministério Público da Paraíba (MPPB) relacionadas à operação Xeque-Mate, desde o cumprimento dos mandados de prisão na Paraíba.
Qualquer pessoa pode enviar, com garantia de anonimato, informações relevantes, fotos, vídeos e documentos que possam ajudar o Gaeco a aprofundar as investigações relacionados à organização criminosa que atuava no município de Cabedelo, mais precisamente na Prefeitura e Câmara de Vereadores. Para isso, basta acessar o hotsite criado para o recebimento das denúncias.
G1.