Operação Cartola: delegado afirma que árbitros receberam até R$ 50 mil por jogo

Alguns árbitros de futebol que atuaram no Campeonato Paraibano de 2018 podem ter recebido até R$ 50 mil por jogo para favorecer equipe A ou B durante o curso da competição.

É o que destaca, em matéria de capa, a edição desta quinta-feira do jornal  Correio da Paraíba, que repercute  entrevista do delegado Lucas Sá, responsável pela investigação da Operação Cartola, desencadeada pela Delegacia de Defraudações e Falsificações da Polícia Civil e pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba. Supostas irregularidades no futebol paraibano, como manipulação de resultados, estão sendo investigadas desde o início da temporada.

Ao periódico, Lucas Sá afirmou que há comprovações que os clubes que melhor tiveram um desempenho no certame deste ano foram favorecidos diretamente.

“O que a gente pode dizer é que tem episódios com fortes indícios de que os clubes que foram favorecidos tiveram melhor desempenho. Isso desde o início do campeonato até as fases decisivas. De fato, esse favorecimento foi decisivo para que os clubes tivessem um bom resultado no campeonato. É um fato”, declarou.

As figuras mais importantes no esquema criminoso, segundo o delegado, eram os árbitros. Com o apito na boca, eles podiam decidir uma partida em favor de quem pagasse. Esse favorecimento, aliás, vinha em troca de algo: ou uma quantia em dinheiro ou favores futuros.

“Os árbitros, pelo que foi informado, recebem de R$ 250 até R$ 1 mil oficialmente, por partida. De forma legal. Seja da FPF ou CBF. Existem maneiras que o árbitro poderia receber para ajudar um clube. Ou ele recebia valores, dinheiro para ajudar o clube, ou ele receberia favores, que era o fato de ser escalado para mais partidas, com mais frequência e isto faria com que ele ganhasse número de partidas, visibilidade e ganhava pontuação do ranking da CBF ou Fifa. Em termos de valores, se fosse um jogo regular que não tivesse nenhum caráter decisivo, receberia em média R$ 10 mil. Se fosse um decisivo, de R$ 30 a R$ 50 mil só para aquela partida. Isso foi o que os próprios árbitros denunciaram aqui, que eram os valores que teriam sido oferecidos a eles”, detalhou.

Por conta do sigilo das investigações, o delegado não pôde falar os nomes dos clubes envolvidos. Segundo ele, todos os dirigentes de times da primeira divisão do futebol da Paraíba são investigados. Vale lembrar que a edição 2018 do Campeonato Paraibano teve como campeão e vice-campeão, respectivamente, Botafogo-PB e Campinense.

Além dessa declaração, o delegado revelou uma série de irregularidades cometidas no futebol paraibano na edição deste ano do Estadual. Ele ressaltou ainda que há indícios que as fraudes aconteciam há pelo menos dez anos, porém, pelo fato das investigações terem começado efetivamente a partir de janeiro de 2018, as provas concretas referem-se ao campeonato mais recente.

São várias as irregularidades cometidas pelas pessoas investigadas que, além dos dirigentes, compreendem ainda a Federação Paraibana de Futebol (FPF), a Comissão de Arbitragem da FPF, o Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba (TJDP) e árbitros de futebol. Dentre as fraudes, estão a participação de pessoas que usaram o esporte como trampolim para a política, compras de jogos, árbitros vendendo o mesmo jogo para os dois times adversários, entre outras.

Segundo o delegado, a ligação do futebol com a política está no tocante a uma suposta vantagem nas urnas, relacionada ao desempenho do clube do dirigente que está tentando uma vaga na poder público.

“O que tem de vínculo politico até agora é que alguns dos dirigentes já se candidataram a cargos políticos e alguns deles já foram eleitos. Quando o clube tem um resultado bom, a torcida fica eufórica e o dirigente ganha um prestígio enorme por ter sido campeão naquele clube. É quase como se dissesse: fui campeão com o clube e vou ser um bom político. Infelizmente, é como se estivesse feito esse vínculo e eles acabam ganhando esse favorecimento. Alguns deles foram eleitos e basicamente usaram do bom desempenho que tiveram no futebol para ganhar votos e conseguirem se eleger. Depois que eles ocupam esses cargos políticos, se eles fizeram alguma coisa para beneficiar o clube deles, isso até agora não temos”, disse. Do Correio da Paraíba.